Igreja: “Há pressa no ar”, é o hino musical das JMJ Lisboa 2023
A canção “Há pressa no ar” é o hino da Jornada Mundial da Juventude, que vai realizar-se em Lisboa, em 2023, e foi inspirada no tema «Maria levantou-se e partiu apressadamente» (Lc1,39).
O próximo encontro internacional dos jovens com o Papa (Jornada Mundial da Juventude), vai realizar-se na capital portuguesa, no verão de 2023, e ao longo de uma semana, jovens de todo o mundo, vão ter a oportunidade de conhecer o nosso país e confraternizar entre si, num evento que é simultaneamente, uma peregrinação, uma festa e um momento único de evangelização do mundo juvenil.
O hino das JMJ 2023 é a canção “Há Pressa no Ar”, com letra de João Paulo Vaz, sacerdote, e música de Pedro Ferreira, professor e músico, ambos da diocese de Coimbra, no centro de Portugal. Os arranjos musicais são de Carlos Garcia.
O tema foi gravado, em duas versões: em português e na versão internacional em
cinco idiomas (português, inglês, espanhol, francês e italiano).
Ao cantar este hino, os jovens de todo o mundo são convidados a identificarem-se
com Maria, dispondo-se ao serviço, à missão e à transformação do mundo.
A letra evoca também a festa da JMJ e a alegria centrada na relação com Deus.
O Concurso que elegeu a música
A canção oficial da JMJ Lisboa 2023 foi escolhida em concurso nacional, aberto à participação de portugueses maiores de idade. O Comité Organizador Local (COL) recebeu mais de uma centena de candidaturas, que foram analisadas por um júri composto por profissionais das áreas da música e das artes.
Como requisitos principais para a participação na competição foi pedido aos participantes que o hino oficial se inspirasse no lema da JMJ 2023, definido pelo Papa Francisco; nos objetivos da JMJ, entre os quais sobressai o da evangelização; e na cultura portuguesa.
O processo de produção em estúdio, realizado em 2020, envolveu jovens de todo o país, alguns dos quais participantes na competição que, apesar de não terem sido selecionados, integraram o coro da gravação final.
Uma canção que nasceu para unir
A melodia nasceu primeiro do que a letra, contam os autores. Pedro Ferreira, de 41 anos, compôs, numa “pequena sala, sozinho ao piano”, uma melodia “pensada para congregar, unir uma comunidade”.
Com outros amigos da Banda da Paróquia, grupo musical que integra, pediu ao padre João Paulo Vaz para escrever a letra.
“Não alterando em nada a melodia, e com a guitarra na mão, fui escrevendo, como costumo fazer”, recorda o sacerdote, de 51 anos.
“O tema da edição de Lisboa [‘Maria levantou-se a partiu apressadamente’ (Lc 1, 39)] levou-me a rever a minha relação com a Mãe e, portanto, o processo criativo da letra tornou-se um tempo de oração muito profundo para mim.”, partilha João Paulo Vaz.
Quando ao estilo, foi solicitada no concurso “uma música popular, alegre, juvenil, fácil de aprender e de fácil tradução e adaptação”.
Os arranjos musicais de “Há Pressa no Ar” são da autoria do músico Carlos Garcia.
“Ao ouvir o tema, o Carlos acaba por se apropriar da melodia e num trabalho notável – não lhe mexe na estrutura, na forma – enriquece-a de uma forma única”, sublinha o autor da melodia, Pedro Ferreira, que foi fundador da banda portuguesa Anaquim, entre outros projetos musicais.
MCTM: Carta aberta aos Senhores Deputados à Assembleia da República
O Senhor Ministro analisou, mandou alterar e aprovou a realização do contrato quetransmitiu a concessão da exploração das barragens, mas não assegurou ter acautelado o pagamento, pela EDP, de qualquer contrapartida, nem ter cuidado de garantir o pagamento dos impostos devidos pela operação.
Apesar disso, estava alertado, pelo Movimento Cultural da Terra de Miranda(MCTM), pessoalmente e por escrito, para a possibilidade de o contrato conter cláusulas de planeamento fiscal, o que veio a ocorrer, sem que o Senhor Ministro nada tenha feito, ao contrário do que era sua obrigação legal.
Assim, o MCTM exorta os Senhores Deputados, como representantes do Povoportuguês, no cumprimento da função parlamentar de escrutínio do Governo, que exijam resposta clara e definitiva às seguintes questões:
1) Qual é o valor da contrapartida financeira exigida pelo Governo à EDP pelamais-valia adicional que lhe foi proporcionada pela autorização da realização de um negócio que não estava previsto no contrato inicial?
