Entrevista: «A nossa prioridade é ver a Associação Filarmónica Mirandesa a tocar nas festividades» – Pedro Manhonho

No passado dia 6 de maio foram eleitos os novos órgãos sociais da Associação Filarmónica Mirandesa, para o triénio 2022/2024, tendo assumido a presidência desta coletividade – a mais antiga de Miranda do Douro – Pedro Manhonho, um ex-músico da banda, que pretende devolver o brilhantismo a esta associação e apostar na formação musical das crianças e jovens de modo a assegurar a continuidade e o futuro da associação.

O novo presidente da Associação Filarmónica Mirandesa, Pedro Manhonho foi músico da banda entre 1984 e 1997.

Terra de Miranda – Notícias: A Associação Filarmónica Mirandesa foi fundada em 1893 e é considerada a mais antiga coletividade do concelho de Miranda do Douro. Qual é a sua ligação a esta associação musical?

Pedro Manhonho: Entrei para a Associação Filarmónica Mirandesa em 1984 e ao longo de 13 anos participei como músico na banda filarmónica. Naquele tempo, qualquer jovem mirandês pertencia à associação. Aqui recebemos formação musical gratuita, ministrada por um mestre. As aulas eram, simultaneamente, momentos de convívio e confraternização entre nós. E depois claro, vinham as atuações nas festas, nas procissões, nas arruadas, nos peditórios e nos concertos.

T.M.N: Ao longo de 129 anos, a Associação Filarmónica Mirandesa enfrentou períodos de assinalável brilhantismo, mas também viveu preocupantes dificuldades. Pela sua experiência, quais foram os melhores momentos? E que dificuldades enfrentou a associação?

P.M: Pessoalmente, o mais gratificante foi receber continuamente o incentivo dos meus pais para aprender música e participar na banda filarmónica. Aqui aprendi a ser organizado, metódico e criativo. E ao contrário do que por vezes se pensa, a formação musical não interfere nada com os estudos. Pelo contrário, a música é um complemento importante pois dá disciplina e permite desenvolver outras capacidades. E há ainda o retorno financeiro. Recordo que foi ao tocar na Banda Filarmónica Mirandesa que ganhei o dinheiro para pagar a minha carta de condução.

“O mais gratificante foi receber continuamente o incentivo dos meus pais para aprender música e participar na banda filarmónica. Aqui aprendi a ser organizado, metódico e criativo” – Pedro Manhonho.

T.M.N.: E que dificuldades enfrentou e continua a enfrentar a Banda Filarmónica Mirandesa?

P.M.: O êxodo dos jovens para prosseguir os estudos superiores noutras localidades foi (e continuar a ser) o principal obstáculo para manter a coesão do grupo. Quando estes jovens partem, por norma, não conseguem participar nas atuações da banda, dado que estas atuações ocupam praticamente um dia inteiro. A solução para este problema é investir na formação dos mais jovens para assim assegurar a renovação contínua da banda filarmónica.

T.M.N.: Quantas pessoas integram atualmente a Banda Filarmónica Mirandesa?

P.M.: Neste momento, há 23 jovens que integram a Banda Filarmónica Mirandesa. Por causa da pandemia, os ensaios e as atuações foram interrompidos. Com esta paragem forçada correu a ideia de que a banda não tinha músicos, o que não é verdade. Neste novo recomeço, temos como propósito ir às escolas do concelho apresentar o projeto “A Banda vai à Escola”.

«Neste novo recomeço, temos como propósito ir às escolas do concelho apresentar o projeto “A Banda vai à Escola”.»

T.M.N.: Em Miranda do Douro, existe também a banda musical da associação cultural Mie Miranda. Que colaboração poderá existir com a Banda Filarmónica Mirandesa?

P.M.: A Banda Filarmónica Mirandesa e esta direção, em particular, gostariam de contar com a colaboração dos músicos que hoje compõem a banda da associação cultural “Mie Miranda”. Dado que são músicos de muita qualidade, seriam uma mais valia para nós e poderiam ser de grande ajuda para dar formação e acompanhamento aos mais novos.

T.M.N.: Tendo em consideração que Miranda do Douro está a apostar muito no ensino da música tradicional, ainda haverá espaço e jovens interessados em aprender música, na Banda Filarmónica Mirandesa?

