Economia: A maior central fotovoltaica do Norte está instalada em Tó (Mogadouro)

Economia: A maior central fotovoltaica do Norte está instalada em Tó (Mogadouro)

O grupo suíço Smartenergy/Edisun Power investiu 25 milhões de euros, na construção da maior central fotovoltaica do norte, instalada em Tó, no concelho de Mogadouro, com uma potência instalada de cerca 49 megawatts que está já em laboração.

“Este é o maior projeto do seu género no Norte de Portugal. Trata-se de uma zona pouco trabalhada no que respeita a instalação de parques fotovoltaicos, face ao sul dos pais, que está mais explorada”, disse Fernando Ribeiro, diretor de construção de empreendimento solar.

Para o responsável, a proximidade da rede elétrica nacional foi também um fator deste investimento de 25 milhões de euros.

A unidade de produção foi visitada por elementos da Câmara e Assembleia Municipal de Mogadouro.

A central fotovoltaica é composta por 120.960 painéis solares, que ocupam uma área de 68 hectares, na freguesia de Tó, no concelho de Mogadouro.

“Trata-se de um projeto sustentável que não vai alterar a orografia do terreno e, após o tempo útil da central fotovoltaica, poderá ser de novo ser cultivado, já que não há movimentações de solos. O impacto visual também é mínimo”, concretizou o diretor de operações do projeto.

A criação destas infraestruturas servem, também, como zonas tampão para a prevenção de incêndios florestais.

No pico da obra trabalham na sua construção cerca de 250 pessoas, onde mais de 60 eram do concelho de Mogadouro o que contribuiu para o desenvolvimento económico deste território em tempo de pandemia.

Para o presidente da Câmara de Mogadouro, Francisco Guimarães, a construção da central é o maior investimento privado no concelho de Mogadouro na última década.

“Foi um investimento considerável em tempo de pandemia, tendo sido uma alavanca, durante este período, para a economia local. A construção deste empreendimento ajudou famílias e o tecido empresarial e comercial do concelho com o fenecimento de bens e serviços”, indicou o autarca.

Esta unidade criou cinco postos de trabalho permanentes no concelho de Mogadouro.

A unidade de produção de energia solar pode gerar “85 a 86 Gigawatts de eletricidade, anualmente”, o suficiente para suprir as necessidades de um núcleo urbano de 7116 habitações e abastecer cerca de 30.000 agrados familiares.

Para os promotores do projeto, “outros dos objetivos passa por colocar o concelho no pelotão da frente, para contribuir para que o país se torne energeticamente mais sustentável, via contributo das energias renováveis – solar, e ajude a chegar às metas traçadas pelo país ao abrigo do Plano Nacional de Energia”, vincou o grupo Smartenergy/Edisun Power.

Segundo o grupo empresarial, com este projeto “há uma contribuição inequívoca no combate às alterações climáticas, pois irá evitar emissões de aproximadamente 31 mil toneladas de dióxido de carbono (CO2) por ano e gerar uma produção anual de energia suficiente para abastecer cerca de 7.100 habitações”.

A Smartenergy/Edisun Power adiantou igualmente hoje ter outro projeto de 23.4 megawatts para o concelho de Mogadouro (Mina Tó), também na freguesia de Tó, que deverá arrancar no próximo mês de junho com investimento previsto de cerca de 15 milhões de euros.

Espera-se que, no pico da obra, esta unidade de produção possa dar trabalho a 150 a 200 pessoas, sendo que parte está reservada para a mão-de-obra local.

Também hoje foi assinado entre o município de Mogadouro e a Smartenergy um protocolo com vista a instalação de um parque municipal solar que ira abastecer de energia elétrica, vários equipamentos municipais desde o complexo desportivo até as escolas do primeiro ciclo.

“A construção deste novo equipamento deverá arrancar em junho, o que vai permitir economizar recursos que serão depois investido na ação social e no apoio às famílias”, disse Francisco Guimarães.

A Ignichoice Renewable Energy, S.A. é uma sociedade de direito português, constituída pelo grupo Smartenergy/Edisun Power (empresas suíças), que materializou o projeto Central Fotovoltaica de Mogadouro.

Lusa | HA

Entrevista: «Para gerar vida é necessário passar sempre pela morte» – Padre Manuel Marques

Entrevista: «Para gerar vida é necessário passar sempre pela morte» – Padre Manuel Marques

A Páscoa é a maior festa do calendário cristão, na qual recordamos a paixão, morte e ressurreição de Jesus. O padre Manuel Marques explicou-nos o significado da Páscoa, dizendo que para gerar vida é necessário passar sempre pela “morte”. À semelhança dos pais que, com a sua entrega, trabalhos e dedicação “morrem” um pouco todos os dias, para que os filhos tenham uma vida melhor.

O Padre Manuel Marques é pároco de Miranda do Douro. (HA)

Terra de Miranda – Notícias: Numa entrevista recente, o bispo da diocese de Bragança-Miranda, Dom José Cordeiro, referiu-se a este tempo de pandemia, que ainda estamos a viver, como um grande exercício de penitência e de conversão. Passado um ano a viver nesta situação, o que podemos aprender com a pandemia?

Padre Manuel Marques: Era suposto que esta situação pandémica nos levasse a refletir sobre o nosso estilo de vida. Mas aquilo que verificamos é que muita gente está desejosa que esta situação alivie, para voltar ao mesmo. Recordo que, quando a pandemia começou e obrigou o mundo a parar, houve cidades e zonas do globo que beneficiaram muito com isso. Por exemplo, ocorreu uma assinalável despoluição do ar, devido à paragem das grandes empresas de aviação, que por sinal, são a primeira causa da poluição atmosférica. Por isso, penso que temos que abdicar de um modo de vida desenfreado e consumista para enveredarmos por um estilo de vida mais sóbrio e ecológico, como o Papa Francisco nos recomenda na encíclica ‘Laudato Si’. O Santo Padre tem feito um apelo constante a uma mudança global para combater a degradação ambiental e as alterações climáticas. Mas para haver uma verdadeira mudança tem que haver uma verdadeira conversão individual e coletiva.

“Com o confinamento ocorreu uma assinalável despoluição do ar devido à paragem das grandes empresas de aviação, que é importante dizer, são a primeira causa da poluição atmosférica.”

T.M.N.: O Padre Manuel Marques também foi infetado com o coronavírus. Como viveu essa contrariedade?

P.M.M: Felizmente, vivi bem. O teste deu positivo, mas nunca tive sintomas. Estive dez dias de quarentena. E durante esse período recebi um testemunho maravilhoso e comovente da parte dos paroquianos. Estando eu em casa, as pessoas não deixaram que me faltasse nada. Traziam-me os alimentos que precisava para eu cozinhar e houve quem me trouxesse refeições já cozinhadas. Muitas vezes, abria a porta e tinha ofertas para recolher. Telefonavam-me constantemente, para saber se eu estava bem. Esta experiência levou-me a constatar que quando nos damos, acabamos por receber muito mais. Fiquei muito feliz com a atenção e o carinho recebido.

T.M.N.: Estamos a viver a Semana Santa e a celebrar os a Paixão e Morte de Jesus. O que é que Jesus nos quis ensinar com Sua entrega até à morte?

P.M.M: Jesus quis ensinar-nos que o amor de Deus por nós é tão grande, que vai ao ponto de dar o Seu próprio Filho para nos salvar, isto é, para nos ensinar a viver e a amar. Por isso, se seguirmos os passos de Cristo, se vivermos ao seu estilo, numa atitude de serviço e doação aos outros vamos ser felizes. Mas, se nos limitarmos a tratar só da nossa vidinha e dos nossos interesses, somos uns egoístas e não servimos para nada. Felizmente, com a pandemia foi possível ver tantas pessoas de boa vontade, cristãos e não cristãos, a ir ao encontro de pessoas e das famílias que passam por maiores dificuldades. Como cristãos, temos o dever de agir sempre assim.

“Se seguirmos os passos de Cristo, se vivermos ao seu estilo, numa atitude de serviço e doação aos outros, vamos ser felizes.”

T.M.N.: Porque razão, a Páscoa é considerada a maior festa do calendário cristão?

P.M.M: A Páscoa é a maior festa cristã, porque se Jesus não tivesse passado pela Paixão, Morte e Ressurreição, nós não estaríamos aqui, a conversar sobre isso. Jesus salvou-nos, não só pelo Seu nascimento e por ter vivido entre nós. Mas também pela Sua entrega no martírio e na morte. Para gerar vida é necessário passar sempre pela morte. Jesus explicou-nos isso ao dizer: “Se o grão de trigo lançado à terra não morrer, não dá fruto, não dá vida nova!”. Faço uma analogia com os meus trabalhos na horta: na altura de arrancar as batatas, de vez em quando, aparecia uma batateira sem batatas. Após cavar um pouco mais, encontrava a batata que lá tinha plantado, dura, empedernida, feia e ficava a pensar na parábola de Jesus. E dizia para comigo: “Jesus também percebia de agricultura! Esta batata não quis morrer e por isso não deu vida nova, não deu batatas”. O mesmo aconteceu connosco. Para nós termos vida, e vida em abundância, Jesus, teve que passar pela paixão e morte. Penso, também nos pais, que quando têm filhos, entregam-se, trabalham, dedicam-se, ou seja, “morrem” um pouco todos os dias, para que os filhos tenham uma vida melhor.

“Penso, também nos pais, que quando têm filhos, entregam-se, trabalham, dedicam-se, ou seja, ‘morrem’ um pouco todos os dias, para que os filhos tenham uma vida melhor.”

T.M.N.: Páscoa significa passagem. Inicialmente, foi a passagem do povo judeu da escravidão no Egipto para a liberdade, através da travessia do deserto, para a terra prometida. Com Jesus, a Páscoa passa a ser libertação de todas as escravidões, do pecado e da morte. O que é a Páscoa, afinal?

P.M.M: A Páscoa tem duas etapas. A primeira etapa é a tal passagem ou libertação do povo judeu do Egipto. É uma libertação física. Mas esta liberdade teve um preço, que o povo judeu não soube interpretar imediatamente. O viver em liberdade implica corresponsabilidade. Todos nós precisamos ser conscientes dos nossos atos e das suas consequências. Na passagem do Egipto para a Terra Prometida, Moisés, passou por muitas dificuldades para instruir e guiar aquela gente.

