Reportagem: Jovens empreendedores
Ser empreendedor é ser capaz de transformar dificuldades em oportunidades. Para isso, é necessária a capacidade de planear e executar, a resiliência e a criatividade. Foi o que fizeram Isabel Sá e Alfredo Cordeiro, dois jovens que com a lã das ovelhas e a fruta dos pomares criaram os projetos “Lhana” e “Cristus”. (Por Hugo Anes)
O projeto “Lhana”, da autoria de Isabel Sá, surgiu em 2012, quando a jovem engenheira do ambiente, trabalhava pela associação ALDEIA, junto dos criadores de ovinos de raça churra galega mirandesa. Da comunicação com os pastores apercebeu-se que a lã dos ovinos, que antigamente era utilizada na confeção do vestuário, era um encargo para os criadores, pois não sabiam o que fazer com essa matéria-prima. Isso surpreendeu-a bastante. “Como é que a lã não tem utilidade?” – questionou-se. A partir daí debruçou-se sobre este problema e veio a concluir que, para além do valor histórico e cultural, a lã poderia ser reaproveitada para novos usos.
A oportunidade
Isabel Sá decidiu ela própria investir no aproveitamento e transformação da lã dos ovinos. Começou por comprar a lã aos criadores a um preço justo. E de seguida, recuperou antigos ofícios, como a fiação manual, a tecelagem e confeção de malhas. Para realizar este trabalho encontrou muitas senhoras que ainda sabem fiar e tecer à mão. No entanto, constatou que apenas as pessoas mais velhas saibam estes ofícios e não se transmita este conhecimento aos mais jovens. “Este conhecimento merece ser preservado, valorizado e transmitido”, alerta.
“Como é que a lã não tem utilidade?” – questionou-se. A partir daí debruçou-se sobre este problema e veio a concluir que, para além do valor histórico e cultural, a lã poderia ser reaproveitada para novos usos.
O ciclo da lã
Isabel Sá aprendeu a manusear a lã e agora transmite este conhecimento através do workshop “O ciclo da lã”. Nesta atividade, a engenheira ambiental dá a conhecer as diversas fases de manuseio desta matéria-prima, onde são feitas demonstrações de lavagem, cardação, fiação, tinturaria, malha e tecelagem.
“A lã dá muito trabalho” – diz. E explica que o ciclo da lã começa no pastoreio. “Depois da tosquia, a lã tem que ser lavada, aberta, cardada ou penteada dependendo do objetivo de fazer fio ou feltro”. Outras tarefas são a fiação manual com a roca e o fuso, a tinturaria e a tecelagem. “Todas estas etapas são demoradas”, disse.
Os vários produtos
No projeto ‘Lhana’ transforma-se a lã em vários produtos finais: fios de lã, estojos didáticos, sabonetes esfoliantes e artigos em feltro.
Atualmente, Isabel Sá está a desenvolver novos produtos com a técnica do feltro. “Tenho aproveitado este período da pandemia para fazer várias formações online, com gente de todo o mundo e depois aplico esse conhecimento no desenvolvimento de novos produtos”, revelou.
“A lã dá muito trabalho. O ciclo começa no pastoreio e depois da tosquia, a lã tem que ser lavada, aberta, cardada ou penteada dependendo do objetivo de fazer fio ou feltro.”
Ser empreendedor
Os produtos do projeto ‘Lhana’ já estão à venda nos Museus da zona norte e também noutras lojas espalhadas pelo país. Simultaneamente, Isabel Sá, está a trabalhar na construção de um site, que sirva de montra digital e permita um contato mais direto com o público.
Em 2018, o projeto ‘Lhana’ foi vencedor do Prémio Empreendedorismo e Inovação Crédito Agrícola. Este prémio foi um reconhecimento do projeto de Isabel Sá, como uma boa prática ligada à sustentabilidade ambiental. Perguntámos à premiada, o que é preciso para ser-se empreendedor, ao que a jovem engenheira ambiental respondeu: “Ter gosto pelo que se faz, ser curioso e interessado é meio caminho andado!”
Em 2018, o projeto ‘Lhana’ foi vencedor do Prémio Empreendedorismo e Inovação Crédito Agrícola.