Vaticano: Papa pede lugar para Jesus em «humanidade insaciável de dinheiro, poder e prazer»

O Papa presidiu à Missa da noite da solenidade do Natal, questionando a “voracidade em consumir” que atinge a humanidade, sobretudo os pobres e vítimas da guerra.

“Penso sobretudo nas crianças devoradas por guerras, pobreza e injustiça. Mas é precisamente lá que vem Jesus, menino na manjedoura do descarte e da rejeição”, referiu Francisco, na homilia da celebração, conhecida popularmente como ‘Missa do Galo’.

“Tantas guerras! Em tantos lugares, ainda hoje, são espezinhadas a dignidade e a liberdade! E as principais vítimas da voracidade humana são sempre os frágeis, os vulneráveis”, acrescentou.

A intervenção alertou para o risco de se esquecer o significado do Natal, convidando a olhar para a “manjedoura” e aprender com este sinal do presépio, onde “Cristo entra em cena no mundo”, as lições da proximidade, pobreza e da vida concreta.

“Nós somos chamados a ser uma Igreja que adora Jesus pobre, e serve Jesus nos pobres. Como disse um santo bispo: ‘A Igreja apoia e abençoa os esforços tendentes a transformar as estruturas de injustiça colocando apenas uma condição: que as transformações sociais, económicas e políticas redundem em autêntico benefício para os pobres’”, indicou, citando o santo salvadorenho D. Óscar Romero, assassinado em março de 1980.

“Sem os pobres, verdadeiramente não é Natal. Sem eles, festeja-se o Natal, mas não o de Jesus… irmãos, irmãs, no Natal Deus é pobre: renasça a caridade!”.

Francisco sustentou que, como há dois mil anos, “a humanidade insaciável de dinheiro, poder e prazer não dá lugar – como aconteceu com Jesus”, devorando mesmo “os seus vizinhos, os seus irmãos”.

A homilia apontou como “grandes riquezas da vida” as relações, as pessoas e o Menino Jesus, que se pode visitar nas “nas pobres manjedouras do mundo”.

“Não deixemos passar este Natal sem fazer algo de bom. Uma vez que é a festa dele, o seu aniversário, ofereçamos-lhe prendas de que Ele gosta! No Natal, Deus é concreto: em seu nome, façamos renascer um pouco de esperança em quem a perdeu”, apelou.

O Papa admitiu que, para muitos, ver um bebé na manjedoura possa ser uma “cena chocante”, mas destacou que ela “recorda que Deus se fez verdadeiramente carne” e exige uma fé concreta, feita de adoração e caridade.

“Deus nasce numa manjedoura para te fazer renascer precisamente lá onde pensavas ter tocado o fundo”, apontou Francisco, antes de desafiar os presentes a superar “o medo, a resignação, o desânimo”.

Nada mais havia em redor senão quem lhe queria bem: Maria, José e alguns pastores… todos, pobres, irmanados pelo afeto e a maravilha, não por riquezas e grandes possibilidades”.

Nas preces da celebração, os participantes rezaram por quem tem “responsabilidades políticas, sociais e económicas”, para que Deus lhes conceda “a coragem de rejeitar a violência e construir a amizade entre os povos”.

A Eucaristia terminou com o hino ‘Adeste Fideles’, cuja autoria tem sido atribuída ao rei D. João IV (1604-1656).

Ao meio-dia de domingo (11h00 em Lisboa), dia de Natal, o Papa dirigiu uma mensagem e presidiu à bênção ‘Urbi et Orbi’ (à cidade de Roma e ao mundo) a partir da varanda central da Basílica de São Pedro.

Fonte: Ecclesia

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