Barrocal do Douro: Hardança deram vida à capela do Moderno Escondido

A capela do Moderno Escondido, no Barrocal do Douro, foi o palco do concerto de Outono, protagonizado pelo grupo “Hardança”, que na tarde de Domingo, dia 5 de novembro, presenteou o público com um repertório de músicas, muitas delas cantadas na língua mirandesa e inspiradas no amor às gentes e tradições da Terra de Miranda.

“Hardança” é uma palavra mirandesa, que significa “herança”. Segundo Fabíola Mourinho, este nome foi escolhido para agradecer a herança cultural da Terra de Miranda.

Na tarde de Domingo, dia 5 de novembro, o quarteto “Hardança”, constituído por Fabíola Mourinho, Bruno Berça, Licínio Castro e Amadeu Soares iniciaram o concerto agradecendo a oportunidade de atuar num espaço tão emblemático, como a capela que integra o complexo habitacional, dos antigos construtores da barragem de Picote.

“Foi um gosto enorme puder atuar aqui e dar vida a este espaço, que por causa do despovoamento não é muito utilizado para estes fins culturais. A par disso, para nós, os Hardança, é sempre um motivo de grande felicidade levar a música a localidades e a pessoas que vivem mais isoladas e não têm muitas oportunidades de assistir a um concerto musical”, disse a vocalista, Fabíola Mourinho.

Na plateia da capela do Moderno Escondido, estavam algumas pessoas do Barrocal do Douro, onde atualmente vivem cerca de 50 habitantes. Margarida Vale é a zeladora da capela de Santa Bárbara. Veio na década de 1950 para esta região, acompanhando os pais, que vieram trabalhar na construção da barragem de Picote.

“Tinha cinco anos quando viemos da Póvoa do Lanhoso para Picote. O complexo habitacional do Moderno Escondido, merece ser visitado. Este concerto aqui na capela (que pertence à EDP), é um modo de dar a conhecer a beleza arquitetónica deste espaço”, disse.

Recorde-se que o complexo habitacional de Picote, edificado por ocasião da construção das centrais eléctricas do Douro, entre os anos de 1953 e 1964, é da autoria dos arquitetos Archer de Carvalho, Nunes Almeida e Rogério Ramos

Noutros tempos, este complexo habitacional, também conhecido como “Moderno Escondido: Arquitetura das Centrais Hidroelétricas do Douro” incluiu uma zona com habitações para operários, uma escola, uma igreja, um centro comercial, casas para o pessoal dirigente e uma pousada.

A capela de Santa Bárbara, mantém as linhas originais e no seu interior existem três esculturas em madeira de Cristo, de Nossa Senhora e de Santa Bárbara, peças esculpidas em madeira por Salvador Barata Feyo, um escultor modernista português.

No concerto de Outono realizado nesta capela, os “Hardança” presentearam o público com músicas como “Baile no terreiro”, “À porta da Tia Maria”, Serrobico, bico, bico”, “Nasceu o Menino” e encerreram a sua atuação com “Daqui não saio”, uma canção que é um hino à resiliência do povo transmontano.

No final do concerto, o público estava visivelmente impressionado com a “simbiose” entre a atuação musical dos Hardança e a funcionalidade da capela do Moderno Escondido. Foi o caso de Glória Fidalgo, que veio acompanhada da filha, Maria.

“Vim pelo concerto, porque o grupo Hardança faz músicas inspirando-se no Cancioneiro Tradicional Mirandês e por isso tem um mensagem para todos os que vivemos nesta região. E vim também pela singularidade e beleza deste espaço arquitetónico, que é a capela do complexo habitacional do Moderno Escondido”, disse.

Para o presidente da freguesia de Picote, Jorge Lourenço, eventos culturais como este concerto de Outono, são sempre iniciativas que despertam o interesse das pessoas e atraem público às localidades.

“Aliar a música ao património, como aconteceu hoje na capela do Barrocal do Douro, onde para além da excelência da arquitetura deste edifício existem ainda esculturas de grande valor do escultor Barata Feio, são motivos suficientes para a vinda de público a esta localidade”, disse.

Na perspectiva do autarca, para fomentar estas visitas ao património existente no Barrocal do Douro é necessário um trabalho conjunto entre o município, a freguesia e as empresas proprietárias, como são a EDP e a atual concessionária do empreendimento hidroelétrico, a Movhera.

A presidente do município de Miranda do Douro, Helena Barril, sublinhou que o propósito dos concertos de Outono é convidar as pessoas a reunirem-se à volta da música, nas igrejas e espaços mais emblemáticas de cada localidade do concelho.

“Com estes concertos queremos promover, simultaneamente, a música, os músicos locais e o património religioso. E nesta tarde, com o concerto dos Hardança, na Capela do Moderno Escondido, no Barrocal do Douro, ficou mais uma vez evidente que a cultura atrai o público e é um fator de desenvolvimento local”, justificou.

O ciclo de Concertos de Outono prossegue no serão do próximo sábado, dia 11 de novembro, às 21h00, na concatedral de Miranda do Douro, com a “Ópera na Academia e na Cidade – Boccherini e Mozart”.

HA

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