Entrevista: «O Museu da Terra de Miranda vai ficar mais apelativo e funcional» – Celina Pinto

De 17 a 22 de maio, o Museu da Terra de Miranda vai assinalar o seu 40º aniversário com a realização de várias atividades culturais e educativas e a apresentação pública do projeto de ampliação e remodelação do edifício, que tem como objetivo tornar o museu mais apelativo e funcional, informou Celina Pinto, diretora do museu.

Celina Bárbaro Pinto é a diretora do Museu da Terra de Miranda. (HA)

Terra de Miranda – Notícias: O Museu da Terra de Miranda foi fundado em 1982, com o objetivo de expor as coleções etnográficas representativas da vida social, cultural, económica e religiosa das gentes deste território. Ao celebrar os 40 anos, o Museu da Terra de Miranda atingiu a maturidade?

Celina Pinto: Em termos museológicos nunca se atinge a maturidade plena. Um museu, como todas as instituições, à medida que vão desenvolvendo o seu trabalho estão em contínuo crescimento. Mas sim, estamos felizes pelos 40 anos de trabalho e pelo percurso realizado até aqui.

T. M.N.: Nestes 40 anos, quais foram os momentos mais significativos do museu?

C.P.: A sua fundação, em 1982, foi algo extraordinário para Miranda do Douro. Este feito revela que já naquele tempo, existia uma visão que procurava valorizar a singularidade da cultura mirandesa. E foi graças a essa visão e ao trabalho desenvolvido que se reuniram as condições para criar um museu neste território.

Para além da fundação, também houve outros momentos importantes como as muitas exposições e atividades que aqui se realizaram. E destaco acima de tudo a relação que o museu foi estabelecendo com as pessoas da região e com os seus visitantes.

Nestes 40 anos, também não posso deixar de referir o esquecimento do poder central em relação ao investimento neste edifício. Com exceção da intervenção realizada pela DRCN no espaço de loja e receção, nada mais foi feito. Daí que as obras de fundo que agora vão avançar sejam tão importantes para a sobrevivência deste espaço.

“A fundação do Museu da Terra de Miranda, em 1982, foi algo extraordinário para Miranda do Douro” – Celina Pinto

T. M.N.: E que obras vão realizar no museu?

C.P.: São obras de ampliação e remodelação, com o objetivo de tornar o espaço do museu mais apelativo e funcional para os visitantes e para criar condições mais dignas para os que aqui trabalham. Quando as obras estiverem concluídas (18 meses) pretendemos atualizar o discurso museológico, tonando-o mais atual do ponto de vista da museologia e da museografia.

T.M.N.: As obras vão implicar a demolição de paredes?

C.P.: Sim, este edifício tem muitas limitações estruturais, dado que é um edifício do século XVII, que começou por ser a antiga Câmara Municipal e onde funcionou a cadeia até 1970. Com as obras pretendemos ultrapassar alguns destes constrangimentos e dotar o edifício dos meios necessários para otimizar o seu funcionamento enquanto espaço museológico.

“As obras de ampliação e remodelação do museu visam tornar o espaço mais apelativo e funcional para os visitantes e digno para os que aqui trabalham” – Celina Pinto

T.M.N.: Nesse período o Museu da Terra de Miranda vai estar encerrado?

C.P.: Provisoriamente, o museu vai funcionar no antigo paço episcopal, onde vamos instalar uma exposição temporária com alguns dos objetos da coleção do museu e acolher também os serviços técnicos e administrativos do mesmo.

T.M.N.: As comemorações do 40º aniversário do Museu da Terra de Miranda vão iniciar-se no dia 18 de maio – Dia Internacional dos Museus. O que têm programado para esta data?