2) Por que motivo, quando o Ministro Manuel Pinho prorrogou as concessões,obrigou a EDP a pagar aproximadamente 700 milhões de euros ao Estado e agora nada foi exigido?
3) Qual é o valor de IRC que a EDP vai pagar por efeito desta mais-valia, ou oGoverno sabe que nada vai ser pago?
4) Qual é o valor do Imposto do Selo pago pela EDP, por efeito da cisão e daconsequente transmissão (trespasse) da concessão a favor da empresa veículo, queconstituiu para a realização do negócio?
5) Qual é o valor do Imposto do Selo a pagar pelas entidades adquirentes porefeito da fusão com aquela empresa veículo e da correspondente transmissão (trespasse) da concessão?
6) Acautelou o Senhor Ministro que o contrato de venda não contivesse cláusulasde planeamento fiscal tendentes a evitar o pagamento destes impostos?
7) O Senhor Ministro confirma que havia sido alertado por escrito, pelo MCTM,para a possibilidade de existirem cláusulas de planeamento fiscal destinadas a evitar o pagamento dos impostos devidos por operações deste tipo?
Covid-19: Lares da Misericórdia e de Palaçoulo registam infeções
O lar do Senhor da Misericórdia e o lar de Palaçoulo, tutelados pela Misericórdia de Miranda do Douro, estão a ser afetados por surtos do coronavírus, entre utentes e funcionários”, informou a provedora da Instituição.
O número de mortes associadas à covid-19 no Lar da Misericórdia de Miranda do Douro subiu para 11 e todos os 61 utentes estão infetados pelo SARS-CoV-2
O lar de Palaçoulo, tutelado pela Misericórdia de Miranda do Douro, tem 30 pessoas infetadas pelo novo coronavírus, entre utentes e funcionários”, informou a provedora da Instituição.
Segundo a responsável, há idosos com “sintoma ligeiros”, mas a maioria está “estável”.
A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.979.596 mortos resultantes de mais de 92,3 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 8.236 pessoas dos 507.108 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Entrevista: «Com Deus a vida tem mais sentido» – Dom José Cordeiro
Como já é tradição, o Bispo de Bragança-Miranda veio celebrar a solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, à Concatedral de Miranda do Douro para assim reforçar a unidade e a comunhão da Igreja diocesana.
Terra de Miranda Notícias: No dia 1 de janeiro, Dom José Cordeiro veio celebrar a Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, em Miranda do Douro. Que significado tem a presença do Sr. Bispo, em Miranda do Douro, neste primeiro dia do novo ano?
Dom José Cordeiro.: Tem o significado da unidade e de comunhão em toda a diocese. Acresce também o facto de a diocese ter nascido aqui e por isso faz parte dos deveres do Bispo visitar Miranda do Douro. Decidi realizar estas visitas na oitava do Natal e na oitava da Páscoa, para que seja realmente verdade aquilo que pronunciamos ao dizer: diocese de Bragança-Miranda. Na atitude agradecida da história, queremos continuar a ser a Igreja, que peregrina neste território. E Miranda do Douro tem sempre encanto, não só pela beleza da Concatedral, mas também por ter sido o berço da diocese.
T.M.N.: Neste dia também se celebrou o Dia Mundial da Paz. Este ano, o Santo Padre Francisco escolheu como tema da sua mensagem: “A cultura do cuidado como percurso de paz”. Na diocese de Bragança-Miranda, a vinda das Irmãs Trapistas para Palaçoulo vem aportar um maior cuidado e zelo espiritual à diocese? O que podemos (re)aprender com as pessoas que enveredam pela vida religiosa?
D.J.C.: O Papa Francisco quando recebeu as Irmãs antes da sua vinda, disse-lhes que vinham para Portugal, o que quer dizer que o desafio é maior. Para nós é uma enorme graça, ter sido escolhida a Terra de Miranda para o acolhimento deste mosteiro Trapista, de Santa Maria Mãe da Igreja, em Palaçoulo. A presença desta comunidade monástica é como aproximar-se de uma fonte cristalina numa terra deserta. Quem ali for que se sinta habitado pelo silêncio. Na nobre simplicidade e na sóbria beleza da liturgia, do trabalho e da vida das Irmãs, os mosteiros sempre foram lugares de cultura, de catequese, de culto e de caridade. Auguramos que o mosteiro de Santa Maria, Mãe de Deus, em Palaçoulo, seja isso mesmo. Ao mesmo tempo que pedimos a Deus, o dom das novas vocações, sobretudo vocações portuguesas, porque este mosteiro está sonhado para quarenta monjas. Dez já lá estão. Faltam 30. E trinta hão de surgir, portuguesas ou de outros países, que sintam esta interpelação para uma felicidade plena, vivida no silêncio e no encontro do mosteiro.