A outra etapa da Páscoa foi realizada ou completada por Jesus. Todos nós estamos sujeitos a cometer erros, a desenvolver vícios, até a cometer crimes, ou seja, a pecar. A passagem ou, liberdade, que Jesus nos trouxe foi da ordem espiritual. Quando conhecemos Jesus e aprendemos com o Seu exemplo, tornamo-nos verdadeiramente livres. E felizes!

“À partida, todos nós estamos sujeitos a cometer erros, a desenvolver vícios e até a cometer crimes, ou seja, a pecar. Jesus, com o Seu exemplo, veio ensinar-nos a viver e a libertarmo-nos de tudo isso.”

T.M.N.: Diz-se que ao longo da vida, cada um de nós está em permanente processo de ressurreição, pois à medida que vamos morrendo para o nosso egoísmo, vamos passando para Deus, até passarmos totalmente para Ele, através desse momento a que chamamos morte física. O egoísmo, o só pensar em nós mesmos, é a raiz de todos os males?

P.M.M: Sim, o egoísmo é a raiz do mal. Custa-nos muito entender que é dando-nos que recebemos. A nossa maneira de pensar é movida pela lógica do “toma lá, dá cá”. Até a própria relação com Deus é uma relação comercial ou contratual. Vamos à Igreja como vamos ao supermercado, pagamos e pronto! E não pode ser! Em Igreja, temos que aprender a darmo-nos gratuitamente uns aos outros. A construir relações, gratuitas, de amor uns pelos outros, à maneira de Jesus Cristo. E até a dar a vida uns pelos outros, como fez Jesus.

“Em Igreja, temos que aprender a darmo-nos, gratuitamente, uns aos outros. A construir relações, gratuitas, de amor uns pelos outros, à maneira de Jesus Cristo. E até a dar a vida uns pelos outros, como fez Jesus.”

T.M.N.: Nas Suas aparições como ressuscitado, Jesus, não é reconhecido de imediato, porquê?

P.M.M: É importante explicar que a ressurreição não indica regresso a este mundo de carne e osso mas entrada no Outro. Nas suas aparições, Jesus, já não sendo deste mundo comunica-se connosco. Por exemplo, nas aparições de Jesus aos apóstolos, eles só O reconhecem, através de sinais. Como, no encontro com os discípulos de Emaús. Estes dois discípulos iam desanimados e quando Jesus se aproxima e começa a falar com eles, não O reconhecem de imediato. Só à noite, quando Jesus repete os gestos da Última Ceia, com o partir do pão, é que O reconhecem. E a partir daí, entendem a nova Presença ou Vida de Jesus nas suas vidas. Os discípulos voltam a estar animados, isto é, cheios de ânimo (alegria) e regressam a Jerusalém para dar a boa notícia aos apóstolos. A Ressurreição é pois esta vida nova de Jesus. Já no monte Tabor, Jesus transfigura-se diante dos três apóstolos, para dar-lhes a conhecer como iria ser após a Sua Ressurreição. É o chamado Corpo Glorioso.

“É importante explicar que a ressurreição não indica regresso a este mundo de carne e osso mas entrada no Outro. Nas Suas aparições, Jesus, já não sendo deste mundo comunicou-se com os apóstolos. Mas nestas aparições, os apóstolos, só O reconhecem, através de sinais.”

T.M.N.: A Páscoa do ano passado foi celebrada em casa. Neste ano, as celebrações da Semana Santa vão poder ser celebradas com a participação da assembleia. Em Miranda do Douro, como vamos celebrar o Tríduo Pascal?

P.M.M: Tradicionalmente, quem organiza as celebrações da Semana Santa, em Miranda do Douro, é a Santa Casa da Misericórdia. este ano, todas as celebrações vão ser realizadas na Sé Concatedral. E o programa é o seguinte:

  • Dia 31 de março, Quarta-feira, às 21h, Eucaristia, em honra do Divino Senhor da Misericórdia;
  • Dia 1 de abril, Quinta-feira- Santa, às 21h, Missa da Ceia do Senhor, este ano sem o ritual do lava-pés;
  • Dia 2 de abril, Sexta- Santa, às 21h, Adoração da Cruz Redentora e o Enterro do Senhor, dentro da Sé Concatedral;
  • Dia 3 de abril, Sábado Santo, às 9h30, Laudes, na Capela de Santa Cruz. E Vigília Pascal em Genísio.
  • Dia 4 de abril, Domingo, às 11h00, na Sé Concatedral, vamos celebrar a Missa de Páscoa da Ressurreição do Senhor.

Perfil:

Padre Manuel Marques, nasceu no dia de São Miguel, Arcanjo, a 29 de setembro, em Vilarinhos das Azenhas, concelho de Vila Flor. Começou os estudos nos Claretianos do Imaculado Coração de Maria, nos seminários dos Carvalhos, em Fátima e no Cacém. Foi lá que aprendeu vários ofícios, como cozinhar, cultivar a horta, também aprendeu a ser alfaiate e sapateiro. Mais, tarde, decidiu escrever ao então Bispo da diocese de Bragança-Miranda, Dom Manuel Jesus Pereira, a perguntar se o aceitava no Seminário, em Bragança. O pedido foi aceite e ali concluiu o 12º ano. Depois, foi estudar para a Universidade Católica, em Lisboa. No decorrer dos estudos superiores viveu nos seminários do Patriarcado, primeiro em Almada e depois nos Olivais. Foi ordenado sacerdote, no dia 12 de setembro de 1982. No primeiro ano como padre, trabalhou no Seminário de São José, em Bragança, e simultaneamente assumiu as paróquias de Baçal, Sacoias e Vale de Lamas. Em 1983, veio trabalhar para a Terra de Miranda e foi pastor nas paróquias de Ifanes, Paradela, Constantim, Cicouro e São Martinho. Recordou que nesse tempo, as igrejas destas aldeias raianas enchiam-se de gente. Uma realidade que contrasta muito com a atualidade. De 1989 a 1998, foi chamado para trabalhar na formação dos jovens, no Seminário, em Vinhais. Seguiu-se depois outra missão, como pároco em Lamas de Podence, (Macedo de Cavaleiros), onde esteve outros dez anos. Em 2008, regressou à Terra de Miranda, para assumir as paróquias de Miranda do Douro, Ifanes, Paradela, Constantim, Cicouro, São Martinho, Especiosa, Genísio, Malhadas e Póvoa. Foi um regresso a casa!

HA

Reportagem: “Eu danço!”

Reportagem: “Eu danço!”

Os Pauliteiros de Malhadas têm mais de 100 anos! Ao longo de gerações e gerações, estes grupos de dança tradicional foram exclusivamente constituídos por homens. Mais recentemente e graças à ousadia das mulheres, a dança tradicional dos pauliteiros ganhou uma nova vida, pois as pauliteiras vieram acrescentar alegria e cor à cultura da Terra de Miranda.

As pauliteiras de Malhadas. (PM)

O pai, Hélder Igreja, sempre achou que a dança dos pauliteiros era coisa de homens. Até ao dia, em que foram chamados para uma atuação inesperada, em Moura, no Alentejo. Para a dita atuação havia sete pauliteiros disponíveis. Mas faltava um para completar a formação de oito. A filha, Micaela Igreja, que já participava no trio musical, ao tocar gaita-de-foles, disse: “Eu danço!”. Dançou na posição de guia e dançou muito bem! Foi graças à dança da Micaela que o pai começou a ensaiar o primeiro grupo de pauliteiras de Malhadas. E já lá vão 11 anos! A dançar!

Enquanto a dança dos rapazes é enérgica e os paus batem-se com mais força. A dança das raparigas é mais graciosa e elegante. Por vezes, eles e elas dançam juntos. E entendem-se bem. Nos ensaios, quando falta alguém é normal ver um pauliteiro ou uma pauliteira a dançar no outro grupo. Até porque, dizem, os “llaços”, ou seja, as músicas, são as mesmas. Os pauliteiros são tão estimados na aldeia, que lhes dedicaram mesmo uma escultura em ferro, feita com materiais agrícolas e que se encontra exposta num dos largos da aldeia, a que chamam, o largo do pauliteiro. O renovado interesse por esta dança tradicional é tal, que até as crianças já dançam nos grupos dos “pauliteiricos”.

“Enquanto a dança dos rapazes é enérgica e os paus batem-se com mais força. A dança das raparigas é mais graciosa e elegante.”

https://youtu.be/cqaNnoTDfLE

O(a)s Pauliteiro(a)s são um grupo constituído por 8 dançadore(a)s, cada qual com a sua posição: 4 guias nas pontas (duas direitas e duas esquerdas); e 4 peões no meio (dois direitos e dois esquerdos). É o guia direito, mais perto do trio tocador, quem comanda o grupo.

Tornam-se pauliteiras e conhecem o mundo!

Com a dança, as jovens pauliteiras têm a possibilidade de, em grupo, conhecerem outros países e culturas. Entre as muitas viagens e atuações já realizadas, o Hélder destacou, por exemplo, a viagem à Venezuela. Ao longo de 10 dias, dançaram em locais como a embaixada de Portugal, a Praça Simon Bolívar ou o Centro Cultural de Caracas. Aí, conhecerem muitos emigrantes portugueses, sobretudo da Madeira e da região de Leiria. E até na longínqua Venezuela vieram a descobrir que se estava a formar um grupo de pauliteiros!

Para a Micaela, o mais gratificante nestas viagens é a oportunidade de mostrar a cultura da sua terra noutros lugares. Sobre estas viagens, diz que gostou de todas. Mas destacou Macau, pela oportunidade em conhecer outro continente. Disse que também gostou de ir a França. E em Portugal, recordou a viagem a Viana do Castelo, onde tiveram a possibilidade de ficar vários dias, o que lhes deu permitiu conhecer a região.

“Para a Micaela, o mais gratificante nestas viagens é a oportunidade de mostrar a cultura da sua terra noutros lugares.”

É viajando que nos visitam

A atuação dos pauliteiras noutros países e regiões acaba por trazer ganhos para a Terra de Miranda. Um bom exemplo são as capas de honra mirandesas. As pauliteiras dizem que quando usam as capas de honra, as pessoas ficam curiosas e muitas decidem comprar estas (e outras) peças de artesanato. Também há pessoas que decidem visitar a Terra de Miranda. E quando cá chegam descobrem que a cultura mirandesa não é só a dança dos pauliteiros e a música, é também a gastronomia, o artesanato, o património histórico, a língua, a natureza, as raças autóctones, os usos e costumes e sobretudo as gentes.

