V Domingo da Páscoa
Permanecer e pertencer
At 9, 26-31 / Slm 21 (22), 26b-27.28.30-32 / 1 Jo 3, 18-24 / Jo 15, 1-8
Como pode um ramo manter-se vivo? Um ramo de uma árvore, ao ser cortado, decairá e morrerá. É a sua pertença ao corpo que lhe transmite vida e lhe permitirá dar muito fruto.
Através da alegoria da videira, Jesus apresenta-nos no Evangelho de hoje uma imagem bela de quem Ele é, de quem o Pai é e de quem nós somos. E, se escutarmos com atenção, discreta mas inelutavelmente, também a presença do Espírito se intui. O Pai é o agricultor, aquele que prepara a terra, que lança a semente e, desde que é um pequeno rebento, protege, guarda e limpa a vide. Jesus é Ele mesmo a videira, que estende os seus braços pelo campo fora, buscando chegar mais longe, procurando alcançar tudo e todos, crescendo para lá do horizonte. E nós somos os ramos, prolongamento de Cristo, cuidados pelo Pai e que dão fruto porque permanecem ligados à vide.
A tentação maior dos nossos dias é a autossuficiência. Esta é a ilusão de que podemos fazer tudo sozinhos. Mas tal não é verdade. A única forma de dar fruto, como nos aponta Jesus, é permanecer na vide, é não nos separarmos da fonte da vida, é assegurar que a seiva, isto é, o Espírito que percorre o corpo de Cristo, continua a alcançar-nos e que, através de nós, chegará até outros.
O Pai envia o seu Filho e nós fazemos parte do seu corpo, a Igreja. É aqui, na relação comunitária, que os dons são partilhados, que a vida brota, que o fruto nasce. Rejeitemos qualquer individualismo, pois este é estéril e não dará fruto. Só estes «permanecer e pertencer» nos levam a uma relação contínua com o Pai, que nos limpa com o seu perdão, e nos permitem a oração no Espírito, que nos transmite vida. Só ao permanecer e pertencer nos deixamos fazer e nos tornamos corpo de Cristo, algo que se dá através dos sacramentos, principalmente da Eucaristia.
Permanecer e pertencer implica relação com o Pai, oração no Espírito e vida sacramental que nos torna membros do corpo de Cristo. É ao permanecer em Cristo que nos tornamos fecundos no mundo. É daqui que brota todo o fruto. E o fruto da videira é a uva, que, levada ao lagar das obras de misericórdia, nos dará a beber o vinho da ressurreição, da vida nova, o vinho que é a alegria da festa.