Tradições: Algoso voltou a festejar o Ramo de São João
A festa do Ramo de São João voltou a realizar-se no Domingo Gordo, dia 27 de fevereiro, proporcionando à população de Algoso, um momento de convívio e degustação dos saborosos roscos, uns bolos tradicionais cuja venda se destina à organização da festa de São João, a 24 de junho.
A festa do Ramo de São João, em Algoso, acontece anualmente no chamado Domingo Gordo, que antecede a terça-feira de Carnaval e o início da Quaresma.
Tal como noutras aldeias do nordeste transmontano, também em Algoso, os protagonistas da festa são os bolos designados por roscos.
Segundo Ana Maria Fernandes, a confeção destes bolos tem como grande propósito angariar dinheiro para organizar a festa de São João Batista, a 24 de junho.
Após a interrupção forçada por causa da pandemia, as gentes de Algoso voltaram a meter as mãos na massa, para retomar a tradição.
“Algoso tem quatro bairros: o bairro do Caminho do Campo, o do Vale, o da Praça e o bairro da Lagoa. Anualmente, a festa do Ramo é organizada por um deste bairros, para obter dinheiro para a sardinhada e o baile de São João”, explicou.
Este ano, foi a vez do bairro da Praça organizar a festa. Carlos Martins, natural de Algoso e mordomo da festa, disse que por causa da pandemia e para evitar grande aglomeração de pessoas, o andor não foi totalmente ornamentado com os roscos.
Antigamente, os roscos eram cozidos nos fornos familiares. Os mordomos da festa percorriam a aldeia para pedir a farinha, os ovos, a manteiga e o açúcar ou então aceitavam dinheiro para comprar os ingredientes para confeccionar os roscos.
No entanto, devido ao despovoamento da aldeia e ao envelhecimento da população, a confeção dos roscos passou a ser feita nas padarias.
Assim, na sexta-feira, dia 25 de fevereiro, as mulheres da aldeia foram para a padaria preparar e cozer os roscos: amassaram a massa, partiram 90 dúzias de ovos, juntaram-lhe açúcar, manteiga, azeite, sumo da laranja e aguardente. Para depois enroscarem e cozerem os roscos.
“Enquanto trabalhávamos, cantámos, rimos e convivemos”, disse Ana Maria Fernandes.
No sábado, a tradição manda que as jovens raparigas vão para a sacristia da igreja enfeitar o andor do Ramo com os roscos.
E no Domingo, dia da festa, após a participação na Eucaristia Dominical, os ramos de oliveira enfeitados com os roscos, são apregoados e leiloados pelos jovens rapazes e pelas crianças à volta da igreja.
Segundo a senhora Ana Maria Fernandes, antigamente, os ramos maiores, os que tinham muitos roscos, chegavam a ser vendidos por 1000 escudos.
Na festa de Domingo, destacam-se ainda as tradicionais corridas das gerações: solteiros, casados, jovens e até as crianças competem entre si numa corrida para ganhar as roscas, uns bolos em forma de coroa.
“Antigamente, as corridas da rosca realizavam-se entre a igreja e a capela de São Roque”, lembrou Ana Fernandes.
O dinheiro angariado com a venda dos roscos tem como destino a organização da Festa de São João Batista, a 24 de junho.
O que move as pessoas de Algoso a preservar estas tradições não é o lucro, mas sim o cuidar e consolidar os laços de pertença e solidariedade entre as pessoas da aldeia.
De acordo com a presidente da freguesia, Cristina Miguel, Algoso é uma aldeia de tradições, que as suas gentes gostam de preservar.
“A festa do Ramo de São João é uma das tradições mais queridas da aldeia. Este ano, organizámos uma festa mais pequena por causa da pandemia. Ainda assim, após a Missa, os roscos foram vendidos num ápice e realizaram-se as tradicionais corridas das roscas”, disse.
Entretanto, a festa maior de Algoso é dedicada à Assunção de Nossa Senhora ao Céu, no dia 15 de agosto.
“A freguesia de Algoso vai continuar a trabalhar para preservar estas festividades e tradições, pois são elas que mantêm os laços de pertença e de união entre os algosenses”, disse Cristina Miguel.
HA