“A cultura mirandesa não é só a dança dos pauliteiros e a música, é também a gastronomia, o artesanato, o património histórico, a língua, a natureza, as raças autóctones, os usos e costumes e sobretudo as gentes.”

O(a)s pauliteiro(a)s dão vida à Terra de Miranda

Para além de embaixadores noutros países e regiões, os pauliteiros e as pauliteiras de Malhadas também são ótimos anfitriões para quem nos visita. Na cidade de Miranda do Douro, por exemplo, e à semelhança do que fazem os outros grupos de pauliteiros do concelho, é usual vê-las na receção aos turistas e na animação das ruas da cidade. Para além disso, são convidadas para atuar nas festas locais e regionais, em feiras temáticas, em casamentos, batizados e outras festividades. Para responder a todos estes convites, a associação cultural e recreativa de Malhadas adquiriu recentemente um novo transporte próprio, o que lhes facilita as deslocações.

“Na cidade de Miranda do Douro, por exemplo, e à semelhança do que fazem os outros grupos de pauliteiros do concelho, é usual vê-las na receção aos turistas e na animação das ruas da cidade.”

A associação cultural e recreativa

As pauliteiras e os pauliteiros de Malhadas fazem parte da Associação Cultural e Recreativa – Todas. Tal como acontece com a maioria das associações locais, também esta coletividade é um espaço de encontro, de convívio e de dinamização de atividades. Segundo Victor Córdova, presidente da associação, todos participam, direta ou indiretamente nas atividades. Sejam os filhos, os pais e mesmo os avós. É indiscutível que os pauliteiros e as pauliteiras de Malhadas são os grupos mais conhecidos da associação local. Contudo, o dinamismo desta coletividade deve-se também ao contributo de outros grupos, como são o grupo da gastronomia, o do teatro e o grupo das caminhadas.

No dia de Páscoa, por exemplo, o grupo de gastronomia confeciona o folar comunitário e os sodos (são os conhecidos bolos económicos) para partilhar com toda a comunidade. Reza a tradição, que após a missa da Ressurreição do Senhor, são benzidos pelo senhor padre, para depois serem oferecidos no adro da igreja, num ambiente de convívio e de confraternização.

Outra atividade, promovida pela associação cultural e recreativa, é organizada pelo grupo das caminhadas. No primeiro Domingo de maio, já é tradição caminhar até à Aldeia Nova, por ocasião da festa de São João das Arribas. No decorrer desta peregrinação comunitária, os participantes para além de contemplarem a beleza das paisagens, no planalto mirandês, aprendem também a conhecer a flora e a fauna da região.

No mês de agosto, a associação realiza o festival de folclore de Malhadas, que conta habitualmente com a atuação de grupos nacionais e internacionais, e que em conjunto com os pauliteiros e as pauliteiras locais, embelezam a festa da aldeia.

São todas estas atividades, por norma realizadas em grupo, o que mais anima as pessoas a agir contra o despovoamento desta região e a acalentar a esperança de que é possível continuar a viver na Terra de Miranda.                                                                               

“Tal como acontece com a maioria das associações locais, também esta coletividade é um espaço de encontro, de convívio e de dinamização de atividades. Segundo Victor Córdova, presidente da associação, todos participam, direta ou indiretamente nas atividades. Sejam os filhos, os pais e mesmo os avós.”

HA

Política: Movimento Terra de Miranda exige sede da concessionária das barragens no território

Política: Movimento Terra de Miranda exige sede da concessionária das barragens no território

O Movimento Cultural Terra de Miranda (MCTM) reivindicou que a sede social da empresa que comprou as seis barragens transmontanas, por 2,2 mil milhões de euros na bacia hidrográfica do Douro, deve ficar no território onde estão instaladas.

“Foi anunciado, quer pelo ministro do Ambiente, quer pela própria empresa concessionária das seis barragens que a sede operacional da empresa ficaria na Terra de Miranda. Eu não sei o que é uma sede operacional. A sede administrativa é o referencial para o pagamento de impostos”, disse Aníbal Fernandes, um dos membros do MCTM.

Em comunicado, o MCTM refere que “a Movhera 1 – Hidroelétricos do Norte é a empresa detida pelo consórcio francês, liderado pela Engie, que comprou as seis barragens no rio Douro à EDP, por 2,2 mil milhões de euros e tem a sede no Porto e não em Trás-os-Montes”.

Para o MCTM, tal sugere que a Movhera 1 “só pretende tirar proveito da riqueza gerada na Terra de Miranda pelos nossos recursos naturais e não está interessada em comprometer-se com o desenvolvimento da região”, o que “é incompreensível”.

O Movimento insta o Governo a que obrigue a Movhera 1 a cumprir a condição da qual o próprio Governo fez depender a sua autorização de venda das barragens, que é a instalação da sua sede na Terra de Miranda.

Aníbal Fernandes disse que se está a utilizar “a semântica para tirar o mais possível da Terra de Miranda, destas três barragens que são muito rentáveis [Miranda do Douro, Picote e Bemposta].

“Querem levar todos os dividendos e apenas deixar os impactos ambientais negativos resultantes da construção deste três empreendimentos hidrelétricos”, criticou.

Para o MCTM, a Terra de Miranda vai continuar a ser espoliada, não só da imensa riqueza produzida pelos seus recursos, como também de milhões de euros em receitas fiscais, incluindo as provenientes dos impostos municipais.

“É inaceitável, já que essas receitas resultam da riqueza gerada com a exploração dos aproveitamentos hidroelétricos do Douro”, frisou.

Para o MCTM, o negócio devia ter-se traduzido em 110 milhões de euros em impostos, a entregar às regiões abrangidas pelas barragens na bacia hidrográfica do Douro.

“O Governo deve 110 milhões de euros à Terra de Miranda (Miranda do Douro, Mogadouro e Vimioso) provenientes do imposto de selo gerado pela transação”, justificou Animal Fernandes.

Em 13 de novembro de 2020, foi anunciado que a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) tinha aprovado a venda de barragens da EDP (Miranda, Bemposta, Picote, Baixo Sabor e Foz-Tua) à Engie.

A EDP concluiu, em 17 de dezembro, a venda por 2,2 mil milhões de euros de seis barragens na bacia hidrográfica do Douro a um consórcio de investidores formados pela Engie, Crédit Agricole Assurances e Mirova.

A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) disse a 23 de março ter solicitado à Parpública a análise das condições contratuais, nomeadamente as de natureza financeira, sobre a venda de barragens pela EDP ao consórcio liderado pela Engie.

A Parpública não se pronunciou sobre a operação de venda das barragens na bacia do Douro pela EDP à Engie, segundo mostra a documentação enviada pelo Ministério das Finanças ao parlamento em resposta a um requerimento do BE.

Num parecer de 30 de julho de 2020, a APA considerou não estarem reunidas as condições para a realização da venda de cinco barragens na bacia do Douro, pela EDP, ao consórcio liderado pela Engie, propondo que fosse solicitado parecer jurídico.

A 23 de março, o Grupo Parlamentar do PS disse que ia chamar ao parlamento a diretora-geral da Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) a propósito da venda das seis barragens.

Lusa | HA

Pecuária: Cordeiro mirandês reinventa-se para a Páscoa

Pecuária: Cordeiro mirandês reinventa-se para a Páscoa

Os produtores de cordeiro mirandês garantem que se reinventaram para escoar este produto apreciado em tempo de Páscoa, mas continuam as quebras significativas no negócio e a concorrência é forte para um produto certificado.

Este ano, a Associação de Criadores de Ovinos de Raça Churra Galega Mirandesa (ACORCM), em parceria com o município de Miranda do Douro, no distrito de Bragança, estão a preparar iniciativas para a divulgação desta carne certifica com Denominação de Origem Protegida (DOP), tendo como ação principal a realização de um ‘Showcooking’, agendado para o dia 26, tendo em vista mostrar as potencialidades gastronómicas deste produto.

“A iniciava será feita com recurso às redes sociais onde o público poderá interagir e, desta forma, ficar com mais conhecimento para a confeção de pratos gastronómicos provenientes desta carne de qualidade superior e de uma forma não convencional”, disse à Lusa a secretária técnica da ACORCM, Andrea Cortinhas.

A demonstração gastronómica estará a cargo dos chefs Marco Gomes e Chacal.

Para a responsável, em pandemia de covid-19 esta é uma forma de promover um produto endógeno de grande valor económico e ao mesmo tempo mostrar todo o potencial gastronómico de uma carne com características organolépticas distintas, dando-lhe um toque de modernidade às suas mais diversas formas de confeção.

“Temos de aproveitar este tempo de vendas baixas provocadas pela pandemia que nos afetou há já dois períodos de Páscoa, sendo esta altura aquela em que mais cordeiro mirandês era consumindo”, vincou a responsável.

Agora, a esperança dos produtores de cordeiro mirandês está na retoma da restauração, para que estes produtos comecem a ser mais procurados e valorizados economicamente.

“Apesar da crise que o setor atravessa, não podemos estar parados e continuamos a valorizar o nosso produto”, vincou Andrea Cortinhas.

A secretária técnica disse que, por “experiência própria” e nesta altura de “crise”, os negociantes deste tipo de produto “aproveitam um pouco das fragilidades que o mercado atravessa neste momento, bem como as grandes superfícies comerciais”.

Contudo, para contrariar a especulação no negócio neste tipo de vendas, muitos produtores fazem-nas junto das suas explorações e poucos passam pela cooperativa de produtores.

“Esta carne é de qualidade excecional e o consumidor tem dado retorno disso mesmo. Apesar deste reconhecimento, até à data, destinados à Páscoa só temos encomendados 12 cordeiros, o que é muito pouco”, observou Andrea Cortinhas.

Esta situação tem-se vindo a agravar e, face à Páscoa de 2020, a situação “está bem pior”, apesar de terem sido implementadas várias plataformas de vendas ‘online’ para dinamizar o mercado deste produto.

Segundo dados avançados por Andrea Cortinhas, em período homólogo, a cooperativa ChurraCop – entidade responsável pela comercialização – vendeu cerca de 300 quilos desta carne certificada.

