Reportagem: A tradição da apanha da azeitona e produção de azeite

Nos lagares de Santulhão e Sendim, continuam a decorrer os trabalhos de recepção e transformação da azeitona, mas este ano há uma acentuada redução na colheita e na produção de azeite, devido ao frio que prejudicou a floração das oliveiras e à seca prolongada que se seguiu.

Entrega da azeitona no lagar, em Santulhão.

Se o ano passado foi um ano recorde na produção de azeite, este ano, no lagar de Santulhão, verifica-se uma quebra de 80% na colheita da azeitona, informou o responsável, Adrião Rodrigues.

Esta unidade industrial, trabalha 24 horas por dia e tem capacidade para transformar, diariamente, 40 mil quilos de azeitona.

“O rendimento da azeitona diminuiu em relação ao ano passado. Este ano varia entre os 15% e os 16%. Ou seja, cada 100 quilos de azeitona produzem entre 15 a 16 litros de azeite”, explicou.

Apesar do mau ano agrícola, mesmo assim, os agricultores da região, não deixaram de cumprir a tradição familiar de apanhar a azeitona nos olivais e de a entregar nos lagares, que continuam a laborar para produzir o tão apreciado líquido dourado, o azeite.

A laborar desde 2006, o lagar de azeite de Santulhão, conta atualmente, com 635 associados, provenientes dos concelhos de Vimioso, Macedo de Cavaleiros, Mogadouro, Miranda do Douro e Bragança.

O azeite produzido em Santulhão tem duas marcas próprias: o “Terras do Sabor” e o “Quinta de Arufe”». E este ano, o preço do litro de azeite registou uma subida assinalável e cifra-se nos 5,20€/litro.

Serafim Rosário, produtor de Santulhão, confirmou que houve uma diminuição na quantidade de azeitona.

“Nos olivais antigos, com a variedade ‘santulhana’, tive uma redução de 60% na colheita. Ainda assim, consegui colher uma boa quantidade de azeitona nos novos olivais, com a variedade ‘cobrançosa’”, informou.

O produtor de Santulhão acrescentou que, anualmente, colhe entre seis mil e sete mil quilos de azeitona, mas neste ano atípico, por causa da seca prolongada, estima colher apenas cerca de 4 mil quilos.

Sobre o trabalho da apanha da azeitona, Serafim Rosário, disse que nas oliveiras de grande porte, como são as da variedade “santulhana”, há um grave problema de falta de mão-de-obra.

“A apanha da azeitona ‘santulhana’, nessas árvores centenárias, é um serio problema, dado que a mecanização não consegue fazer esse trabalho. Já na variedade ‘cobrançosa’, cujas oliveiras têm um porte mais pequeno e aberto, a apanha é realizada mecanicamente”, informou.

Na região de Sendim, o responsável da cooperativa olícola Sendinense, Armandino Quitério, informou do atraso da apanha da azeitona, devido à chuva que tem caído nas últimas semanas.

“Este ano há menos quantidade de azeitona e a qualidade também diminuiu. Por isso, o rendimento é menor, dado que a azeitona tem muita água e não produz tanto azeite”, explicou.

A Sendinense – cooperativa olivícola, tem cerca de 500 associados, dos concelhos de Miranda do Douro, Mogadouro e também da vizinha Espanha. Em cada ano, a cooperativa recebe cerca de 1 milhão de quilos de azeitona.

Luís Marcos, agricultor em Sendim, prevê uma redução de 50% na sua colheita, sendo que a variedade predominante nesta região é a azeitona “negrinha”.

“Em média, costumo produzir 800 quilos de azeite. Este ano, estimo produzir apenas 300 quilos”, adiantou.

Segundo o produtor sendinês, a seca e a o clima adverso nos meses de maio e junho, aquando da floração, prejudicou o germinar e o desenvolvimento dos frutos nas oliveiras.

“No ano passado, foi um ano muito bom na colheita de azeitona e na produção de azeite e isso também poderá explicar o menor desempenho das árvores neste ano”, acrescentou.

O azeite produzido na Terra de Miranda é considerado de grande qualidade. Este reconhecimento é a melhor recompensa para os agricultores, dado que todos os anos, as dificuldades mantêm-se: o despovoamento do território faz com que haja pouca gente para cuidar do olival e para apanhar a azeitona. Por isso, é de louvar o esforço dos agricultores e das suas famílias, para manter viva esta cultura, no interior transmontano, despovoado e envelhecido.

HA

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