“Para nós é uma enorme graça, ter sido escolhida a Terra de Miranda para o acolhimento deste mosteiro Trapista, de Santa Maria, Mãe da Igreja, em Palaçoulo.”
T.M.N.: Inspirou-se nas palavras de uma Monja Beneditina para escrever a homília da Missa de Natal: «Perco-me na profundidade do grande mistério: mistério luminoso na noite; mistério do eterno no tempo; mistério do espírito na carne; mistério do Tudo no nada». Porque se diz que Deus é mistério? Deus esconde-se de nós?
D.J.C: Essas palavras são Ana Maria Cánopi, uma monja que já vive a eternidade e que teve um ministério muito fecundo. O mosteiro onde ela viveu e que restaurou, na diocese de Novara, em Itália, tem cerca de 100 monjas. O que ela escreveu acerca do Natal, está num livro muito expressivo de poemas, que se chama “Pezinhos nus”. De facto, a palavra “mistério” para muitos ainda assusta e às vezes não se entende bem na cultura em que vivemos. Mas mistério não é um enigma, não é um segredo, não é nada de misterioso. É uma Pessoa. É Deus no meio de nós. E celebrar o Natal é sobretudo aprofundar a nossa fé. Porque o Natal só à luz da Páscoa se pode compreender. E de facto, muitos cristãos continuam a viver essa fé infantil, muito envolta na representação das lendas, das histórias ou do sentimento do Natal, mas não do espírito do Natal. E o verdadeiro espírito do Natal é esse mistério que nos ultrapassa, porque é Deus que vem ao nosso encontro. A fé é sobretudo essa iniciativa de Deus que vem ao nosso encontro, da nossa humanidade fragilizada. E estes tempos que estamos a viver mostram isso mesmo.
“A fé é sobretudo essa iniciativa de Deus que vem ao nosso encontro, da nossa humanidade fragilizada.”
T.M.N.: Na noite de Natal costumava jantar com alguns estudantes internacionais do IPB e com outras pessoas que vivem sós. Este ano, por causa da pandemia, como viveu a noite de Natal?
D.J.C.: Este ano não foi possível juntarmo-nos. Houve anos em que nos juntávamos mais de 200 pessoas, sobretudo aqueles que passavam sós o Natal, como os estudantes internacionais. Também não tive oportunidade de visitar os hospitais e as cadeias de Bragança e de Izeda, como habitualmente fazia. Mas tive a graça, com a Cáritas Diocesana, de ir ao encontro de algumas famílias, com mais carências e de alguns jovens estudantes internacionais, que nos abriram a porta do seu coração e aceitaram a generosidade de muitos benfeitores e de instituições. Estes fizeram chegar à Cáritas as suas doações para podermos partilhar o verdadeiro e autêntico espírito do Natal. Que não pode ficar circunscrito a um dia, tem de ser todos os dias, porque Deus nasce e renasce cada vez que temos essa atitude mais humana, mais próxima e mais fraterna.
“Deus nasce e renasce cada vez que temos essa atitude mais humana, mais próxima e mais fraterna.”
T.M.N.: Na sua homília da Missa da Noite de Natal escreveu: “A noite da pandemia que atravessamos seja Páscoa para um novo tempo de paz, justiça, amor, liberdade, fraternidade e amizade social.” São Paulo ensinou-nos que de tudo se pode retirar um bem. Que bem se pode retirar desta pandemia?