P.M.: Sou da opinião que estas duas vertentes musicais são conciliáveis. E dou o exemplo de jovens que estão a aprender música tradicional e simultaneamente pertencem e tocam na Banda Filarmónica Mirandesa. Por outro lado, também é bom dar às crianças e jovens a possibilidade de escolher o estilo musical que mais gostam.

T.M.N.: Nas atuações nas festividades, o que faz uma Banda Filarmónica?

P.M.: Num dia de festa, a nossa atuação começa com o acompanhamento dos mordomos na realização do peditório logo pela manhã. Segue-se a animação musical da Missa e a procissão. Depois realizamos habitualmente um concerto. E antigamente, havia também a tradição da banda filarmónica acompanhar a entrega da festa aos novos mordomos.

T.M.N.: Consta que nas décadas de 1980 e 1990, a Banda Filarmónica Mirandesa era muito solicitada. Era assim?

P.M.: Sim, de maio e até ao final de setembro, os fins-de-semana estavam sempre ocupados na animação das festividades. Recordo que no meu tempo de músico, para além das atuações no concelho de Miranda do Douro, chegámos a atuar em localidades como a Régua, Vilas Boas, Mirandela, Vila Flor e muitas outras localidades.

“Para além das atuações no concelho de Miranda do Douro, chegámos a atuar em localidades como a Régua, Vilas Boas, Mirandela, Vila Flor e muitas outras localidades.”

T.M.N.: As Bandas Filarmónicas têm a particularidade de juntar pessoas de todas as idades, dos mais velhos aos mais jovens. Este convívio entre gerações é uma mais-valia?

P.M.: Sim, esta intergeracionalidade é uma vantagem porque os músicos mais experientes transmitem segurança e serenidade aos mais novos.

T.M.N.: Quem vai ser o maestro da Associação Filarmónica Mirandesa?

P.M.: Pretendemos que o novo maestro da Banda Filarmónica Mirandesa seja alguém com raízes em Miranda do Douro. E por várias razões: em primeiro lugar, pelo conhecimento que já tenha da associação e dos músicos. A segunda razão é a de evitar as viagens, o desgaste e por vezes os imprevistos de alguém que não seja de Miranda do Douro. E a terceira razão prende-se com o acompanhamento dos alunos, pois acreditamos que um maestro natural de Miranda do Douro, pode prestar uma melhor assistência aos alunos, dada a maior proximidade e disponibilidade.

T.M.N.: Quando pretendem iniciar os ensaios da Banda Filarmónica Mirandesa?

P.M.: Em princípio vamos começar os ensaios neste mês de junho. E seria muitíssimo bom se conseguíssemos começar as atuações no mês de agosto. Se não for possível, pelo menos queremos realizar alguns concertos na rua.

T.M.N.: Que tradições da Associação Filarmónica Mirandesa seria importante preservar?

P.M.: Uma tradição que pretendemos recuperar é o concerto que a Banda Filarmónica Mirandesa costumava oferecer na festa da cidade, no dia 10 de julho. Este concerto costumava realizar-se no coreto e depois passou para a praça D. João III. Outro propósito desta direção é organizar um encontro ibérico de Bandas Filarmónicas, aqui em Miranda do Douro.

T.M.N.: Para o triénio 2022/2024, quais são as prioridades da nova direção da Associação Filarmónica Mirandesa?

P.M.: A primeira prioridade é colocar de novo a Associação Filarmómica Mirandesa a tocar nas festividades do concelho de Miranda do Douro. Outra área prioritária é apostar na formação das crianças e jovens de todo o concelho para assegurar o futuro da associação.

T.M.N: Que outras iniciativas pretendem realizar?

P.M.: Esta nova direção pretende motivar os associados a ter uma voz ativa e a regularizar as quotas. Para fomentar esta cooperação entre todos, uma das nossas primeiras iniciativas é organizar o almoço convívio dos músicos e ex-músicos da associação, no Santuário de Nossa Senhora do Naso.

Uma das nossas primeiras iniciativas é organizar o almoço convívio dos músicos e ex-músicos da associação, no Santuário de Nossa Senhora do Naso.

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