São Pedro da Silva: VIII Jornadas Micológicas mostraram a riqueza ambiental da Terra de Miranda

A localidade de São Pedro da Silva, no concelho de Miranda do Douro, acolheu no sábado, dia 19 de novembro, as VIII Jornadas Micológicas, uma iniciativa em que o grande objetivo foi a recolha e identificação de cogumelos silvestres e ao mesmo tempo a atividade proporcionou aos 130 participantes um dia de lazer e de convívio.

De acordo com a bióloga, Raquel Afonso, esta atividade anual, organizada pelo município de Miranda do Douro, tem por objetivo promover o estudo, conservação e valorização dos recursos micológicos do concelho de Miranda do Douro.

Os cogumelos silvestres têm valor ambiental, científico, educativo, gastronómico e económico. E a realização das jornadas micológicas permitem a recolha, identificação e catalogação da micologia local”, informou Raquel Afonso.

De acordo com Raquel Afonso, o interesse e a adesão das pessoas pelas Jornadas Micológicas está a aumentar de ano para ano.

“Há cada vez mais pessoas a interessar-se pela micologia. Este ano, em São Pedro da Silva, definimos dois percursos para abranger a maior diversidade possível de cogumelos silvestres. Esta região é muito rica em termos ambientais, seja na micologia, como também na flora, com destaque para as ervas medicinais”, informou.

Um dos participantes nas VIII Jornadas Micológicas, em São Pedro da Silva, foi Nélson Marrão. Veio com a esposa, de Baçal, no concelho de Bragança, dado o interesse e o gosto que tem pelos cogumelos silvestres.

“Felicito o município de Miranda do Douro por dar importância a este recurso natural que são os cogumelos silvestres. Este ano, o evento conta com a participação do espanhol, Juan Antonio Sanchez, um dos melhores especialistas em micologia e eu, pessoalmente, vim para aprender e conhecer melhor os cogumelos que nascem neste território”, disse.

Os “boletos” são os cogumelos silvestres preferidos de Nélson Marrão, que os cozinha grelhados tal “como um bife” ou então numa sertã com azeite e alho.

Já para Regina Santos a apanha dos cogumelos é uma atividade terapêutica.

“Eu podia andar um dia inteiro apanhar cogumelos! Até me esqueço das horas! Aprendi com o meu pai, desde pequenina, a apanhar boletos para vender e para comer. E eu ganhei esse gosto!”, disse.

O presidente da Xixorra – Associação Micológica, Filipe Marrão, sublinhou que apanha dos cogumelos silvestres exige um prévio conhecimento e muito cuidado dada a toxicidade de várias espécies.

“A Xixorra – Associação Micológica surgiu no âmbito de uma formação realizada em 2006, em Bragança, por incentivo do formador
Juan Antonio Sanchez, que ao ver o nosso entusiasmo pelos cogumelos silvestres, animou-nos a constituir uma associação”, recordou.

Desde essa data, a Xixorra tem desenvolvido uma estreita colaboração com o município de Miranda do Douro, apoiando anualmente a realização das Jornadas Micológicas e a constituição do Ecocentro Micológico da Terra de Miranda.

O presidente Xixorra – Associação Micológica, Filipe Marrão, referiu-se ainda à inexistência em Portugal, de legislação que regulamente a apanha e comercialização dos cogumelos silvestres.

“Um dos primeiros objetivos da Xixorra – Associação Micológica foi criar essa legislação, inspirados pelo que já existe na vizinha Espanha. A legislação já foi entregue ao ministério, mas até ao momento ainda não saiu da gaveta. Dada a inexistência de regras há um mercado negro na venda e compra de cogumelos em Portugal”, disse.

Segundo a Xixorra, no nordeste transmonano nascem centenas de espécies de cogumelos silvestres, uns são comestíveis e outros são tóxicos e venenosos, mas todos importantes para o ecossistema.

“Devemos ter muito respeito pela natureza, porque mesmo os cogumelos que não são comestíveis têm uma função ecológica: uns ajudam as árvores a crescer, outros são decompositores na matéria orgânica”, explicou.

As jornadas micológicas são uma iniciativa da Câmara Municipal de Miranda do Douro, em colaboração com a CoraNE – Associação de Desenvolvimento dos Concelhos da Raia Nordestina e a Xixorra – Associação Micológica.

A presidente do município de Miranda do Douro, Helena Barril é uma assídua participante nas Jornadas Micológicas.

“Gosto muito de conhecer e valorizar os recursos que a natureza nos dá, como é hoje o caso dos cogumelos silvestres. E as VIII Jornadas Micológicas deste ano, em São Pedro da Silva, permitiram verificar a riqueza e a diversidade de cogumelos que existem na Terra de Miranda”, disse.

Por sua vez, o presidente da União de Freguesias de São Pedro da Silva e Águas-Vivas, Silvino da Silva, expressou a sua satisfação pela realização do encontro na freguesia.

“Segundo a organização das VIII Jornadas Micológicas, foram recolhidas muitas espécies de cogumelos silvestres e algumas delas muito raras. Esta diversidade de espécies micológicas vai motivar a vinda de mais pessoas à aldeia, o que é uma mais-valia pois gera entusiamo na população local”, informou.

Por sua vez, Francisco Fidalgo, natural de São Pedro da Silva, corroborou dessa opinião e mostrou-se entusiasmado com a realização das VIII Jornadas Micológicas na aldeia.

“Depois dos dois anos de isolamento forçado por causa da pandemia, este encontro micológico permitiu-nos conviver. E o convívio traz-nos vida! Ao mesmo tempo que promove a partilha de saberes entre as pessoas”, concluiu.

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