“Esta ano nem por sombra chegamos a estes valores. Está tudo muito pior devido ao cancelamento de diversos eventos promocionais, como as feiras gastronómicas e outros certames”, concretizou.

“Estamos a cerca de 15 dias da Páscoa e as perspetivas não são animadoras. Até ao momento há muito poucas encomendas. Isto é assustador. Se procurarem, neste momento, o cordeiro mirandês foi às grandes superfícies comerciais a preço mais baixo e como carne corrente”, lamentou a responsável.

A estratégia passa agora por convencer o mercado com várias iniciativas para alavancar as vendas e não criar impactos negativos num setor já fragilizado.

“Sabemos que os produtos alimentares continuam a ser procurados e esta é uma altura ideal para valorizar os produtos nacionais e certificados, e não dar preferência aos alimentos importados”, enfatizou Andrea Cortinhas.

O efetivo pecuário dos ovinos de raça Churra Galega Mirandesa ronda as 6.700 cabeças.

Lusa | HA

Entrevista: «A raça churra galega mirandesa contínua em vias de extinção» – Engenheira Andrea Cortinhas.

Entrevista: «A raça churra galega mirandesa continua em vias de extinção» – Engenheira Andrea Cortinhas

A criação de ovinos no planalto mirandês é uma atividade que tem contribuído para a fixação da população nas zonas rurais. Nestas aldeias, merece uma especial atenção a raça Churra Galega Mirandesa. São uns ovinos de pequeno porte, com lã abundante e que providenciam uma carne de qualidade. Mas, tal como todas as raças autóctones corre o risco de extinção, informou a engenheira Andrea Cortinhas, administradora da Cooperativa de Ovinos Mirandeses, CRL.

A engenheira Andrea Cortinhas é a administradora da Churracoop – Cooperativa de Ovinos Mirandeses, CRL

Terra de Miranda – Notícias: Porque se chama a esta raça de ovinos Churra Galega e Mirandesa?

Andrea Cortinhas: O nome “churra” deriva da lã grosseira, comprida e lisa que “veste” estas ovelhas. A designação “galega” remete para os nossos vizinhos espanhóis e diz respeito ao tronco comum dos animais. E a raça diz-se “mirandesa” porque é mesmo originária daqui, do planalto mirandês.

T.M.N.: O que a distingue a raça Churra Galega Mirandesa das outras raças de ovinos?

A.C.: Os ovinos da raça churra galega mirandesa são de pequeno porte, comparativamente com as outras raças. A sua pequena estatura é a principal razão pela qual a raça tem sofrido uma diminuição significativa. Os criadores de ovinos optam por raças de maior porte, que lhes garantam uma produção e um rendimento mais rápido. Por exemplo, os cordeiros da raça churra galega mirandesa quando nascem, têm um peso reduzido, pelo que demoram mais tempo a atingir o escalão que se pretende para a sua venda.

A raça Churra Galega Mirandesa em concorrência com as raças mais competitivas apresenta-se menos produtiva e daí que a sua exploração continue a sofrer uma diminuição significativa.

T.M.N.: Para além da estatura, a lã é outra marca distintiva desta raça de ovinos?

A.C.: Sim, são animais rústicos e com lã abundante, o que lhes permite enfrentar melhor o frio rigoroso do inverno, tão caraterístico do planalto mirandês. É o tal velho ditado que carateriza o clima desta região: “nove meses de inverno e três de inferno”.

T.M.N.: A criação destes ovinos é uma atividade rentável?

A.C.: Sim, é uma atividade rentável se considerarmos a qualidade da carne que produzem. Mas atenção, a qualidade exige tempo. Como disse anteriormente, os ovinos da raça churra galega mirandesa demoram mais tempo a desenvolverem-se. Enquanto, as outras raças são mais direcionadas para a produção de carne em regime intensivo. A nossa raça de ovinos desenvolve-se num regime extensivo. Ou seja, a criação destes ovinos faz-se através do pastoreio em áreas extensas, no exterior.

“A criação de ovinos no Planalto Mirandês é uma atividade viável em termos económicos, que em muito tem contribuído para a manutenção das populações rurais. As explorações têm como principal fonte de rendimento a atividade pecuária e os ovinos contribuem em grande parte como a principal fonte de rendimento com o produto de venda anual, com o resultado do fornecimento de lã e de carne.”

T.M.N.: Do que se alimenta o cordeiro mirandês?

A.C.: No planalto mirandês, os rebanhos alimentam-se essencialmente das pastagens espontâneas, dos restolhos ou restos de cereais que ficaram nos campos e da flora arbustiva existente.

T.M.N.: Estamos a aproximar-nos da Páscoa, a época do ano em que tradicionalmente se come o cordeiro. Qual é a mais-valia do cordeiro Mirandês ou canhono mirandês, que é considerado um produto de Denominação de Origem Protegida (DOP)?

A.C.: A carne do cordeiro mirandês distingue-se pelo sabor e pela qualidade. Volto a sublinhar que enquanto um cordeiro de outra raça, em 15 dias está pronto para abate, um cordeiro da raça churra galega mirandesa demora cerca de 1,5 mês a dois meses a desenvolver-se. Este maior período de tempo permite que o cordeiro mirandês, alimentando-se da flora típica desta região, adquira um certo tipo de gordura, uma maior formação muscular e por isso, a carne do cordeiro mirandês é extremamente tenra, suculenta e muito pouco aromatizada.

“As feiras de gado mais importantes que se realizavam na Antiguidade no Planalto eram as feiras mensais do Naso a 8 de Setembro e a feira dos Gorazes em Outubro em Mogadouro. A localização geográfica do Planalto Mirandês foi sempre influenciada, durante a sua história, pelas trocas comerciais transfronteiriças.”

T.M.N.: No processo de comercialização do cordeiro mirandês, qual é a missão da Churracoop, a Cooperativa dos Ovinos Mirandeses, CRL?

A.C.: A nossa missão é precisamente valorizar o cordeiro mirandês. Queremos que o nosso produto seja reconhecido pela sua qualidade. E a atribuição da Denominação de Origem Protegida (DOP) é para nós motivo de grande satisfação.

T.M.N.: A pandemia está a prejudicar a vossa atividade?

A.C.: A pandemia começou há precisamente um ano, em plena véspera da Páscoa. Nessa altura, como também agora, fecharam o setor da restauração e nós deixámos de receber encomendas. Esta situação, completamente inesperada, obrigou-nos a uma adaptação. Iniciámos então uma campanha de promoção do cordeiro mirandês através do facebook. E a verdade é que conseguimos vender os nossos cordeiros e também fidelizamos clientes. Este ano, dado que os restaurantes voltam a estar fechados, continuamos a vender o cordeiro mirandês sobretudo através do online.

“O nome da raça corresponde à sua região originária, o Planalto Mirandês, que engloba os concelhos de Miranda do Douro, Mogadouro e Vimioso.” 

T.M.N.: Para além do fornecimento de carne, as ovelhas também contribuem para a limpeza dos campos e a prevenção dos incêndios.

A.C.: Sim, tal como as cabras, as ovelhas são “sapadoras florestais”, pois ao comerem muitos das ervas e arbustos do solo, estão a realizar uma importante tarefa na limpeza dos campos e assim a prevenir incêndios.

T.M.N.: E para além da limpeza dos campos, as ovelhas também contribuem para a fertilização das terras.

A.C.: Sim, os seus excrementos são utilizados para adubar as terras de cultivo. Na aldeia do Palancar, por exemplo, há um senhor, associado da Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Raça Churra Galega Mirandesa, que continua a utilizar o chamado “chiqueiro” ou cercado. São as tais caniças ou cancelas onde se guardam as ovelhas durante a noite. Ele vai mudando o “chiqueiro” de lugar e assim vai estrumando as suas propriedades. Quando tudo está estrumado, retira de lá as ovelhas e lavra o campo. E assim a terra está pronta para fazer a sementeira. Este método tradicional é valiosíssimo e dispensa a utilização de adubos. E o mais interessante é que as ovelhas sempre tiveram esta função de adubar os solos mais pobres, para a posterior sementeira dos cereais, para o cultivo das hortas, etc.

“O despovoamento das aldeias, acompanhado do envelhecimento da população residente é uma das grandes preocupações.”

T.M.N.: A raça Churra Galega Mirandesa esteve quase em extinção?

A.C.: Sim, a Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Raça Churra Galega Mirandesa foi criada precisamente para proteger a raça. Inicialmente, coube aos serviços da Direção Regional de Agricultura avançar com o livro genealógico, com a definição do padrão da raça e com os estatutos. E só posteriormente foi criada a associação, em 1996, com sede no Posto Zootécnico, em Malhadas.

T.M.N.: Anualmente, a Associação de Criadores de Ovinos Mirandeses (ACOM) realiza um concurso nacional onde são exibidos e premiados os melhores ovinos. Como se faz esta avaliação?

A.C.: Com um grande conhecimento da raça Churra Galega Mirandesa. Nesse concurso nacional, o júri avalia morfologicamente os animais, consoante a abundância de lã, consoante o careto ou as marcas (pintas) na cabeça, consoante a robustez e beleza do animal. Dado que é sobretudo uma avaliação visual e sendo um concurso, é importante que os criadores tenham um particular cuidado na limpeza e apresentação dos animais.

“O registo rootécnico da raça foi criado em 1994 e a Associação Nacional de Criadores da raça foi fundada em 1996, com sede no Posto Zootécnico de Malhadas, em Miranda do Douro.”

T.M.N.: Atualmente, quantos ovinos de raça churra galega mirandesa existem?

A.C.: Os ovinos de raça churra galega mirandesa ainda correm o risco de extinção. Neste momento, no livro genealógico da raça, estão registados 6762 animais.

T.M.N.: Se eu quiser ser criador de ovinos, o que preciso saber? E fazer?

A.C.: O essencial é ter paixão pelos animais. Depois, há que que ter consciência que é uma atividade que exige uma atenção diária, todos os dias do ano. E no inverno, a atividade é mais difícil pois há que pastorear as ovelhas, ao frio e à chuva. Quem estiver interessado em ser criador de ovinos desta raça, aconselho a contatar a Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Raça Churra Galega Mirandesa, em Malhadas. Aí, prestamos todas as informações necessárias, tais como onde adquirir animais da raça, como solicitar o pedido de marca de exploração aos serviços de veterinária, etc. Depois de obter a sua marca de exploração já pode iniciar a atividade de pecuária.

