VI DOMINGO DO TEMPO COMUM

Integridade

Sir 15, 16-21 / Slm 118 (119), 1-2.4-5.17-18.33-34 / 1 Cor 2, 6-10 / Mt 5, 17-37

As pessoas que escutavam Jesus estavam confusas. Umas perguntavam-se «quem é que Ele pensa que é para reinterpretar os mandamentos?», enquanto outras questionavam: «como pode ser Ele o Messias se desafia os preceitos de Deus?». Então como agora, a vida e os ensinamentos de Jesus são desconcertantes e pedem, mais que muito pensar, a ousadia de caminhar com o Mestre.

Jesus começa por afirmar que não vem revogar a Lei ou os Profetas, mas sim completar. Contudo, ao mesmo tempo, insiste em traçar a diferença entre o que «foi dito aos antigos» e o que Ele agora diz.

Guardemos, do muito que hoje escutámos, a seguinte frase: «se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos Céus». Aqui está a fonte de vida deste nosso domingo: mais do que obedecer e cumprir, há que fazermo-nos acompanhar pela justiça do Reino. É a isso que Ele nos desafia nos nossos juramentos, relações e violências.

Simplesmente «não matar» é ficar aquém do amor, pois há palavras, gestos e olhares que, não implicando a morte física do outro, são golpes mortais na nossa relação com ele e com Deus. Há que cuidar do outro, reconciliar-se com o outro, bendizer o outro, perdoar e pedir perdão.

Ser fiel, no nosso matrimónio ou no nosso sacerdócio, vai além de uma «inação»: implica pureza de coração. Quando alimentamos fantasias que contrariam o nosso estado de vida criamos um lugar para que estas se instalem. Não é inócuo! Ao abrir as portas do nosso coração a desejos pouco condizentes com a nossa condição, concedemos espaço à possibilidade de abandono daqueles que Deus nos confiou e aos quais pertencemos. Colocamos a traição no horizonte dos possíveis. Somos já infiéis no coração, como diz Cristo, e tornamo-nos vulneráveis à sombra.

E quanto a juramentos, Jesus é categórico: não juremos. Atuemos de forma que o nosso «sim» e o nosso «não» dispensem juras, dispensem outra segurança que a da palavra dada.

Jesus desafia-nos à integridade em pensamentos e atos, em palavras e desejos, dispostos a ir além do que «os antigos ouviram». E isto porque os «legalistas» e «sábios» de todos os tempos, que veem no cumprimento da norma uma garantia contratual de salvação, não entrarão no Reino se permanecerem fechados à profundidade do amor do nosso Deus, do amor que ultrapassa todas as medidas.

A Lei e os Profetas, a totalidade da Sagrada Escritura e da Tradição da Igreja, não são para se cumprir, mas sim para se completar com o nosso amor. São caminho a percorrer, que, como qualquer caminho, nos marca e nos molda e passa a fazer parte de quem somos. Arrisquemos o caminho da virtude, com a Lei e os Profetas como companheiros de viagem, e subamos ao topo da montanha de Deus. Então poderemos ver a salvação prometida por Deus, contemplar a Terra Prometida e, com a graça de Deus, aí entrar e habitar.

Fonte: Rede Mundial de Oração do Papa

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