Reportagem: Ora et labora

As Irmãs da Ordem Cisterciense da Estrita Observância (OCSO), conhecidas como monjas trapistas, chegaram a Portugal em outubro de 2020 para fundar o Mosteiro de Santa Maria, Mãe da Igreja, em Palaçoulo, um local que já é uma referência de oração e de trabalho, com a identidade do Evangelho. (por Hugo Anes)

A comunidade das Irmãs Trapistas, em Palaçoulo. (HA)

A Irmã Giusy Maffini é a superiora do novo mosteiro trapista de Santa Maria, Mãe da Igreja, em Palaçoulo. Ela foi uma das primeiras irmãs a chegar a Portugal e contou que esta aventura começou com um desejo que havia na ordem Cisterciense da Estrita Observância (OCSO): o de voltar a ter uma presença em Portugal.

Este desejo começou a tornar-se realidade em 2017, aquando do centenário das Aparições de Nossa Senhora, em Fátima. Nesse ano, a comunidade de monjas trapistas, ligada ao Mosteiro de Vitorchiano, em Itália, encontrou-se com o Bispo de Bragança-Miranda, Dom José Cordeiro, que se disponibilizou para acolher o mosteiro trapista, na diocese transmontana. Este acolhimento foi para as irmãs um “sinal de Deus”.

No ano seguinte, em 2018, o Mosteiro de Santa Maria, Mãe da Igreja, começou a ser construído no lugar do Alacão, na freguesia de Palaçoulo (Miranda do Douro). Os terrenos foram doados pela paróquia de S. Miguel de Palaçoulo, em colaboração com 25 paroquianos e a junta de freguesia local.

Para a superiora da comunidade das irmãs trapistas, a irmã Giusy, esta localização é a ideal para a forma de vida das religiosas. “A ordem cisterciense sempre procurou lugares desertos e isolados, onde pudessem dedicar-se com maior disponibilidade à oração e ao trabalho”, disse.

A hospedaria do mosteiro já está construída e começou a receber os primeiros hóspedes: estudantes, pessoas que querem fazer retiros e até mesmo famílias, todos podem hospedar-se no novo espaço. Aí, os hóspedes podem partilhar com as irmãs trapistas um tempo da sua vida, em retiro, individualmente ou em grupo, ao acompanhar as religiosas nos momentos de oração, na capela.

Pela estadia na hospedagem não existe um preço estabelecido. “As pessoas oferecem o que quiserem. Há pessoas que oferecem muito mais do que aquilo que precisamos. E outras oferecem menos. Nós seguimos a regra de São Bento, que nos ensina a acolher os hóspedes como se fosse o próprio Cristo”, revelou a superiora da comunidade trapista.

“Seguimos a regra de São Bento, que nos ensina a acolher os hóspedes como se fosse o próprio Cristo” – Irmã Giusy Maffini

Se a hospedaria já está funcionamento, o mosteiro vai começar a ser construído no final do verão e vai decorrer ao longo dos próximos anos. Esta construção vai ser financiada pela ordem religiosa cisterciense e espera pelo apoio outras congregações religiosas, de donativos e da venda de alguns produtos.

“Ainda não temos todo o dinheiro necessário para a construção do mosteiro. A nossa ordem disponibilizou-se para ajudar e também agradecemos a generosidade das pessoas. Confiamos que aquilo que Deus inicia, também vai concluir”, disse a irmã Giusy.

A par da vida de oração, as monjas trapistas procuram ganhar a vida com o seu trabalho. Para além dos produtos de confeitaria, como são as compotas, bolachas e doces, também fabricam peças de artesanato, como os terços, livros e outros artigos religiosos.

O dia-a-dia das irmãs começa muito cedo. Às 3h30 da manhã rezam a oração das vigílias, é a primeira oração do dia, durante a qual relembram o amor de Deus pelo povo de Israel e pela humanidade. “O nosso primeiro trabalho é procurar a Deus e tentar viver o Evangelho entre nós. Esta é a nossa principal missão, que consiste em viver numa autêntica comunhão entre nós para assim converter o nosso coração”, explicou a irmã Giusy.

De segunda a sexta-feira, a eucaristia é celebrada às 8h00 da manhã, pelo pároco da aldeia, o padre António Pires. Aos sábados, cabe ao Bispo da diocese, Dom José Cordeiro ou ao vigário geral, Monsenhor Adelino Paes presidir à celebração eucarística, às 12h00. Ao Domingo, a Eucaristia Dominical celebra-se às 8h30.

O mosteiro é um lugar de contemplação, de silêncio e de paz e quem se aproxima deste local recebe a vida que cativou estas mulheres corajosas. – Dom José Cordeiro, Bispo de Bragança-Miranda

A Irmã Giusy, superiora da comunidade trapista revelou que as irmãs estão a gostar de viver em Palaçoulo. “Sim, vale sempre a pena servir a vida, em qualquer lugar do mundo. O que mais gosto nesta região de Palaçoulo é o sossego. A natureza é lindíssima. E a alma repousa neste ambiente.”

Num mosteiro de vida monástica, a comunidade das irmãs trapistas vive para a oração, o trabalho e o acolhimento. Se para muitos este estilo de vida causa estranheza, para as religiosas é uma vida cheia de sentido e de beleza. “É verdade que é uma vida de ascese, mas é também uma vida linda”, revelou a irmã Giusy.

De acordo com o monsenhor Adelino Paes, vigário-geral da diocese de Bragança-Miranda, o mosteiro e a presença das irmãs trapistas, em Palaçoulo, já é uma referência. “Aqui reza-se. Aqui as pessoas encontram-se com Deus, descansam e sentem-se bem. As irmãs, com a sua oração, trabalho e ação contínua são como um para-raios para benefício deste concelho e de toda a diocese.”

“É verdade que é uma vida de ascese, mas é também uma vida linda” – Irmã Giusy Maffini


Celebração da eucaristia, na capela da hospedaria do Mosteiro de Santa Maria, Mãe da Igreja, em Palaçoulo.

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