“Segundo Andrea Cortinhas existem 6762 ovinos da raça churra galega mirandesa registados, entre a variedade branca e a variedade preta.”

Perfil:

Andrea Cortinhas, nasceu em Miranda do Douro. Licenciou-se em engenharia Zootécnica, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). Trabalha na Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Raça Churra Galega Mirandesa, desde 2015. É também a atual administradora da Churracoop – Cooperativa dos Ovinos Mirandeses, C.R.L.

HA

Entrevista: «É urgente valorizar a carne mirandesa na região onde é produzida» – Engenheiro Nuno Paulo

Entrevista: «Há que valorizar a carne mirandesa na nossa própria região» – Engenheiro Nuno Paulo

O berço da raça bovina mirandesa coincide com a área etnográfica em que se fala o mirandês, a designada Terra de Miranda. Antigamente, esta raça era muito valorizada pela força de trabalho no campo. Hoje é sobretudo apreciada por produzir carne de excecional qualidade. Mas esta qualidade não é devidamente valorizada na nossa própria região, segundo o administrador da Cooperativa Agro Pecuária Mirandesa.

O engenheiro Nuno Rodrigues Paulo é o administrador da Cooperativa Agro Pecuária Mirandesa. (HA)

T.M.N.: Antigamente, os animais de raça bovina mirandesa eram muito valorizados pela sua força nos trabalhos agrícolas. Com a mecanização da agricultura houve um decréscimo do número destes animais?

Nuno Rodrigues Paulo: A raça bovina mirandesa foi a que teve maior expressão a nível nacional, havendo registos de 250 mil animais em todo o país. São uma raça dócil no trato e têm uma grande força para os trabalhos agrícolas. É verdade que com a mecanização da agricultura, a raça foi perdendo efetivos. Contudo, estes animais mantêm-se nos seis concelhos que hoje constituem o solar da raça bovina mirandesa: em Miranda do Douro, Mogadouro, Vimioso, Macedo de Cavaleiros, Bragança e Vinhais. Nestes seis concelhos existem atualmente 363 criadores, 4200 vacas e 242 touros. E é aqui, que se produz a Carne Mirandesa qualificada com Denominação de Origem Protegida (DOP).

T.M.N.: O que significa Denominação de Origem Protegida (DOP)?

N.R.P.: A designação DOP é concedida a produtos que correspondem a determinadas caraterísticas e que se submetem a rigorosos sistemas de controlo. Quando se cria uma denominação de origem protegida há que cumprir um conjunto de regras, como são a localização geográfica, as caraterísticas climáticas, o maneio e o saber dos criadores. Por exemplo, os lameiros tradicionais que existem na Terra Fria Transmontana e que servem de pasto aos bovinos, não existem em mais nenhum local do país. Esta e outras caraterísticas delimitam a zona geográfica e determinam a qualidade da carne. É por isso que a carne mirandesa certificada provém dos animais nascidos e criados no solar da raça.

“Os lameiros tradicionais, que existem na Terra Fria Transmontana e que servem de pasto aos bovinos, não existem em mais nenhum local do país.”

T.M.N.: A agricultura no planalto mirandês mudou bastante. Por exemplo, o cultivo de cereais foi substituído pelos olivais e os amendoais. A atividade da pecuária também mudou?

N.R.P.: É verdade que a agricultura e, mais concretamente o cultivo de cereais, mudou por causa da perda de competitividade e da não rentabilidade na sua produção, comparativamente com outras regiões da União Europeia. E a atividade pecuária também mudou. Nas últimas décadas, verificou-se um aumento do número de animais por exploração e passamos do modo de produção tradicional para a produção extensiva. Se antigamente, havia produtores com três e quatro vacas e era muito comum ver os animais a passar no meio das aldeias, hoje isso já não acontece. Atualmente, um produtor que tenha menos de 30 vacas não tem uma atividade rentável. Por razões de competitividade, de organização e de rentabilidade, o que existe é o modo de produção extensivo. Cada produtor tem 70 a 80 vacas, que vivem permanentemente no campo, onde existem infraestruturas ou então árvores que lhes servem de abrigo, contra a chuva, o frio, o calor e o vento. Digamos que se está a aproximar muito mais o animal à natureza.

“Se antigamente, havia produtores com três e quatro vacas e era muito comum ver os animais a passar no meio das aldeias, hoje, isso já não acontece. Um produtor que tenha menos de 30 vacas não tem uma atividade rentável.”

T.M.N.: A pecuária é uma atividade que dá muito trabalho?

N.R.P.: A pecuária é uma atividade que exige uma total disponibilidade dos criadores. Se na agricultura, as pessoas conseguem conciliar essa atividade com outros empregos, na pecuária isso não é possível. Ao criador é-lhe exigida uma atenção e dedicação constante com o bem-estar dos animais.

T.M.N.: Que cuidados se têm na alimentação dos bovinos de raça mirandesa?

N.R.P.: A Cooperativa Agro Pecuária Mirandesa tem um grande cuidado com a alimentação que se dá aos animais. Refiro, por exemplo, que 70% desta alimentação é produzida na região. E só utilizamos cereais nobres. Na aldeia de Duas Igrejas, existe uma unidade fabril onde se produz alimento à base do trigo e do centeio produzidos na região. Mas há outros cereais, como o milho e a cevada, em que somos obrigados a comprar noutras regiões.

“70% da alimentação dos bovinos mirandeses é produzida na região, E só utilizamos cereais nobres.”

T.M.N.: Perante o abandono dos campos, como se motivam os jovens para a agropecuária?

N.R.P.: Em primeiro lugar, há que adquirir conhecimentos na área – a agropecuária é uma ciência – para depois se investir. E mesmo os investidores têm que pensar bem, antes de enveredar por esta atividade. Porquê? Porque é uma atividade que exige um investimento muito grande. Por exemplo, para constituir uma empresa agropecuária há que reunir 200 a 300 mil euros para comprar os animais, os terrenos, as máquinas agrícolas, para construir as infraestruturas, etc. . Por norma, as pessoas que se dedicam à agropecuária já conhecem o setor. São, por exemplo, os filhos dos criadores, que vão dar continuidade ao trabalho dos pais. Eles já têm o conhecimento, a empresa já está em atividade e não precisam de realizar um investimento tão avultado. Mas para quem pensa construir uma empresa agropecuária de raiz, para além do elevado investimento, tem que enfrentar também a demora em obter rendimento imediato. Só ao 3º ou 4º ano de atividade é que há retorno financeiro. Em suma, o sucesso nesta atividade depende do conhecimento, do investimento e também da conjuntura económica favorável para que o projeto seja sustentável.

“Por norma, as pessoas que se dedicam à agropecuária já conhecem o setor. São, por exemplo, os filhos dos criadores, que vão dar continuidade ao trabalho dos pais. Eles já têm o conhecimento, a empresa já está em atividade e não precisam de realizar um investimento tão avultado.”

T.M.N.: Qual é a missão da Cooperativa Agro Pecuária Mirandesa, C.R.L.?

N.R.P.: A missão da Cooperativa Agro Pecuária Mirandesa, C.R.L. consiste em comercializar a produção, prestar serviços aos seus cooperantes e organizar-se. Desde 1996, que a cooperativa é a entidade gestora da marca “Carne Mirandesa”. E a nossa missão consiste em criar estruturas e canais de distribuição para vender os nossos produtos no mercado.

T.M.N.: A carne mirandesa dá origem a que produtos?

N.R.P.: Temos uma gama de produtos muito vasta. Graças à unidade industrial de transformação, localizada em Vimioso, utilizamos vários processos tecnológicos, como são os refrigerados, os congelados e a charcutaria. Na charcutaria apresentamos várias gamas de produtos como carnes verdes, os picados e os transformados. Para escoar estes produtos, estamos presentes em todos os canais de distribuição, quer no âmbito nacional quer internacional. Por exemplo, através do canal horeka comercializamos as chamadas partes nobres da vitela mirandesa como são a posta, a costeleta, etc. e que se destinam maioritariamente para os restaurantes e hotéis. Temos também a nossa gama de charcutaria, com vários produtos, tais como a Alheira Vitela, a Chouriça Tradicional Especial Assar, o Chouriço Mirandês, o Churrasquito Transmontano, o Paté de Fígado e Paté de Fígado c/ Tomilho.

“Através do canal horeka comercializamos as chamadas partes nobres da vitela mirandesa como são a posta, a costeleta, etc. e que se destinam maioritariamente para os restaurantes e hotéis.”

T.M.N.: Quem são os apreciadores da carne mirandesa?

N.R.P.: Como referi a marca “Carne Mirandesa” está presente no mercado nacional e internacional, sendo que a França é um dos nossos principais mercados. Para além da hotelaria e da restauração, também estamos presentes no mercado das grandes superfícies.

T.M.N.: Como se explica a popularidade do prato “Posta Mirandesa”?

N.R.P.: Desde o início do século XIX, quando os bovinos mirandeses foram a raça mais expressiva no país, que a carne é considerada de muito boa qualidade. E de facto, a carne mirandesa tem qualidades excecionais: tem um sabor e uma suculência únicas. A fama da posta mirandesa começou com a vinda de pessoas de outras regiões do país para aqui comprar animais de raça mirandesa. Depois, na década de 1990, a certificação da carne, a valorização da gastronomia e o desenvolvimento do turismo deram a conhecer ainda mais a qualidade desta carne.

“A carne mirandesa tem qualidades excecionais: tem um sabor e uma suculência únicas.”

T.M.N.: A fraude, isto é, o vender carne não certificada como sendo mirandesa prejudica o vosso trabalho?

N.R.P.: Sim, é um problema. No ano 2020, por exemplo, apenas 2,8% das nossas vendas se destinaram para esta região. E isso deixa-me muito triste. É inacreditável, a quantidade de fraude de carne mirandesa que se pratica no próprio solar da raça. Temos conhecimento desta irregularidade através da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), que está constantemente a identificar pessoas que cometem essas transgressões. Nos últimos dois anos, houve 68 processos em todo o país de uso indevido da marca “Carne Mirandesa”, alguns dos quais no solar da raça. Por isso, na minha opinião, é urgente uma mudança de paradigma no setor hoteleiro da nossa região. E a comunicação social pode ter um papel preponderante para ajudar a mudar mentalidades e dar valor ao que à qualidade do tradicional. Penso, por exemplo nos turistas que nos visitam e que muitas vezes vêm com a intenção de provar a qualidade da carne mirandesa e no final são enganados.

