Miranda do Douro: «Precisamos de mais conferências como esta para debater ideias” – Emanuel Soares (ACIMD)
No dia 7 de julho, realizou-se a conferência “Crescimento e sustentabilidade no concelho de Miranda do Douro”, onde se apontou que o despovoamento é o maior obstáculo ao desenvolvimento de um concelho, onde a agropecuária, a natureza, a cultura, o turismo e indústria continuam a lutar contra o declínio da região.
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A conferência dedicada ao tema do crescimento económico e da sustentabilidade, foi uma iniciativa do município, em colaboração com o grupo Vida Económica e iniciou-se com a intervenção da presidente da Câmara Municipal de Miranda do Douro, Helena Barril.
A autarca mirandesa realçou o potencial económico do concelho, destacando que a agricultura, o turismo e a indústria são os motores de desenvolvimento.
Helena Barril referiu-se ainda ao Parque Natural do Douro Internacional (PNDI), afirmando que esta reserva natural é um fator de progresso, dada a riqueza natural e paisagística, assim como a fauna e a flora aí existentes, que fazem deste parque natural um polo de atração turística.
Por sua vez, o professor Sebastião Feyo, presidente da recém-criada Associação Círculo de Estudos do Centralismo (ACEC) começou por indicar a causa do empobrecimento de concelhos como o de Miranda do Douro.
“O empobrecimento, a dívida pública e as assimetrias do território devem-se ao falhanço das políticas de convergência europeia”, explicou.
Segundo, o professor emérito da Faculdade de Engenharia do Porto (FEP), entre 2011 e 2021, nas cidades fronteiriças de Miranda do Douro a Alcoutim (Algarve), houve uma redução significativa da população residente.
“Infelizmente, as políticas implementadas no interior do país não têm tido visão”, Sebastião Feyo.
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Para inverter este declínio, Sebastião Feyo indicou que há que criar marcas âncora que produzam riqueza nas localidades do interior, como fez, por exemplo, a vila raiana de Campo Maior (Alentejo), onde se destaca a empresa Delta Cafés.
Outro participante na conferência dedicada ao tema do “Crescimento e sustentabilidade, foi Inácio Ribeiro, vice-presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal.
Segundo este responsável, Miranda do Douro tem recursos e potencial para atrair a vinda e a estadia de turistas no concelho.
“Os turistas procuram marcas diferenciadoras e Miranda do Douro tem-nas: tem os pauliteiros, a música tradicional, a língua mirandesa, a gastronomia, a natureza, a história, as raças autóctones, etc.”, elencou.
Em dados turísticos, Inácio Ribeiro informou que, em 2019, Miranda do Douro, registou 40 mil dormidas.
“O turista que escolhe Trás-os-Montes procura paz, tranquilidade, a natureza, a fauna, a gastronomia e a ruralidade” – Inácio Ribeiro.
No miniauditório de Miranda do Douro, José Maria Pires, do Movimento Cultural da Terra de Miranda (MCTM) apresentou as linhas gerais do Plano Estratégico para o desenvolvimento da Terra de Miranda.
O estudo valoriza os recursos existentes neste território, como são a história e a cultura local, a língua, as raças autóctones, a agricultura, os recuros naturais e a produção hidroelétrica.
“A riqueza produzida com a produção de energia hidroelétrica é extrativa e não beneficia a região”, criticou.
Na opinião de José Maria Pires, a Terra de Miranda poderá ser próspera se conseguir a valorizar os seus recursos.
“A Terra de Miranda precisa de taxas de tributação reduzidas, à semelhança do que acontece nas regiões autónomas da Madeira e dos Açores”, sugeriu.
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A conferência prosseguiu com a exposição do historiador, António Mourinho, que realçou a importância da arte, da etnografia, da língua, do artesanato, da música e da dança dos pauliteiros, do teatro popular e da gastronomia como fatores de sustentabilidade.
“Miranda do Douro foi sede de diocese ao longo de 235 anos e a sua a catedral é o principal monumento do património arquitectónico histórico”, indicou.
A conferência culminou com uma mesa redonda, na qual participaram Óscar Afonso, professor da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEUP); Emanuel Soares, vice-presidente da Associação Comercial de Industrial do Concelho de Miranda do Douro (ACIMD); David Salvador, da empresa Europarques EBI e o engenheiro Rui Caseiro, secretário da Comunidade Intermunicipal Terras de Trás-os-Montes (CIM-TT).
Óscar Afonso, começou por chamar a atenção para ao despovoamento do concelho de Miranda do Douro, onde vivem apenas 6466 pessoas.
“ A localidade de Palaçoulo, é a única do concelho que tem conseguido manter a população. E porquê? Porque aí há indústria, onde se destacam as fábricas de cutelaria e de tanoaria.” – Óscar Afonso.
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Analisando a realidade de Sendim, o professor universitário, indicou que a cooperativa Ribadouro chegou a receber cada temporada entre 9 a 12 milhões de quilos de uva. No entanto, atualmente e devido ao despovoamento e ao abandono das vinhas, a cooperativa de Sendim recebe apenas 2 a 3 milhões de quilos de uvas, por ano.
“Houve um constante êxodo dos mais jovens. E hoje, a Terra de Miranda é um território despovoado e envelhacido”, disse.
Não obstante, Óscar Afonso, disse que a zona sul do concelho de Miranda do Douro é propícia à produção de vinho, pelo que a cooperativa Ribadouro pretende modernizar-se de modo a oferecer vinhos de qualidade e competitivos.
Emanuel Soares, da Associação Comercial e Industrial de Miranda do Douro (ACIMD), agradeceu a iniciativa da conferência, sublinhando que Miranda do Douro precisa de mais oportunidades de debate como foi a conferência dedicada ao crescimento e sustentabilidade no concelho.
“Hoje em dia, Miranda do Douro, está numa situação de estagnação económica. Há pouca indústria e estamos voltados quase exclusivamente para o turismo. Para além disso, há muita dificuldade em contratar mão de obra qualificada. Para suprir esta necessidade, a ACIMD está a investir na formação dos profissionais das empresas” – Emanuel Soares.
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David Salvador, da empresa Europarques que proporciona visitas de barco à Estação Biológica Internaciona (EBI)l no rio Douro, informou que para os turistas, a cidade de Miranda do Douro é a principal atração.
“Em Miranda, os turistas querem visitar à concatedral e o centro histórico da cidade. Depois querem almoçar e saborear a posta mirandesa e/ou o bacalhau. Após o almoço, vão ao comércio local, comprar vinho, azeite e artesanato local e ver dançar os pauliteiros”, disse.
Rui Caseiro, da Comunidade Intermunicipal Terras de Trás-os-Montes (CIM-TT), concluiu a conferência reconhecendo que a demografia é um sério problema que afeta todos os municípios transmontanos.
“Quando falta gente, falta mão de obra e falta atividade económica, o que, por sua vez, leva ao empobrecimento da região”, diagnosticou.
Para agir contra este declínio, Rui Caseiro, disse que a CIM-TT pretende apostar na agricultura e desenvolver um plano estratégico de regadio para toda a região.
O secretário da CIM-TT referiu-se também à riqueza natural da região, onde existem os parques naturais, que continuam a atrair um turismo, não de massas, mas de qualidade.
Sobre Miranda do Douro, Rui Caseiro, disse que o concelho é “um armazém de cultura e história”, que atrai não só a visita de portugueses, mas também dos vizinhos espanhóis.
HA
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