D.J.C.: A pandemia é um mal. Todos nós reconhecemos e estamos a atravessá-la como se fosse a noite escura da história mundial. Esta crise trouxe muitas outras crises. Mas a crise é também um momento de purificação, de convergência para o essencial, do dom da vida e da vida como dom. Por isso, há muito bem que podemos colher disto que realmente é um grande mal. No provérbio popular diz-se que há males que vêm por bem. Não é que a pandemia seja um bem, é um grande mal. No entanto, Deus dá-nos a força, a coragem e a criatividade para nos voltarmos para aquilo que dá sentido à nossa vida. E de estarmos mais próximos de todos, sobretudo dos que mais precisam. Há muita gente que vive só. Se calhar o maior mal é a solidão forçada. Na nossa diocese sabemos que existem mais de 3.000 pessoas que vivem sós, em suas casas. Muitas delas têm o sentido da companhia de Deus, da oração e de alguns vizinhos que velam por eles. Mas uma boa parte destas pessoas vive mesmo só e às vezes esquecidos. Daí que, em todas as aldeias, vilas, cidades, bairros temos que ser mais próximos e estar mais atentos aos vizinhos, às pessoas com quem vivemos e convivemos. Este tempo da pandemia trouxe talvez essa maior atenção e abertura. Há pessoas que me têm dito que viviam na mesma rua e no mesmo prédio e não se conheciam. E agora passaram a conhecer-se. É a tal cultura do cuidado que o Papa Francisco nos desafia a praticar na fé e na vida, uns com os outros e uns pelos outros.
“Este tempo da pandemia trouxe talvez essa maior atenção e abertura. Há pessoas que me têm dito que viviam na mesma rua e no mesmo prédio e não se conheciam. E agora passaram a conhecer-se.”
T.M.N.: Com a pandemia aumentaram em Portugal, os pedidos de ajuda, devido às dificuldades económicas e ao desemprego. Recentemente, D. José Cordeiro acompanhou uma equipa da Cáritas Diocesana e distribuiu cabazes de Natal a famílias carenciadas em vários concelhos. Na diocese de Bragança-Miranda também há situações de pobreza?
D.J.C.: Há, sobretudo nos meios onde existe mais gente, como é o eixo Bragança – Macedo de Cavaleiros – Mirandela. Em Bragança, onde tenho mais oportunidade e facilidade de conhecer a realidade existe muita pobreza envergonhada. Há muitas pessoas que viviam do seu trabalho, que foi suspenso ou lhe foi retirado, e têm dificuldade em trazer o pão de todos os dias para casa. Bragança tem hoje uma nova realidade, com muitos migrantes e muitos estudantes internacionais. Alguns destes estudantes vêm com bons apoios e bolsas de estudo. Mas há outros estudantes, que por vezes, se veem-se em situações muito complicadas e têm encontrado na Cáritas e noutras instituições – como o recém-formado grupo Jovens Sem Sofá – a resposta às suas necessidades. Para além destes, também há muitas outras pessoas que não têm sequer a coragem de bater à porta. Por isso, é preciso estar muito atento, para irmos ao seu encontro. É de realçar que muitos destes jovens estudantes necessitados só têm pedido o que realmente precisam. E sabem que há outros que passam pelas mesmas dificuldades. Felizmente tem havido muitas pessoas e instituições que têm dado à Cáritas, para que a Cáritas possa assisti-los.
T.M.N.: Sermos mais atentos e cuidadosos uns com os outros. É esse o sonho que tem para a Diocese de Bragança-Miranda?
D.J.C.: O nosso projeto pastoral de três anos, rumo à Jornadas Mundial da Juventude 2023, que se vai realizar em Lisboa, também têm esse sonho de sermos uma Igreja mais servidora da humanidade. Uma Igreja que educa, que celebra e que festeja. Significa isto que é uma Igreja que está atenta a todas as dimensões da vida humana, para que seja um cuidado integral. E de facto esse é um sonho. E esperamos que cada vez mais se vá tornando uma realidade. Sonhar para a frente. Sem esquecer que temos um passado, uma história da qual estamos agradecidos. Também temos este presente duro e difícil que enfrentamos. Mas acreditamos que Deus é maior e quer o nosso maior bem. Nós que somos criados à imagem e semelhança de Deus. Tendo -O connosco, a vida tem mais sentido, temos mais coragem, mais inteligência, mais esperança para enfrentar as contrariedades da vida. É por isso que mantemos esse sonho, de sonhar para a frente e em grande, como Deus faz connosco.
“Tendo Deus connosco, a vida tem mais sentido, temos mais coragem, mais inteligência, mais esperança para enfrentar as contrariedades da vida.”
HA
Homilia
Senhora Mãe de Deus e da Igreja
Na conclusão da oitava do Natal sabe bem cantar com regozijo a Senhora Mãe, a Santa Maria Maior: «Ó Virgem gloriosa, Mãe de Deus, ó filha predileta do Altíssimo, habitou em teu seio virginal Aquele que o mundo todo não contém, ó Virgem, que à luz deste a luz do mundo, Senhora, Mãe de Cristo e nossa Mãe!» (Hino da Liturgia das Horas).