“No ano 2020, apenas 2,8% das nossas vendas se destinaram para esta região. E isso deixa-me muito triste. É inacreditável, a quantidade de fraude de carne mirandesa que se pratica no próprio solar da raça mirandesa.”

T.M.N.: A pandemia está a afetar a comercialização da carne mirandesa?

N.R.P.: Sim, a pandemia obrigou-nos a adaptarmo-nos às novas circunstâncias. De um dia para o outro, a hotelaria encerrou e as exportações pararam. De 430 clientes ativos, passamos para apenas 19. Atravessámos um período muito mau, que nos obrigou a repensar a estratégia comercial e os canais de distribuição. Em 2020, tivemos que dirigir os nossos produtos para os supermercados, onde conseguimos triplicar as vendas. Hoje, estamos a vender sobretudo para os supermercados. É a nossa forma de escoar a produção, embora a um preço inferior ao praticado antes da pandemia. Se no ano passado, a cooperativa estava a pagar o quilo de carne ao produtor a 5,5 euros, atualmente pagamos o quilo a cinco euros. Com a pandemia a condicionar a nossa atividade, com os restaurantes e hotéis ainda fechados, continuamos a viver na incerteza. Se vamos retomar esses mercados? Estou convencido que sim. Mas não sei dizer quando.

“Em 2020, com o surgimento da pandemia tivemos que dirigir os nossos produtos para os supermercados, onde conseguimos triplicar as vendas.”

Perfil:

Nuno Rodrigues Paulo, nasceu 20/10/1973 e é natural de Picote (Miranda do Douro). Licenciou-se em Engenharia Agronómica – ramo de Zootecnia e concluiu uma Pós-graduação em Higiene e Segurança no Trabalho e Tenologia de Produtos Agroalimentares. Também é mestre em Tecnologia Alimentar. Desde 1996 que trabalha na Cooperativa Agro Pecuária Mirandesa, C.R.L e em finais de 2010, assumiu a responsabilidade de Assessor do Conselho de Administração e Gestão de Projetos.

HA

Reportagem: Roscos sagrados

Reportagem: Roscos sagrados

Segundo a UNESCO, património, não é somente os monumentos e sítios, mas também as línguas, o saber-fazer, os rituais e as tradições. Há uma tradição em Águas Vivas e em São Pedro da Silva, em que os protagonistas são os roscos. Uns bolos com a forma de argola, feitos comunitariamente e que são muito apreciados por miúdos e graúdos. O que têm estes roscos de extraordinário? E porque é que as pessoas gostam tanto desta tradição? Fui à procura do sabor dos roscos e do saber da tradição. (por Hugo Anes)

A confeção dos roscos é um trabalho comunitário que gera um grande entusiasmo na aldeia. (Dilar Neto)

Giolanda, a alma dos roscos

Cheguei à aldeia de Águas Vivas e fui recebido pela Dilar Neto, a representante da junta de freguesia local. Quando soube do motivo da minha visita, levou-me ao encontro da dona Giolanda, uma senhora que no próximo mês de maio vai celebrar 92 anos! A dona Giolanda e a Dilar, representam duas gerações diferentes, mas ambas demonstram ter muito carinho à sua aldeia e às tradições. Quando lhes perguntei pela origem da festa dos roscos, vim a saber que a tradição é muito antiga. Conta-se que a festa terá começado após o recrutamento dos jovens da aldeia para uma guerra. O povo, aflito, decidiu fazer uma promessa a Deus: se os jovens regressassem sãos e salvos, organizariam uma festa em ação de graças. Ao que parece, assim aconteceu: os jovens regressaram de boa saúde e o povo decidiu cumprir a promessa. Reuniram-se, pediram-se as esmolas e a tradição começou a realizar-se, na festa de Nossa Senhora das Candeias, a 2 de fevereiro. Mais recentemente, mudaram a tradição para o Domingo gordo, dado que são as férias do carnaval e há mais jovens na aldeia. E são os jovens que organizam a festa. Em cada ano, há duas raparigas, as chamadas mordomas, que têm a missão de chamar as outras para o baile, que decorre de terça-feira a sábado, ao serão, à volta da fogueira.

Os roscos

A confeção dos tão apreciados roscos começa na quarta-feira de manhã. É um trabalho comunitário que gera um grande entusiasmo e azáfama, em toda a aldeia. Em primeiro lugar, há que reunir os ingredientes. São necessários ovos, açúcar, farinha, fermento, manteiga, gordura de porco e um pouco de aguardente para dar aroma aos roscos ou em alternativa, anis. Como ensina a dona Giolanda, para cada três dúzias de ovos, junta-se um quilo de açúcar. E quanto à farinha, houve anos em que se compraram 13 sacos, o equivalente a 150 quilos! Após reunir os ingredientes, as primeiras tarefas são: partir os ovos e preparar a massa. Esta, depois de bem amassada, vai ficar a levedar, até ao dia seguinte. Na quinta-feira, os trabalhos recomeçam bem cedo, pois é dia de colocar a massa nas formas e de as levar ao forno a lenha. A cozedura dos roscos é um trabalho que se prolonga por todo o dia. Por isso, só na sexta-feira é que os roscos estão prontos. No sábado à noite, os jovens mordomos organizam uma pequena festa para a juventude, com o propósito de escolher os “perneiros”. Os “perneiros” são os cinco rapazes que, pela sua generosidade na esmola, vão ter a honra de, no dia da festa, transportar os andores de Nossa Senhora das Candeias e o andor com os roscos.

Chegados ao dia da festa, o Domingo começa com a celebração da Missa. No decorrer da celebração expõe-se o andor ornamentado com os roscos. No final da celebração, o andor é colocado no átrio da Igreja, onde os rapazes o apregoam. O leilão só acontece à meia-noite, na casa do povo. A dona Giolanda diz que, houve anos, em que a venda dos roscos deu uma receita de 600 contos!

Dilar Neto e a Sra. Giolanda explicam o carinho que têm pela tradição dos roscos (HA)

Os roscos no dia de Reis

Em São Pedro da Silva, a tradição dos roscos coincide com o Dia de Reis, que se celebra a seis de janeiro. Também aqui a tradição é organizada pelos jovens solteiros. Cabe assim a duas raparigas e um rapaz, serem os mordomos da festa. No entanto, esta tradição corre o risco de cair no esquecimento. O êxodo dos jovens para as cidades põe em causa a sua continuidade. Segundo Alfredo Cameirão, natural da aldeia e professor, a festa dos Reis era um dos momentos mais importantes da aldeia. “Era uma festa muito querida. Mas, devido ao despovoamento e ao envelhecimento da população, de modo muito expressivo em São Pedro da Silva, a tradição não se fez por vários anos.”. Ainda assim, a chegada do padre Rufino à paróquia trouxe um novo ânimo às pessoas. “Em São Pedro da Silva, sempre houve uma tradição muito fervorosa à volta do dia de Reis. Quando assumi a paróquia de São Pedro da Silva, a tradição estava a ser esquecida, já não estavam a celebrar o dia de Reis nem a confecionar os roscos. E ao escutar as pessoas, animei-as a recuperar a tradição.” Desde então, a comissão fabriqueira da paróquia decidiu organizar novamente a festa e voltaram a confecionar-se os roscos no dia de Reis!

Há a destacar que neste trabalho, as senhoras são as primeiras as arregaçar as mangas. Elisabete Esteves e a senhora Albertina de São Pedro, descreveram como preparam a festa. Dois dias antes, realizam o peditório pela aldeia, para recolher os ingredientes. Pedem-se ovos, farinha, manteiga, leite, aguardente, açúcar e fermento. Depois, distribuem-se as tarefas. Há que bater uma grande quantidade de ovos e misturá-los com o açúcar, até ficar no ponto. Há também que preparar a massa. Depois, as chamadas “feiteiras” colocam a massa nas formas. E ao que parece, os roscos assumem vários formatos. “Desde os utensílios da agricultura, como o arado, uma escada e até o padre a celebrar a Missa serve de inspiração para dar forma aos roscos!” – gracejou o padre Rufino. Na confeção dos roscos, há também que zelar pelo forno a lenha. Quando os roscos já estão cozidos, tiram-se do forno e adiciona-se-lhes um creme. Antigamente, os roscos eram pincelados com a gema do ovo. Mas agora, em São Pedro da Silva, em vez gema do ovo adicionam-lhe um creme de açúcar. Outra tarefa importante e original é esfregar as formas, que curiosamente, são as tampas das latas de tinta! Todo este trabalho comunitário, só está concluído ao final do dia.

No dia seguinte, sábado, é chegado o momento de ornamentar o andor com os roscos. Segundo, o padre Rufino, este é um trabalho que exige muita técnica, pelo que é importante que se transmita este saber às gerações mais novas.

Na noite de sábado, os mordomos percorrem as ruas da aldeia a convidar as pessoas para a degustação das “claras”. As claras são uns roscos pequeninos, feitos propositadamente para convencer as pessoas a comprar os roscos no dia da festa.

Chegados ao dia de Domingo, começa a festa! A celebração da missa é cantada, há a adoração do Menino Jesus e também a bênção do andor com os roscos. No final da celebração traz-se o andor para o adro da igreja, onde é leiloado. Depois, transporta-se o andor dos roscos para o salão da casa do povo, onde se desfaz: os roscos da parte superior destinam-se aos mordomos do próximo ano. O senhor padre também é presenteado com um desses roscos. E os restantes são para vender. Cada rosco custa 6 euros. A Elisabete e a senhora Albertina dizem que se vende tudo rapidamente!

Ao jantar, tradicionalmente come-se o butelo com as cascas. E a festa continua com o baile, que decorre no salão da casa do povo, onde por vezes, quase não se cabe, tanta é a afluência de gente!


A receita

Nesta tradição dos roscos, o que mais chama à atenção é a participação de toda a aldeia na preparação da festa. Há quem ofereça os ingredientes, como os ovos, a farinha ou o açúcar. Outros, arregaçam as mangas e dedicam-se ao trabalho, de partir os ovos, amassar a massa ou ficar responsáveis pelo forno. Há também quem venha à festa só para comprar os roscos.