C.P.: No dia 18 de maio vamos dar a conhecer o projeto de ampliação e remodelação do edifício. Outro momento de destaque é a homenagem que estamos a preparar para invocar António Maria Mourinho, o fundador do museu. Entendo que as as obras que vamos iniciar são um ponto de viragem no museu e partimos para um momento quase tão importante como a sua fundação. Por isso, a homenagem a António Maria Mourinho tem por objetivo não esquecer a memória do fundador do Museu da Terra de Miranda.

T.M.N.: António Maria Mourinho, realizou um trabalho notável da recolha e preservação do património material e imaterial da Terra de Miranda. Hoje, que trabalho está a ser realizado neste âmbito?

C.P.: No campo do património material, isto é, das coleções de objetos, o trabalho é contínuo e o museu está sempre aberto para receber doações desde que as mesmas vão ao encontro da constituição sistemática das nossas coleções.

No campo imaterial, temos um projeto que vai arrancar neste ano de 2022, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e que consiste na realização de cinco filmes etnográficos. Este registo cinematográfico vai permitir-nos falar com as pessoas e fazer recolhas no terreno, sobre o momento atual das artes e ofícios, do tratamento e transformação da lã, da língua mirandesa, a dança dos pauliteiros, as festas de solstício de inverno, etc.

“Entendo que as as obras que vamos iniciar são um ponto de viragem no museu e partimos para um momento quase tão importante como a sua fundação” – Celina Pinto.

T.M.N.: Ainda no âmbito das comemorações do 40º aniversário do Museu da Terra de Miranda, de 17 a 22 de maio, vão realizar-se diversas atividades educativas. Que atividades são estas?

C.P.: As atividades educativas são desenvolvidas com os alunos do Agrupamento de Escolas de Miranda do Douro, com o intuito de dar-lhes a conhecer os diferentes usos dos objetos e as formas de vida a eles associada que se prende com os nossos antepassados. Trata-se de uma iniciativa que dá a conhecer aos mais novos, o detalhe de alguns elementos decorativos como as rocas, colheres, instrumentos musicais e inclusive alguns móveis caseiros que apresentam interessantes desenhos gravados com facas e/ou outros objetos cortantes.

T.M.N.: E a Feira de Antiguidades e Velharias?

C.P.: A III feira de Velharias e Antiguidades vai decorrer na praça Dom João III e visa dinamizar a economia local, dado o interesse dos vizinhos espanhóis pelas peças mais antigas. Simultaneamente, estas feiras conseguem chamar a atenção das pessoas para o valor das antiguidades. Sublinho que, por vezes, as pessoas têm objetos em casa arrumados, sem utilidade prática, como seja uma alfaia agrícola ou um objeto doméstico, entre outros. Neste sentido queremos sensibilizar as pessoas para não se desfazerem dos mesmos, e se for o caso que optem por doar esses utensílios ao Museu da Terra de Miranda, para integrar as suas coleções.

T.M.N.: Na programação está ainda programado um Festival de Música Tradicional.

C.P.: Sim, o Festival de Música Tradicional vai decorrer nos dias 20 e 21 de maio e resulta do projeto de cooperação transfronteiriça “Termus – Territórios Musicais”. Os concertos vão ser interpretados por grupos portugueses e espanhóis, com o propósito de valorizar a música tradicional da raia.

T.M.N: Para assinalar os 40 anos, o Museu da Terra de Miranda está muito ativo nas redes sociais com a divulgação de publicações, vídeos promocionais e até a oferta de t-shirts. A festa de aniversário promete ser inesquecível?

C.P.: Sim, queremos que o 40º aniversário seja um momento marcante e estamos a despertar as pessoas para a importância do museu. Pretendemos ir ao encontro da nossa comunidade, para que as pessoas sintam que fazem parte da riqueza cultural desta região e por conseguinte são parte ativa do museu da Terra de Miranda.

“Queremos que o 40º aniversário do Museu da Terra de Miranda seja um momento marcante e estamos a sensibilizar as pessoas para que se sintam parte ativa do museu”, Celina Pinto.

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