Hoje, a narrativa do Evangelho refere a reação de Maria ao ver a adoração dos pastores ao Menino Jesus, acentuando: «Maria conservava todos estes acontecimentos, meditando-os em seu coração». O coração guarda a memória agradecida que faz a grande transformação da história. Guardar no coração, é meditar com ternura. O Mistério contempla-se no silêncio crente e orante.
O primeiro dia do novo ano educa-nos a celebrar e a festejar com esperança a Mãe de Deus e nossa Senhora com o amor de S. José. E, brota espontâneo da nossa alma o desejo enorme de um feliz, abençoado e favorável ano 2021.
A gramática do cuidado integral
O Papa Francisco, na sua mensagem para este 54º dia mundial da Paz, desperta-nos para «a cultura do cuidado como percurso de Paz». Ao constatar que «o ano de 2020 ficou marcado pela grande crise sanitária da Covid-19, que se transformou num fenómeno plurissectorial e global, agravando fortemente outras crises inter-relacionadas como a climática, alimentar, económica e migratória, e provocando grandes sofrimentos e incómodos», indica «a cultura do cuidado para erradicar a cultura da indiferença, do descarte e do conflito, que hoje muitas vezes parece prevalecer».
Para a gramática do cuidado, ou seja, para a promoção da cultura do cuidado requer-se um processo educativo integral e a bússola dos princípios basilares da doutrina social da Igreja: na família, núcleo natural e fundamental da sociedade; na casa; na escola e na universidade; na comunicação social (hoje o nosso jornal diocesano Mensageiro de Bragança completa 81 anos); nas religiões; na própria Igreja servidora da humanidade.
Com efeito, «a educação constitui um dos pilares de sociedades mais justas e solidárias». Não há Paz sem a cultura do cuidado integral.
Planalto de Silêncio
Neste Tempo do Advento-Natal aconteceu a tão esperada abertura da hospedaria ou casa de acolhimento, onde já vive transitoriamente a comunidade monástica do Mosteiro de Palaçoulo, em projeto de construção. Sim, ide experimentar o silêncio orante na hospitalidade do Mosteiro de Santa Maria, Mãe da Igreja, em Palaçoulo, uma nova fundação do Mosteiro de Vitorchiano em Itália. Rezar e estar naquele lugar sagrado é como aproximar-se de uma fonte límpida em território deserto .
As dez Monjas trapistas fundadoras transmitem a Esperança alegre e contagiante de quem é autenticamente feliz. Deus lhes conceda os seus dons e novas vocações portuguesas.
Todos os dias, cada ação litúrgica celebra-se com sóbria beleza e nobre simplicidade. O dia é ritmado pelas sete orações litúrgicas: Vigílias, Laudes, Eucaristia com Tércia, Sexta, Noa, Vésperas e Completas. O trabalho e o estudo completam o dia em livre pobreza e alegre simplicidade, de harmonia à insígnia beneditina: ora et lege et labora.
Em Portugal, depois da extinção das ordens religiosas em 1834, os Cistercienses não restauraram nenhum mosteiro. Damos graças a Deus, por nascer no Planalto Mirandês, um Mosteiro Trapista, da Ordem Cisterciense da Estrita Observância.
A Divina Generosidade dá, aqui e agora a Portugal, como referiu o Papa Francisco na audiência que concedeu às “corajosas” Monjas fundadoras antes de partirem para esta sublime Missão, o dom da Graça de uma nova comunidade monástica, como uma ‘aldeia para Deus’. Bendigamos o Senhor por tamanha Graça.
Os horizontes da espiritualidade e da cultura do cuidado integral alargam-se assim no Arciprestado de Miranda com os Pastores, as Consagradas e todo o Povo Santo de Deus.
É tempo de cuidar com a Senhora Mãe da Esperança e com São José, para que «Cristo habite pela fé em vossos corações» (Ef 3,17). Ele é a nossa Paz!
Entrevista:«Temos de ser pacientes e resilientes com a atual pandemia»
César João é o atual presidente da Associação Comercial e Industrial de Miranda do Douro (ACIMD), sendo também empresário conhece bem as dificuldades que as empresas, sobretudo, as ligadas ao comércio, à restauração e ao turismo estão a enfrentar, devido à atual pandemia.
Em Miranda do Douro, o turismo, o comércio, a restauração e a agropecuária são o suporte económico do concelho. Na indústria realça-se a construção civil, a cutelaria, a tanoaria e o fabrico de fumeiro.
