Miranda do Douro: «O convívio do canto alimenta-nos» – Pedro Mestre

Está a decorrer nos dias 6, 7 e 8 de setembro, na Casa da Música Mirandesa, em Miranda do Douro, uma residência artística, com os músicos Pedro Mestre e Paulo Meirinhos, dedicada ao cante alentejano e às modas mirandesas, com o objetivo de incentivar os participantes a cantar as modas ou cantigas tradicionais.

Pedro Mestre, músico alentejano, é o primeiro convidado da residência artística, na Casa da Música Mirandesa.

De acordo com Paulo Meirinhos, hoje em dia há muita gente nova a aprender música, mas há uma lacuna no canto e em particular, na interpretação vocal nas modas da Terra de Miranda.

O vocalista dos Galandum Galundaina, acrescentou que nas últimas décadas não se acautelou a transmissão oral das cantigas tradicionais aos mais jovens.

“Por isso, é importante recuperar as músicas cantadas, que se ouviam nas aldeias, registá-las e transmitir essa herança cultural”, disse.

Assim, a residência artística, agora promovida pela Casa da Música Mirandesa, tem por objetivo juntar as pessoas, jovens a adultos, em torno de um interesse comum, o canto.

Se antigamente, as músicas tradicionais eram transmitidas no decorrer dos trabalhos coletivos, como a agricultura, o artesanato ou mesmo a extração mineira, atualmente os contextos propícios à transmissão oral são a escola, as associações e as tertúlias entre amigos e familiares.

No final dos três dias da residência artística, Paulo Meirinhos disse que gostaria que os participantes adquirissem o gosto pelo canto das músicas tradicionais e fossem à descoberta de outras músicas.

“Felizmente, na Terra de Miranda, ao longo de várias décadas, foi realizada muita pesquisa e há muitas gravações de músicas e cantigas tradicionais. O investigador, Mário Correia, por exemplo, tem uma coleção significativa destes registos”, indicou.

Músicas como o “Tirioni”, interpretada pela Dulce Pontes, “A ronda dos quatro caminhos” ou o “Galandum” são alguns exemplos das músicas caraterísticas deste território, que podem também ser encontradas no Cancioneiro Tradicional Mirandês.

Por sua vez, Pedro Mestre, quando questionado sobre o que há em comum entre o cante alentejano e as modas mirandesas, o convidado da residência artística, disse que ambos os estilos musicais refletem a identidade de cada território.

“São músicas genuínas de cada região. Quer no Alentejo, quer aqui na Terra de Miranda, estamos a recuperar este legado cultural, para que não desapareça, possa ser conhecido e cantado”, disse.

Hoje em dia, Pedro Mestre corrobora da opinião de que a transmissão oral das cantigas tradicionais acontece sobretudo nas escolas, nos convívios dos jovens com as gerações mais velhas, nas tabernas do Alentejo e na difusão através da internet.

“Estamos a incentivar os jovens a ouvir estas cantigas e a fazer parte de novos projetos musicais. Felizmente, há uma série de associações e de entidades que está a trabalhar pela dinamização do Alentejo. Já estava na moda ser alentejano e agora está na moda ser alentejano e saber o cante alentejano”, afirmou.

Segundo Pedro Mestre, a maior dificuldade na transmissão deste saber oral é a convivência entre os jovens e as gerações mais velhas.

“É difícil ter os jovens nos grupos corais dos adultos, dado que a junção de gerações é sempre mais complexa”, indicou.

Paulo Meirinhos, como professor de música, tem desenvolvido um assinalável trabalho de divulgação da música tradicional junto dos mais novos e também com os adultos da Universidade Sénior.

O músico alentejano deu como exemplo o projeto de valorização da viola campaniça, em São Martinho das Amoreiras, no concelho de Odemira, onde se procura, com muita insistência, juntar os mais novos com os mais velhos.

“Aí, procuramos que haja troca de experiências e de conhecimento. É sempre bom que os mais velhos ouçam e valorizem a opinião dos mais novos. Para depois partilharem com eles o seu conhecimento”, explicou.

De acordo com Pedro Mestre, antes da pandemia, os encontros entre os mais velhos e os mais jovens eram muito frequentes, para cantar, contar histórias e experiências.

“É um hábito que pretendemos voltar a implementar, dado que o convívio que do canto aproxima-nos, cria coesão entre nós e alimenta-nos!”, disse.

Esta primeira residência artística, na Casa da Música Mirandesa, decorre até quinta-feira, dia 8 de setembro.

HA

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