Entrevista: Picote está cada vez mais turístico

A aldeia de Picote é cada vez mais procurada pelos turistas nacionais e estrangeiros, que ficam maravilhados com os recursos naturais e culturais aí preservados, em boa parte graças ao trabalho da freguesia local e do atual presidente, Jorge Lourenço. 

Jorge Lourenço, presidente da freguesia de Picote, junto às bicicletas elétricas. (HA)

Sendo o turismo um setor fundamental para a dinamização da economia do concelho de Miranda do Douro, o projeto Raia Norte Bikes, promovido pelo Agrupamento Europeu de Cooperação Transfronteiriça (AECT) Duero-Douro, em conjunto com o Turismo de Portugal, visa proporcionar aos visitantes e também aos habitantes locais, a possibilidade de conhecer as maravilhas naturais e culturais da região, utilizando um meio de transporte ecológico como é a bicicleta elétrica.

O projeto elaborado para o Agrupamento AECT Duero-Douro consistiu na construção e instalação de 48 bicicletas, em vários municípios e freguesias, entre estas, Picote, como o objetivo de contribuir para a descarbonização do ambiente, para a poupança de energia e um planeta cada vez mais verde.

T.M.N.: Quantas bicicletas elétricas estão disponíveis em Picote? E onde se encontram?

Jorge Lourenço: Neste momento, Picote, disponibiliza quatro bicicletas elétricas que se encontram junto à sede da freguesia. Mas futuramente vai ter seis, dada a crescente afluência de turistas à aldeia. Tal como referiu a secretária de Estado de Valorização do Interior, Isabel Ferreira, embora a pandemia seja uma contrariedade, esta vicissitude levou a que muita gente preferisse passar as férias em regiões mais isoladas, como é o interior do país, o que foi benéfico para estas populações, pois dinamizou um pouco mais a economia local.

T.M.N.: O que tem Picote para oferecer aos visitantes?

J.L.: Ao longo dos anos, aldeia de Picote tem vindo a apostar no turismo de qualidade, de natureza e cultural. O miradouro da fraga do Puio, dada a excelência da sua panorâmica, é um local de visita obrigatória e que tem impulsionado as visitas turísticas a Picote.

T.M.N.: Que outros pontos de interesse existem na aldeia?

J.L.: Destaco a arquitetura tradicional da aldeia que tem vindo a ser cuidada e preservada. Sugiro também uma visita ao Eco Museu Terra Mater e aos painéis dos frescos na capela do Santo Cristo. E claro, há que visitar a arquitetura moderna da barragem de Picote, construída num impressionante estrangulamento do rio. E o edificado no Barrocal do Douro que é um local estudo frequente das maiores escolas de arquitetura do mundo.

T.M.N.: O que é o museu Eco Terra Mater?

J.L.: Trata-se de um projeto estruturante para o desenvolvimento da freguesia e que consiste na recuperação de alguns muros e socalcos das arribas do Douro, fustigados pelos incêndios de 2017. O objetivo desta recuperação é promover a biodiversidade e o ecossistema. Noutra vertente, o projeto contempla a recuperação dos antigos caminhos e pontes das arribas, por exemplo, entre Picote e o Barrocal do Douro.

T.M.N.: O Projeto Terra Mater também tem o contributo da associação local, a FRAUGA?

J.L.: Sim, paralelamente a FRAUGA, está a desenvolver um projeto que visa a ampliação do Centro Interpretativo Terra Mater e que é de extrema importância para a dinâmica de desenvolvimento turístico da aldeia. O nosso propósito é criar a filosofia de um ecomuseu, em que o mais importante não é o que está dentro das paredes, mas sim no exterior. O Centro Interpretativo convida as pessoas a visitar os recursos existentes no território, como são os moinhos de água, a barragem, os castros, os fornos, as forjas, a fogueira de Natal, etc. Com todo este trabalho, o nosso objetivo é dar modernidade a Picote. A exemplo, do que aconteceu há 50 anos, com a construção do aldeamento do Barrocal do Douro por causa da barragem.

“O Centro Interpretativo convida as pessoas a visitar os recursos existentes no território, como são os moinhos de água, a barragem, os castros, os fornos, as forjas, a fogueira de Natal, etc.”

T.M.N.: Em 1996, Picote foi a primeira freguesia do planalto mirandês a colocar as placas toponímias bilingues, em mirandês e português. Desde então o que têm feito para preservar e divulgar a língua mirandesa?

J.L.: Picote, em conjunto com outras entidades, tem promovido a publicação de livros, eventos, estudos e congressos. A preservação e divulgação da língua mirandesa é um trabalho que há que continuar a realizar.

T.M.N.: Dado o despovoamento das aldeias, o que o motiva a continuar a trabalhar por Picote?

J.L.: Se o nosso foco estiver nas pessoas, no desenvolvimento e na melhoria da sua qualidade de vida, certamente vamos estar motivados para o trabalho.

Se o nosso foco estiver nas pessoas, no desenvolvimento e na melhoria da sua qualidade de vida, certamente vamos estar motivados para o trabalho.

T.M.N.: Atualmente, vivem em Picote cerca de 270 habitantes. O que fazem estas pessoas?

J.L.: A maior parte da população residente são ex-funcionários da EDP, que estão a gozar a sua reforma e vão conciliando com a agricultura de subsistência. Também há ex-funcionários de serviços. Há uma serralharia, uma carpintaria, construção civil, um produtor de vinho e uma cozinha regional.

T.M.N.: Nos censos de 2011 para 2021, a aldeia de Picote perdeu 73 pessoas. O despovoamento é inevitável?

J.L.: É difícil estancar o despovoamento. No entanto, podemos criar condições para que as pessoas que cá vivem não emigrem. E também podemos atrair, sazonalmente, os nossos emigrantes e os turistas.

É difícil estancar o despovoamento. No entanto, podemos criar condições para que aqueles que cá vivem não emigrem. E também podemos atrair, sazonalmente, os nossos emigrantes e os turistas.

T.M.N.: No âmbito turístico, o que ainda falta fazer em Picote?

J.L.: Na aldeia, dada a maior afluência de turistas há uma crescente procura de estabelecimentos de restauração e de guias turísticos. Mas isso compete aos privados. A junta de freguesia tem a competência de criar condições e tornar o território atrativo para que o setor privado possa investir na aldeia.

T.M.N.: Picote tem uma pequeno jornal?

J.L.: Sim, a publicação do jornal L’Cuco iniciou-se em 2013, como o anterior presidente da junta de Freguesia. E nós achamos que fazia sentido continuar esse projeto para melhor comunicar e servir a população. Publicamos duas edições por ano. O jornal L’Cuco vai recebendo os contributos de muitos picoteses e barrocalenses, residentes e não residentes, de modo a enriquecer ainda mais a comunicação com a população.

O jornal L’Cuco vai recebendo os contributos de muitos picoteses e barrocalenses, residentes e não residentes, de modo a enriquecer ainda mais a comunicação com a população.

HA

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