Dia Internacional da Mulher: «Sou a primeira mulher a integrar a equipa executiva do município de Vimioso» – Carina Lopes

Carina Machado Lopes é professora, casada e mãe de dois filhos. Natural de Argozelo, licenciou-se em línguas e exerceu a docência ao longo de 15 anos. O entusiasmo pelo saber fê-la iniciar e concluir um mestrado sobre a importância da cultura no desenvolvimento local. Esta investigação despertou-lhe o interesse por uma participação política mais ativa. Nas eleições autárquicas de setembro de 2021 foi convidada para integrar a lista do PSD. Com a vitória, foi eleita a primeira mulher vereadora da Câmara Municipal de Vimioso.

Carina Lopes é vereadora da Câmara Municipal de Vimioso (HA)

Terra de Miranda – Notícias: Celebrou-se a 8 de março, o Dia Internacional da Mulher, para celebrar as conquistas das mulheres nos contextos culturais, sócioeconómicos e políticos. Carina Lopes Machado é a primeira mulher a integrar uma equipa executiva da Câmara Municipal de Vimioso. Como podem as mulheres assumir, cada vez mais, cargos de responsabilidade e liderança política?

Carina Machado Lopes: Por razões culturais, a predominância de homens na política foi sempre uma constante. Recentemente, a lei da paridade foi um grande contributo para que eu e outras mulheres tivéssemos mais oportunidades de assumir responsabilidades políticas e governativas.

T.M.N.: Quando diz que a predominância dos homens na política se deve a uma questão cultural, refere-se a quê?

C.M.L.: Significa que nós as mulheres sempre tivemos o trabalho acrescido do casamento, da maternidade, da educação dos filhos, da lida da casa, etc., e isso acabava por ocupar muito do nosso tempo. Ao passo que os homens sempre tiveram mais disponibilidade para se dedicarem à carreira profissional e à política. Mas hoje em dia, a realidade está a mudar. Veja-se, por exemplo que, atualmente no ensino superior há mais mulheres do que homens.

T.M.N.: Assumiu o cargo de vereadora na Câmara Municipal de Vimioso em outubro de 2021. Passados 5 meses, o que mudou na sua vida?

C.M.L.: Antes, eu era professora e o volume de trabalho é similar ao que realizo agora como autarca. A grande diferença é que agora passo um pouco mais de tempo fora de casa, por força dos constantes compromissos, reuniões, atividades e eventos promovidos pelo município de Vimioso.

T.M.N.: Tendo adquirido formação e experiência profissional na área do ensino, o que a motivou a enveredar pela política?

C.M.L.: Sou da opinião que a política precisa, cada vez mais, de pessoas com vontade de trabalhar. Há dez anos que sou militante do partido social-democrata (PSD) e sempre me interessei pela política. É verdade que o meu percurso foi na área do ensino, onde concluí duas licenciaturas em português-francês e português-espanhol. Iniciei depois um mestrado em cultura, com a preocupação de relacionar a área cultural com a política. Pensei que se um dia viesse a trabalhar numa autarquia gostaria de trabalhar na área cultural. Daí que o tema da minha tese de mestrado seja a “Importância da cultura no desenvolvimento local”. Ou seja, como é que cultura pode desenvolver os territórios?

T.M.N.: E investigou os concelhos de Vimioso, Miranda do Douro e Bragança?

C.M.L.: Sim, são três concelhos que conheço bem. Concluí que é precisamente através da cultura que se desenvolvem territórios de baixa densidade populacional. Nestas localidades, quase não há indústrias, o despovoamento é contínuo e só há uma maneira de dar a conhecer a região: é através dos aspetos culturais que nos caraterizam e diferenciam. Há que divulgar o território e a sua cultura. E a cultura inclui a gastronomia, o património, as tradições, os usos e costumes, etc.

T.M.N.: O que mais se destaca culturalmente nestes três concelhos?

C.M.L.: Nos concelhos de Vimioso, Miranda do Douro e Bragança há um património imenso. E há também inúmeras festas e eventos. No concelho de Vimioso verifiquei que a grande lacuna era a deficiente divulgação das atividades e promoção do património. E dou o exemplo das Termas de Vimioso. Este complexo termal é único no distrito de Bragança! Mas só por si, não dá suficiente projeção e visibilidade ao concelho. E porquê? Porque não podemos divulgar as termas isoladamente. Quem vem às termas, também quer ir almoçar a um restaurante, quer saber que unidades hoteleiras existem em Vimioso e quer saber ainda que outras atividades e eventos estão a acontecer no concelho.

T.M.N.: Vimioso tem pouca oferta hoteleira?

C.M.L.: Sim, essa é outra lacuna. Gostaríamos, por exemplo, de organizar excursões para os visitantes usufruírem das termas e do concelho.  Mas a oferta de camas é reduzida, pelo que precisamos de um investidor para construir um hotel com maior capacidade de alojamento em Vimioso.

T.M.N.: O turismo é importante para estes concelhos?

C.M.L.: Sim, o turismo é muito importante para esta região. Porque a nossa principal necessidade é a afluência e a fixação de pessoas neste território. Daí que a maior fatia do investimento deva ser na área cultural, com o objetivo de despertar o interesse das pessoas e atrair gente e investimento para o nosso concelho.

T.M.N.: Miranda do Douro é um bom exemplo na atração de turistas?