A participação de toda a comunidade é, afinal, o que torna esta tradição tão querida em cada aldeia. Sob o pretexto da confeção dos roscos, as pessoas aproximam-se, convivem, trabalham juntas, rezam, comem, dançam, cantam, e assim estão a aprofundar o sentido de pertença à sua aldeia e a transmitir às novas gerações a sabedoria das suas tradições.

Quanto ao sabor dos roscos, há que seguir a receita:

Ingredientes utilizados: Ovos, gorduras (manteiga e azeite), açúcar, farinha, leite, aguardente, fermento em pó e bicarbonato de soda e anis.

Modo de preparação: Misturam-se os ovos com o açúcar e vão-se misturando os restantes ingredientes mexendo muito bem, por fim vai-se deitando a farinha até a massa ficar dura, de forma a se poder moldar e deixa-se repousar durante 1 hora. Seguidamente molda-se a massa com as mãos e coloca-se em tabuleiros, estes bolos apresentam-se de várias formas (formato de circulo, letras, entre outros formatos) e pincelam-se com gemas de ovos. Depois disso vão a cozer no forno de lenha, durante aproximadamente 20 minutos.

E juntar-lhe uma boa dose de partilha, de entreajuda e de amor, para que tudo tenha mais sabor!


Entrevista: «Agora estamos mais bem preparados para as aulas à distância» – António Santos

Entrevista: «Agora estamos mais bem preparados para as aulas à distância» – António Santos

Com o agravamento da pandemia, os 600 alunos do Agrupamento de Escolas de Miranda do Douro (AEMD) vão ter aulas através das tecnologias digitais, até que a situação epidemiológica desagrave e permita o regresso dos alunos à escola, informou o diretor do agrupamento.


António Santos é o diretor do Agrupamento de Escolas de Miranda do Douro (AEMD)

Perfil:

O professor António Santos é licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Inglês e Francês. Com um mestrado em Administração Escolar é também diretor do Agrupamento de Escolas de Miranda do Douro (AEMD). Já lá vão 20 anos desde que assumiu essa responsabilidade. Diz que sente saudades de ser professor, de ensinar e de estar com os alunos, na sala de aula.

Terra de Miranda – Notícias: Ao longo da sua carreira no ensino, a escola mudou muito?

António Santos: Sim, a escola mudou muito. Se é verdade que a missão é a mesma de sempre, há muitos outros aspetos que mudaram e que melhoraram. Por exemplo, a escola que temos hoje, tem muito mais qualidade em termos de conforto para que alunos e professores possam desenvolver o seu trabalho. Introduzimos as novas tecnologias, o que há 20 anos praticamente não existia. E temos conseguido fazer com que a escola acompanhe os tempos da modernidade.

T.M.N.: Hoje, os alunos também são diferentes?

A.S.: Sim, os alunos também estão diferentes. E ao contrário do que, por vezes, o povo diz ou reclama dos jovens, como o “não têm maneiras”, eu vejo-os muito mais ordeiros e bem-comportados. E estou convencido de que isso se deve também ao trabalho que realizamos na escola. Por exemplo, hoje, um dos pontos fundamentais do nosso trabalho é transmitir aos alunos os valores da cidadania, da convivência democrática e do humanismo. Por isso, penso que a juventude de hoje sabe estar e sabe intervir. E isso deixa-me muito satisfeito.

T.M.N.: Pelo facto do decréscimo da população e consequentemente por haver menos alunos na escola, isso contribui para que haja mais ordem e um melhor ambiente para a aprendizagem?

A.S.: Claro que quando há muita gente a partilhar o mesmo espaço é natural que surjam mais atritos e um pouco mais de confusão.  No entanto, o despovoamento das nossas aldeias, onde há pouca gente e quase não há crianças é motivo de muita preocupação. Este abandono do interior entristece-me e é uma das nossas maiores preocupações.

T.M.N.: Que papel é que a escola pode desempenhar junto dos alunos para agir contra o despovoamento?

A.S.: A tendência dos jovens que após a conclusão do ensino secundário ingressam nas universidades, indica que são muito poucos os que regressam ao concelho de Miranda do Douro, após a conclusão dos estudos. A maioria dos jovens vão para onde há emprego e mais oportunidades de trabalho. E isso, infelizmente, continua a concentrar-se, sobretudo, nas grandes cidades do litoral. Localmente, desde há vários anos que estamos a investir na formação profissional, sobretudo nas áreas do turismo e do comércio, dado que Miranda do Douro vive essencialmente destas duas atividades económicas. Alguns dos nossos alunos têm conseguido trabalho nas empresas da região. Os cursos têm também um componente forte de empreendedorismo, em que os alunos desenvolvem projetos pessoais para a sua fixação neste território.

“Os cursos têm também um componente forte de empreendedorismo, em que os alunos desenvolvem projetos pessoais para a sua fixação neste território.”

T.M.N.: Quanto alunos estudam no concelho de Miranda do Douro?

A.S.: No Agrupamento de Escolas de Miranda do Douro (AEMD) estudam 600 alunos. Este agrupamento é constituído por sete escolas: a Escola Básica e Secundária de Miranda do Douro, a Escola Básica de Miranda do Douro do 1º Ciclo e o Pré-escolar de Miranda do Douro. Em Palaçoulo, existe a Escola Básica de 1º ciclo e o Pré-escolar. E em Sendim, há a Escola Básica 1/2/3 e o Pré-escolar. Isso significa que todas as crianças e jovens do concelho de Miranda do Douro, que é bastante extenso, estudam nestas sete escolas. Dada a extensão do concelho, muitos alunos vêem-se obrigados a passar uma hora de viagem de manhã nos transportes escolares e outra ao final do dia, o que limita o seu tempo de estudo e de descanso. Para minimizar este problema, só começamos as aulas às 9h00, para permitir que estes alunos façam a viagem sem terem que se levantar ainda mais cedo. E terminamos às 17h00, também para permitir que cheguem a casa ainda de dia.

T.M.N.: Tal como em março do ano passado, a pandemia obrigou a fechar novamente as escolas. As aulas vão decorrer à distância, através dos computadores e da televisão. A poucos dias do reinício das aulas à distância, como estão os preparativos para este desafio? Estão, agora, mais bem preparados do que no ano passado?

A. S.: Sim, estamos mais bem preparados. Os professores já sabem utilizar as plataformas informáticas e receberam formação. Por outro lado, também os pais já passaram por esta experiência do ensino em casa para os seus filhos. Há a dizer, no entanto, que não obstante a escola estar fechada, os alunos que são filhos de profissionais de atividades de risco (ou seja, os que estão na linha da frente no combate a esta pandemia) e os filhos de profissões essenciais que não estão sujeitos ao confinamento obrigatório, a escola, tem a obrigação de cuidar destas crianças e jovens. Significa isto, que os pais que não tenham outra forma de cuidar dos seus filhos, podem confiá-los às escolas de Miranda do Douro ou de Sendim. Também as crianças e jovens indicados pela Comissão de Proteção de Crianças e Jovens em Risco (CPCJ), que não têm as condições necessárias em casa para desenvolverem a sua aprendizagem, também vêm para a escola. Finalmente, a escola vai continuar a assegurar as refeições a todos os alunos carenciados que o peçam.

T.M.N.: Todos os alunos têm computador e acesso à internet?

A. S.: Ainda há muitos alunos sem computadores e sem acesso à internet. É um problema que estamos a tentar resolver, em colaboração com o município de Miranda do Douro. Em março passado, o município já havia contribuído facultando várias ligações à internet para os alunos. Em relação aos equipamentos informáticos, vamos tentar que haja, pelo menos, um computador em cada agregado familiar com ligação à internet.

“Ainda há muitos alunos sem computadores e sem acesso à internet. É um problema que estamos a tentar resolver, em colaboração com o município de Miranda do Douro.”

T.M.N.: Como vai acontecer o ensino à distância?

A. S.: Em relação às aulas à distância temos diferentes níveis de intervenção. No ensino secundário, por exemplo, já está garantido que todos os alunos têm o equipamento com o acesso à internet e as aulas vão decorrer de forma síncrona, isto é, em direto, como se estivessem na escola, com um horário bem definido e com aulas mais curtas para evitar o cansaço. Relativamente, ao terceiro ciclo, também temos a garantia de que os alunos vão ter aulas síncronas, pois já são jovens com autonomia para estar e aprender desta forma. No segundo ciclo, as aulas vão ser mistas, síncronas e também assíncronas. E no primeiro ciclo, dado que as crianças têm muito pouca autonomia para estarem sozinhos em frente a um computador, a sua aprendizagem será sobretudo realizada através dos manuais escolares, na realização de tarefas atribuídas pelos professores, que vão ter que utilizar mais o telefone ou outro tipo de estratégia de comunicação com os alunos. Desta vez, vamos voltar a contar com a colaboração da Escola Segura, que, periodicamente, vai distribuir material de estudo, em papel, aos alunos que, em suas casas, não têm as condições técnicas para o ensino à distância. Numa semana entregam esse material, na semana seguinte recolhem e os professores corrigem.

T.M.N.: A equidade de condições para a aprendizagem preocupa-o?

A. S.: Sim, uma das minhas preocupações é a igualdade de condições no processo da aprendizagem. Quando um professor comunica que numa aula síncrona, apenas um ou dois alunos não participaram, é uma situação que não posso aceitar. As aulas síncronas são para todos os alunos. Ninguém pode ficar de fora. E só podemos ensinar utilizando as tecnologias mais avançadas, quando todos podem fazê-lo. Temos que ter muito cuidado em garantir um ensino que seja justo e igual para todos.

T.M.N.: A quem se destinam as aulas que são transmitidas através da RTP Memória?

A. S.: A chamada telescola é um bom complemento, com aulas para todos os níveis de ensino.  Nós, os professores temos acesso à grelha de programação da RTP Memória, e sempre que alguma das aulas televisivas coincidir com os interesses ou propósitos de ensino de cada professor, eles podem aconselhar os seus alunos a assistirem a essas aulas. Por exemplo, um professor pode recomendar os seus alunos a assistir à aula de português, às 10 horas, na RTP Memória, porque é muito interessante e vai expor os conteúdos que irão trabalhar. Mas repito, telescola é apenas um complemento.