O comércio é o setor que tem o maior número de trabalhadores derivado ao turismoe dada a proximidade com Espanha. Ligado ao turismo está também a atividade artesanal, onde se destacam as colchas feitas nos teares tradicionais ou as gaitas de foles.
Terra de Miranda – Notícias: Desde o início da pandemia, em março passado, a atividade económica em Portugal e a confiança das pessoas registou uma acentuada quebra. Como estão as empresas do concelho de Miranda do Douro a enfrentar a paralisação da economia?
César João: Muitas das empresas do concelho de Miranda do Douro, tal como acontece em todos os concelhos transfronteiriços do país, vive muito da interação com a vizinha Espanha. Com a atual pandemia, o medo está a impedir a afluência de espanhóis e de turistas aos comércios e restaurantes da cidade, e por isso, a situação é arrasadora. Para enfrentar esta situação, as empresas estão a conter os custos ao máximo e procuram rentabilizar as poucas vendas que realizam. Em suma, as empresas estão a procurar sobreviver.
2- Quais são os setores de atividade mais afetados?
C.J.: Nesta tradicional época natalícia, o comércio e a restauração costumavam ser os setores mais procurados. No entanto, com atual pandemia, estes vão ser também os setores mais afetados e temo que vai ser um Natal muito pobre em termos comerciais. Neste momento é desolador dar uma volta pela cidade de Miranda do Douro e não encontrar ninguém. Também o setor da restauração, tão procurado e apreciado pelos visitantes e turistas, com a atual pandemia viu-se obrigado a fechar portas ou a suspender temporariamente a atividade. Faço votos de que este interregno ou passo atrás, seja tão só um momento que antecede os muitos passos em frente que se vão dar no futuro.
T.M.N.: Por vezes, estas situações de crise económica exigem novas respostas e apelam à criatividade. Que novos negócios e/ou produtos têm surgido desta situação?
C.J.: Surgiu, por exemplo, o jornal digital local Terra de Miranda – Notícias, que está na sua fase de arranque e pretende ser um órgão de informação local, generalista, e um meio de promoção da identidade cultural da Terra de Miranda, e para o qual desejo os maiores sucessos profissionais. Tenho conhecimento deste projeto e espero que continuem a surgir outros.
Com a construção das barragens de Picote e Miranda, na década de 1950, a região desenvolve-se e a cidade emerge como um ponto comercial, que ainda hoje se mantém. Muitos são os espanhóis que atravessam frequentemente a fronteira em busca dos têxteis, calçado, ourivesaria, da gastronomia mirandeses e das peças de artesanato tradicionais como as colchas feitas nos teares tradicionais, tecidos de Saragoça e Buréis, bordados, gaitas de foles, flautas, castanholas e rocas são alguns dos produtos artesanais característicos da região e com admiradores em todo o país.
T.M.N.: Miranda do Douro continua a ser um centro comercial para os espanhóis. Com atual pandemia e, as restrições à circulação, os espanhóis deixaram de vir a Miranda do Douro?
C.J.: O medo está a impedir os espanhóis de visitar Miranda do Douro. Na verdade, as fronteiras com Espanha continuam abertas. Mas existe uma campanha de desinformação, por parte dos meios de comunicação espanhóis, que dizem às pessoas que as fronteiras entre as comunidades internas estão fechadas, mas esquecem-se de dizer que as fronteiras com Portugal permanecem abertas. Trata-se, portanto, de uma comunicação enviesada, o que faz com que os espanhóis não venham a Miranda do Douro.
O desenvolvimento transfronteiriço
T.M.N.: Na recente cimeira luso-espanhola, os governos de ambos os países, definiram um conjunto de medidas para desenvolver estas regiões transfronteiriças, consideradas das menos desenvolvidas da Europa. Na sua opinião, que medidas são mais necessárias para desenvolver estas regiões de fronteira?
C.J.: As regiões de fronteira, quer do lado português, quer do lado espanhol, sofrem dos mesmos problemas, sendo que o mais grave é o despovoamento destas terras. E as causas que levaram (e continuam a levar) ao despovoamento são o desinvestimento dos governos, português e espanhol, nestas regiões periféricas. Quando se centralizam todos os investimentos no litoral, as pessoas, obviamente, vão para onde há melhores condições de vida. Sobre as decisões tomadas na recente cimeira luso-espanhola, por exemplo, a promessa de conclusão do IC5 até à fronteira, com o objetivo de dinamizar toda esta a região transfronteiriça, aguardo com expetativa o cumprimento dessas promessas. Mas, tal como os alcaides espanhóis, adianto que não estou muito otimista. Estou como São Tomé: quero ver para crer.