C.M.L.: Sim, surpreendentemente! Em 2018, verifiquei que Miranda do Douro tinha mais turistas do que a capital de distrito, Bragança. E porquê? Por causa das campanhas de divulgação. Quando se visita uma cidade ou uma localidade, é importante dar a conhecer às pessoas o que aí existe: o castelo, o museu, o restaurante, o hotel, o cinema, o teatro, os pauliteiros, os gaiteiros, a catedral, as termas, etc. Isso não significa que os turistas estejam interessados em visitar tudo. Mas é importante informá-los sobre as várias possibilidades e os horários de funcionamento. Em Vimioso, por exemplo, constatei que as termas e outros equipamentos não estão abertos aos fim-de-semana e isso é contraproducente.

T.M.N.: Ao longo destes dois anos de pandemia, a proibição dos eventos culturais criou nas pessoas um vazio?

C.M.L.: Sim e isso é bem revelador da importância que a cultura tem na vida das pessoas. Recorrentemente ouvíamos dizer: que falta me faz o cinema! Que falta me faz o teatro! O futebol! As caminhadas! Etc. E quando é que os restaurantes têm mais afluência de pessoas? Quando há eventos, atividades e espetáculos. Por essa razão se diz que a cultura é o motor da atividade económica.

T.M.N.: Quando lhe surgiu a oportunidade de participar mais ativamente na política local?

C.M.L.: Foi através de um convite, inesperado, do Dr. Jorge Fidalgo, presidente da Câmara Municipal de Vimioso. E aceitei porque me senti preparada para o cargo, dado que tenho formação nas áreas da educação e da cultura, os pelouros que estão sob a minha responsabilidade. Para além disso, vi neste convite uma oportunidade para crescer profissionalmente, para conhecer uma nova realidade e novas pessoas e sobretudo para fazer algo pelo meu concelho.

T.M.N.: Carina Machado Lopes é casada e mãe de dois filhos. Com a sua entrada na política local, que contributo gostaria de dar para que os mais novos possam ter melhores condições de vida, no concelho de Vimioso?

C.M.L.: Fiz o primeiro discurso político na minha aldeia, em Argozelo, no decorrer da campanha eleitoral. E nesse discurso disse que a minha prioridade são as crianças e os jovens. Nesta região despovoada e envelhecida damos muita atenção às pessoas idosas. E ainda bem! Mas não podemos esquecer os mais novos. Temos que proporcionar-lhes condições, atividades e oportunidades para que cresçam e aprendam com entusiasmo e responsabilidade. Nesta faixa etária, o acesso à cultura também é muito importante. Por essa razão, o município de Vimioso esforça-se por proporcionar-lhes as melhores condições. Dou o exemplo do projeto “O cientista vai à escola”, que vai ser financiado pelo município de Vimioso, com o objetivo de proporcionar inovadoras oportunidades de aprendizagem.

T.M.N.: A distância geográfica do concelho é uma desvantagem?

C.M.L.: Sim, é outro obstáculo. Nós gostaríamos de oferecer às crianças e jovens do concelho outras possibilidades formativas, como aulas de música, de ballet ou de inglês. Contudo, temos dificuldade em contratar professores e profissionais que se disponibilizem a vir lecionar a Vimioso, duas horas por semana. Para complicar a situação, os alunos não vivem todos em Vimioso mas estão dispersos pelas aldeias do concelho.

T.M.N.: Que outros apoios presta a autarquia à juventude?

C.M.L.: A Câmara Municipal de Vimioso apoia os alunos que estudam no ensino superior, com o pagamento das propinas. Também os alunos que estudam no secundário noutras localidades, o município comparticipa com um apoio no transporte. Relativamente ao ensino secundário, sublinho que continuamos a exigir ao governo a implementação dos 10º, 11º e 12º anos, no agrupamento de escolas de Vimioso, que atualmente tem 237 alunos. Mais uma vez lembro que a partir do 9º ano, os nossos jovens são obrigados a ir estudar para outras localidades. E muitos deles acabam por desistir de estudar, pela impossibilidade de pagar as despesas do alojamento, da alimentação e do transporte. Enfim, sem os serviços básicos de educação e de saúde, não há nenhum município que consiga desenvolver-se.

T.M.N: Que mensagem gostaria de enviar às mulheres para que assumam mais responsabilidades e cargos de liderança na sociedade e na política?

C.M.L.: Na minha opinião, as mulheres sempre assumiram a liderança no dia-a-dia. E fazem-no muito bem. Dou o exemplo de duas mulheres, aqui no concelho de Vimioso, que são presidentes de Junta freguesia e são muito competentes. O mais importante é ser justa e fazer o bem o trabalho. Se assim procedermos, estou certa que vamos desempenhar o trabalho tão bem ou até melhor do que os homens.


Perfil

Carina Machado Lopes nasceu a 25 de março de 1982. É casada e mãe de 2 filhos.

É a atual vereadora, em regime de permanência, na Câmara Municipal de Vimioso.

Desde 2005, exerceu a docência em vários estabelecimentos de ensino: na Escola EB 2,3 de Arco de Baúlhe, no Instituto do Emprego e Formação Profissional-Bragança, no Lancaster College, no Instituto Politécnico de Bragança (IPB) e no Ministério da Educação.

Em 2006, licenciou-se em ensino de Português e Francês, pela Universidade do Minho.

Em 2009, concluiu outra licenciatura em Línguas e Literaturas Europeias.

Em 2018, apresentou a Dissertação de Mestrado em Comunicação, Arte e Cultura, dedicado ao tema: “A cultura nas estratégias de desenvolvimento local no distrito de Bragança”, tendo obtido 16 Valores, pela Universidade do Minho.

Atualmente é doutoranda em Ciências da Cultura, na UTAD.

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