T.M.N.: A partir de segunda-feira, como é que vai ser o dia-a-dia, de um aluno, por exemplo, do 8º ano? Ele vai ter um horário?

A.S.: A escola vai enviar aos pais a informação sobre o nosso procedimento.  O que se pretende é que os alunos cumpram o seu horário que tinham na escola. Se às 9h00 tinham português no ensino presencial, vão continuar a ter português no ensino à distância. Em cada aula, o professor liga a câmara e o microfone (através do zoom ou do google classroom) estabelece a relação com os alunos e inicia a aula.  A única diferença é que se a aula de português no ensino presencial durava 90 minutos, a aula online vai durar apenas 45 minutos. Porquê? Porque está comprovado que se as aulas se prolongarem por mais tempo torna-se cansativo e os alunos perdem o interesse. Os outros 45 minutos serão dedicados ao trabalho autónomo, durante o qual aos alunos podem estudar, desenvolver e aprofundar, sozinhos, os conteúdos recebidos. Depois segue-se o intervalo. De seguida vão ter outra disciplina, por exemplo, físico-química… Claro que estas aulas síncronas, em tempo real, são sobretudo destinadas aos alunos que já têm mais autonomia, como são os do 3º ciclo e do secundário.

“Está comprovado que se as aulas se prolongarem por mais tempo torna-se cansativo e os alunos perdem o interesse. Os outros 45 minutos serão dedicados ao trabalho autónomo, durante o qual aos alunos podem estudar, desenvolver e aprofundar, sozinhos, os conteúdos recebidos.”

T.M.N.: E como vão decorrer as aulas dos alunos do 1ª e 2ª ciclos?

A.S.:  Os alunos mais novos, nomeadamente os do 1º ciclo, sendo que a maioria não tem as condições técnicas para as aulas síncronas, nem tão pouco autonomia para participarem nas aulas à distância, os professores optam por comunicar com eles no início da semana, à segunda-feira, para transmitir-lhes uma série de orientação e atribuir-lhes tarefas para nos próximos dias. No decorrer da semana, os professores contatam os alunos sempre que for necessário. E na sexta-feira, os professores voltam a contatar todos os alunos, para fazer correção e a avaliação da semana, para dar o feedback aos alunos do trabalho que realizaram.

T.M.N.: Há quem diga que nesta modalidade de ensino à distância, as crianças e os jovens tornam-se mais preguiçosos, mais apáticos, sem entusiasmo? São horas infindáveis nas redes sociais, nos jogos, o que os priva da dinâmica e do interesse pelo aprender. Concorda?

A.S.: Sim, há esse risco. Eu compreendo que a tentação de estar em casa e poder fazer o que lhe apetece, ver os jogos ou outro tipo de canais e não estar com a câmara ligada para o professor, é uma preocupação que existe. Mas temos que trabalhar para evitar o desinteresse dos alunos. Recordo que no primeiro confinamento, em março do ano passado, para nossa surpresa, houve alguns alunos que se dedicaram e trabalharam mais, em casa, do que na escola. Estes alunos que tiveram uma atitude mais responsável, aperceberam-se da gravidade do problema que estamos a viver a nível mundial, e aceitaram bem a obrigatoriedade de ter que estudar em casa.

T.M.N.: A privação da proximidade, do encontro e do convívio entre os alunos é uma grande provação para eles?

A.S.: É, sem dúvida. Os miúdos gostam de brincar! Recordo que no primeiro período, mesmo aconselhando regras estritas no comportamento dentro da escola, os miúdos adoram brincar, adoram correr atrás de uma bola, adoram agarrar-se, empurrar, etc., e isso faz parte da natureza humana. E infelizmente, a pandemia limitou-nos essa componente do contato físico. Por outro lado, hoje, com as novas tecnologias (telemóveis, whatsapp, zoom, Skype, etc.), eles facilmente comunicam uns com os outros. E a própria aula síncrona que o professor proporciona, também é um momento de encontro entre eles, pois vêem-se uns aos outros no ecrã, o que acaba por ser também um momento de convívio e não só de trabalho.

T.M.N.: O que dizem os pais sobre esta experiência das aulas em casa? Como estão a preparar as suas casas para que os filhos possam aprender à distância? Os pais acompanham as aulas dos filhos, para que estes não se distraiam?

A.S.: Esta é outras das grandes diferenças. Há pais que podem acompanhar os filhos, porque estão em casa a tempo inteiro ou porque estão em teletrabalho. Mas, infelizmente há outros pais que não podem acompanhar os filhos, ou porque têm que ir trabalhar, ou porque não sabem utilizar as novas tecnologias. E isto é outro fator de diferenciação que nos preocupa. Mas, de um modo geral todos os pais se esforçam por acompanhar os seus educandos.

T.M.N.: E do lado dos professores, como é lecionar à distância?

A.S.: Ensinar à distância é muito trabalhoso e aos professores é exigida uma grande preparação prévia dos materiais. E a verdade é que há professores que até gostam desta modalidade de ensino à distância e conseguem contruir boas relações com os alunos. Para tal, também foi muito importante o ensino presencial no primeiro período, durante o qual se estabeleceu um conhecimento e uma relação pedagógica entre os alunos e os professores. Isso permitiu-nos regressar as aulas à distância com maior à vontade, pois já há um conhecimento entre todos. Se o ensino à distância se fizesse sem esse conhecimento prévio entre professores e alunos seria mais difícil e custoso para todos.

T.M.N.: Até quando prevê que seja necessário manter as aulas à distância?

A.S.: Nós gostávamos que os alunos permanecessem em casa o menos tempo possível e regressassem rapidamente à escola. O ensino é presencial e todos os professores o defendem. Mas estamos a atravessar um momento em que temos mesmo que confinar, ficar em casa, e esperar que esta pandemia acabe. A minha convicção pessoal é a de que, antes de março, não será possível regressar à escola, a não ser que haja uma regressão muito acentuada dos níveis de contágio e de óbitos. Vamos aguardar pelo evoluir da situação epidemiológica.

“A minha convicção pessoal é a de que, antes de março, não será possível regressar à escola, a não ser que haja uma regressão muito acentuada dos níveis de contágio e de óbitos.”

T.M.N.: E porque estamos na Terra de Miranda, pergunto se também há aulas de mirandês à distância?

A. S.: Com certeza! Nós temos o privilégio de poder ensinar o mirandês nas escolas do agrupamento e haverá com certeza aulas à distância em mirandês. O professor Duarte, na Escola Básica e Secundária de Miranda do Douro, e o professor Emílio, na Escola Básica 1/2/3 de Sendim, são experientes na utilização das novas tecnologias e vão continuar a assegurar o ensino da língua mirandesa. A disciplina de mirandês é facultativa e é frequentada por 70% dos alunos. No primeiro ciclo, os alunos têm duas aulas por semana. E nos restantes ciclos, a aula de mirandês é semanal.

HA

“Há pressa no ar”, é o hino musical das JMJ Lisboa 2023

Igreja: “Há pressa no ar”, é o hino musical das JMJ Lisboa 2023

A canção “Há pressa no ar” é o hino da Jornada Mundial da Juventude, que vai realizar-se em Lisboa, em 2023, e foi inspirada no tema «Maria levantou-se e partiu apressadamente» (Lc1,39).

O próximo encontro internacional dos jovens com o Papa (Jornada Mundial da Juventude), vai realizar-se na capital portuguesa, no verão de 2023, e ao longo de uma semana, jovens de todo o mundo, vão ter a oportunidade de conhecer o nosso país e confraternizar entre si, num evento que é simultaneamente, uma peregrinação, uma festa e um momento único de evangelização do mundo juvenil.

O hino das JMJ 2023 é a canção “Há Pressa no Ar”, com letra de João Paulo Vaz, sacerdote, e música de Pedro Ferreira, professor e músico, ambos da diocese de Coimbra, no centro de Portugal. Os arranjos musicais são de Carlos Garcia.

O tema foi gravado, em duas versões: em português e na versão internacional em

cinco idiomas (português, inglês, espanhol, francês e italiano).

Ao cantar este hino, os jovens de todo o mundo são convidados a identificarem-se

com Maria, dispondo-se ao serviço, à missão e à transformação do mundo.

A letra evoca também a festa da JMJ e a alegria centrada na relação com Deus.

O Concurso que elegeu a música

A canção oficial da JMJ Lisboa 2023 foi escolhida em concurso nacional, aberto à participação de portugueses maiores de idade. O Comité Organizador Local (COL) recebeu mais de uma centena de candidaturas, que foram analisadas por um júri composto por profissionais das áreas da música e das artes.

Como requisitos principais para a participação na competição foi pedido aos participantes que o hino oficial se inspirasse no lema da JMJ 2023, definido pelo Papa Francisco; nos objetivos da JMJ, entre os quais sobressai o da evangelização; e na cultura portuguesa.

O processo de produção em estúdio, realizado em 2020, envolveu jovens de todo o país, alguns dos quais participantes na competição que, apesar de não terem sido selecionados, integraram o coro da gravação final.

Uma canção que nasceu para unir

A melodia nasceu primeiro do que a letra, contam os autores. Pedro Ferreira, de 41 anos, compôs, numa “pequena sala, sozinho ao piano”, uma melodia “pensada para congregar, unir uma comunidade”.

Com outros amigos da Banda da Paróquia, grupo musical que integra, pediu ao padre João Paulo Vaz para escrever a letra.

“Não alterando em nada a melodia, e com a guitarra na mão, fui escrevendo, como costumo fazer”, recorda o sacerdote, de 51 anos.

“O tema da edição de Lisboa [‘Maria levantou-se a partiu apressadamente’ (Lc 1, 39)] levou-me a rever a minha relação com a Mãe e, portanto, o processo criativo da letra tornou-se um tempo de oração muito profundo para mim.”, partilha João Paulo Vaz.

Quando ao estilo, foi solicitada no concurso “uma música popular, alegre, juvenil, fácil de aprender e de fácil tradução e adaptação”.

Os arranjos musicais de “Há Pressa no Ar” são da autoria do músico Carlos Garcia.

“Ao ouvir o tema, o Carlos acaba por se apropriar da melodia e num trabalho notável – não lhe mexe na estrutura, na forma – enriquece-a de uma forma única”, sublinha o autor da melodia, Pedro Ferreira, que foi fundador da banda portuguesa Anaquim, entre outros projetos musicais.

JMJ | HA