T.M.N.: E ao nível local que cooperação transfronteiriça existe?
C.J.: Ao nível das instituições locais sempre tivemos boas relações com as autoridades administrativas espanholas. No âmbito associativo, por exemplo, há conversas regulares e há cooperação entre nós. No entanto, continuamos incapazes de vencer os problemas comuns que nos assolam. E a nossa capacidade reivindicativa junto dos governos centrais simplesmente não é atendida. Não somos ouvidos.
T.M.N.: Os cruzeiros ambientais que se realizam no rio Douro são um ótimo exemplo de cooperação transfronteiriça. Estes cruzeiros atraem o interesse de milhares de turistas, pois para além do passeio de barco permitem conhecer a geologia do vale escarpado do Douro, a fauna e a flora. Tal como este, que outros bons exemplos de cooperação transfronteiriça existem nesta região?
C.J.: O Cruzeiro ambiental Douro-Duero é um excelente exemplo de cooperação transfronteiriça e gostaria que houvesse mais projetos como este. Trata-se de uma cooperação entre empresários espanhóis e portugueses. E pela minha experiência entendo que os empresários têm um sentido de oportunidade mais apurado do que as instituições. Ou seja, a cooperação empresarial é sempre mais fácil do que a cooperação institucional. Também ao nível associativo a cooperação transfronteiriça não é a ideal, dado que os nossos recursos humanos não têm disponibilidade para se dedicaram por inteiro às associações comerciais, o que leva a que vivamos um pouco adormecidos. Ainda assim, no âmbito da cooperação entre as associações comerciais e empresariais transfronteiriças, temos alguns acordos programados, e assim que a pandemia nos deixar, esperamos pela oportunidade para os implementar.
T.M.N.: O concelho de Miranda do Douro tem uma área privilegiada para a agricultura. No entanto, desde 1970 tem-se registado uma diminuição sucessiva da população ativa no setor agrícola. Há empresas do setor agropecuário na ACIMD?
C.J.: Os associados da Associação Comercial e Industrial do concelho de Miranda do Douro (ACIMD) são sobretudo empresas ligadas ao comércio. No que concerne aos agricultores, estão agrupados em associações específicas desse sector. Ainda assim, destaco que o setor agropecuário é muito importante na economia do concelho de Miranda do Douro. À riqueza histórica, cultural, etnográfica, gastronómica, ambiental e turística junta-se também a riqueza da agricultura e da pecuária, com destaque para as raças autóctones, como são os bovinos de raça mirandesa, os ovinos de raça churra mirandesa e os asininos de raça mirandesa. Tudo isto, dá muito dinamismo à economia do nosso concelho. No entanto, precisamos de gente nova para explorar ainda mais o setor agropecuário.
T.M.N.: Outro dos problemas desta região, é a dificuldade dos produtores em comercializarem os seus produtos. O que se pode fazer para ajudar os produtores nesta tarefa?
C.J.: Começo por dizer que os nossos produtos, como a carne, o azeite, o vinho, o fumeiro, os frutos e legumes, etc., têm uma qualidade de excelência. No entanto, a maioria dos produtores produzem pequenas quantidades. E há uma grande resistência dos pequenos produtores para se juntarem em associações. Felizmente, ainda temos bons exemplos no concelho de Miranda do Douro, como são a associação de criadores de raça bovina mirandesa, ou a Sendindense – Cooperativa Olivícola, ou ainda a Cooperativa Agrícola Ribadouro. Nestas associações, os produtores conseguiram agrupar-se para assim comercializar melhor a carne, o azeite e o vinho. Relativamente a outros produtos, como por exemplo, a bola doce mirandesa, o fumeiro, a raça ovina, a castanha, etc., têm sido feitas várias tentativas para agrupar os produtores, mas não temos conseguido. Porquê? Por uma questão cultural, por receio, por desconfiança. Contudo, eu tenho esperança de que mais associações vão surgir, pois as pessoas quando se juntam têm mais força, e assim poderão comercializar e rentabilizar melhor os seus produtos.
T.M.N.: A Associação Comercial e Industrial do Concelho de Miranda do Douro (ACIMD), tem divulgado várias medidas de apoio aos empresários locais para os ajudar a enfrentar as dificuldades provocadas pela paralisação da economia. Que outras medidas de apoio existem?
