Cultura: «A pintura também se aprende» – Balbina Mendes
Após vários meses sem mostras culturais por causa da pandemia, a Casa da Cultura de Vimioso inaugurou a exposição de pintura “O Rosto, Máscara intemporal”, da autoria de Balbina Mendes, que pode ser visitada até 18 de julho.
A apresentação da exposição realizou-se no serão do dia 3 de junho, e estiveram presentes o presidente da Câmara Municipal de Vimioso, Jorge Fidalgo e demais membros do executivo, assim como inúmeras pessoas que puderam contemplar as obras da artista plástica, ao som do grupo musical “Hardança” e da interpretação poética de Duarte Martins.
Terra de Miranda – Notícias: Balbina Mendes nasceu em 1955, em Malhadas, Miranda do Douro. Quando descobriu o gosto pela pintura?
Balbina Mendes: Sempre tive uma aptidão natural para a imagem e as artes visuais. E quando tive oportunidade aprofundei os conhecimentos sobre a pintura, o que se revelou muito importante, pois a pintura também se aprende. E assim, o que inicialmente era uma tendência e uma vontade de pintar, hoje é algo mais pensado e assente no conhecimento.
T.M.N.: Decidiu estudar e concluiu um Mestrado em Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP). O que se aprende na Faculdade de Belas Artes?
B.M.: Na faculdade de Belas Artes, no Porto, aprendi muito porque tive professores de excelência. E também aprendi muito com os colegas. Para além disso, o ambiente académico exige o trabalho de investigação, onde me confrontei e analisei outras linguagens e abordagens, o que foi muito importante. Em suma, a pintura também se aprende, também se estuda e é assim que se evolui nesta área.
T.M.N.: Em 1989, no Porto, mostrou pela primeira vez os seus trabalhos numa exposição coletiva, que viria a ser um êxito. Foi esta exposição que a motivou a enveredar pela carreira artística?
B.M.: Sim, foi a minha primeira participação como artista autodidata numa exposição coletiva com outros artistas. Correu muito bem, o que me deu ânimo para continuar. Depois, em 1995, fiz a primeira exposição individual, no centro Paulo Quintela, em Bragança.
T.M.N.: Atualmente Balbina Mendes dedica-se em exclusivo à pintura. Mas antes foi professora, é assim?
B.M.: Sim, fui professora do primeiro ciclo e trabalhei com crianças durante muitos anos. Foi uma experiência muito enriquecedora, porque as crianças são muito criativas e aprende-se muito com elas. Algumas destas crianças, antigos alunos com quem mantenho contato, dizem-me que optaram pela carreira artística, inspirados pelas exposições, pelos ateliers de artistas e práticas de arte dramáticas que realizámos na escola. É gratificante saber isso.
T.M.N.: Para se dedicar por inteiro à pintura teve que deixar o ensino?
B.M.: Sim, não era possível compatibilizar as duas atividades. Na altura, já tinha idade e tempo de serviço suficiente para sair do ensino com alguma tranquilidade financeira, o que me permite dedicar-me por inteiro à pintura.
T.M.N.: Que exposição é esta “O Rosto, Máscara Intemporal”?
B.M.: Esta exposição é uma evolução do processo dedicado às máscaras. A primeira máscara que pintei foi a máscara medonha do chocalheiro de Bemposta. Essa primeira pintura deu aso a que pintasse as quarenta máscaras dos rituais de inverno de Trás-os-Montes e Alto Douro. A atual exposição “Rosto, Máscara Intemporal” é uma evolução e significa que o conceito “máscara” não tem tempo, não tem limite, não esgota. É, portanto, um manancial.
T.M.N.: Esta coleção intima-nos a ver. Nestas pinturas sobressai o olhar?
B.M.: Sim, esta exposição é diferente. Eu senti necessidade de agarrar o olhar do representado, uma vez que ele está atrás de uma máscara. E esse olhar comunica com o interlocutor, com o público, confrontando-o. Curiosamente, é pelo olhar que eu começo cada pintura. Se eu conseguir que aquele olhar comunique comigo, eu avanço com a pintura. Se não, se aquele olhar ficar insípido ou desviado não avanço e recomeço outra pintura. É importante que o olhar do mascarado comunique com quem o está a ver.
T.M.N.: Tem realizado muitas exposições do seu trabalho em Trás-os-Montes. Sente-se acarinhada pelos transmontanos?
B.M.: Sim, sinto-me muito acarinhada. Creio que já expus em todas as cidades e vilas transmontanas. A minha pintura, por norma, é facilmente interpretável. Esta nova coleção, talvez nem tanto e por isso, em algumas das pinturas coloquei uma pequena memória descritiva para ajudar as pessoas nessa interpretação. Está programado que esta série de pinturas seja exibida em todas as cidades e vilas transmontanas, até 2023.
Até 18 de julho, a exposição “O Rosto, Máscara Intemporal” pode ser visitada na Casa da Cultura de Vimioso, de segunda a sexta-feira, das 9h00 às 12h30 e das 13h30 às 17h00. Aos sábados, Domingos e feriados o horário de visita é das 14h30 às 17h30 horas.
HA