C.J.: Infelizmente, muitas das medidas anunciadas pelo governo são escassas, inadequadas ou chegam tarde. Ainda assim, neste momento existem duas medidas que são: o programa Apoiar.pt e a Redução do período normal de trabalho. São dois apoios importantes para as empresas, mas insuficientes. Na minha opinião são necessárias mais medidas de apoio às empresas para que estas possam sobreviver à atual paralisação da economia.
O Programa Apoiar.pt
O Programa Apoiar.pt vai financiar empresas da restauração, comércio e cultura, que sofreram quebras de faturação superiores a 25% nos primeiros 9 meses do ano. Em causa estão compensações a fundo perdido, que podem ir até 7500 euros no caso das microempresas e até 40 mil euros no caso das pequenas empresas. Os estabelecimentos que estão encerrados desde março, com é o caso dos bares e discotecas, terão majorações de 50% que elevam os limites dos subsídios para 11 250 euros no caso das microempresas e para 60 mil euros no caso das pequenas empresas.
As empresas beneficiárias têm de ter situação líquida positiva a 31 de dezembro de 2019, e não podem distribuir dividendos aos sócios, promover despedimentos coletivos ou extinguir postos de trabalho por motivos económicos.
No total, são 750 milhões de euros de subsídios a fundo perdido para micro e pequenas empresas dos setores mais afetados pela crise, de setores como comércio, cultura, alojamento e atividades turísticas e restauração, com quebras de faturação superiores a 25% registadas nos primeiros nove meses de 2020 e que tenham a situação fiscal e contributiva regularizada. As candidaturas são submetidas online, através do Balcão Portugal 2020.
Já pode registar a sua empresa ou organização no Balcão Portugal 2020, se pretender requerer este novo apoio dirigido às micro e pequenas empresas dos setores mais afetadas pela pandemia COVID-19.
T.M.N.: Nesta época natalícia estão a surgir iniciativas para apoiar os produtores e as empresas locais. Que mensagem gostaria de transmitir aos mirandeses para fazerem as compras de Natal no comércio local?
C.J.: Neste Natal, é difícil dar uma mensagem de ânimo às pessoas. Há um vírus que continua a condicionar a vida de toda a gente. As empresas estão a atravessar sérias dificuldades. Às pessoas é-lhes dito para ficarem em casa. O que posso dizer às pessoas é que sejam pacientes e resilientes. Ao que parece a vacina está a chegar, para podermos regressar à rua e voltar a dinamizar a economia local.
Economia: “Merc@do de Sabores e Saberes Mirandeses” apela às compras no comércio tradicional
Nesta época natalícia ainda envolta pelo medo da pandemia estão a surgir vários apelos e iniciatrivas à compra no comércio tradicional, para apoiar os produtores e os comerciantes locais que estão a ser afetados pela paralisação da economia.
Em Miranda do Douro, está a decorrer uma campanha de sensibilização através da plataforma de comércio eletrónico “Merc@do de Sabores e Saberes Mirandeses”, apelando à compra dos produtos caraterísticos da região.
Para tal, basta aceder ao site: https://mercadosaboresesaberesmirandeses.pt/ e procurar o que deseja para este Natal. O “Merc@do de Sabores e Saberes Mirandeses” proporciona-lhe uma oferta variada de produtos tradicionais tais como alheiras, chouriços, queijos, azeite, compotas, vinho, legumes secos, frutos secos, bola doce, folar, roscos, licores e aguardentes. Nesta plataforma eletrónica é também possível adquirir o artesanato local, como peças feitas em burel, cutelaria, ferro forjado, instrumentos musicais tradicionais e trabalhos em madeira.
O “Merc@do de Sabores e Saberes Mirandeses” é uma plataforma de comércio eletrónico que nasce da iniciativa conjunta do Município de Miranda do Douro, em colaboração com a ACIMD – Associação Comercial e Industrial de Miranda do Douro e a associação Sabores de Miranda – Associação de Produtores Gastronómicos das Terras de Miranda.
Portugal é um dos maiores produtores mundiais de azeite. De acordo, com o presidente da Sendinense – Cooperativa Olivícola, a colheita deste ano é abundante e de boa qualidade.Tradicionalmente, a apanha da azeitona era um motivo de reunião familiar, mas o atual modo de vida e a mecanização da agricultura estão a alterar a tradição.
José António Rodrigues é o presidente da cooperativa olivícola, em Sendim, que congrega cerca de 500 olivicultores da região, alguns deles são os vizinhos espanhóis da região fronteiriça. Este ano, com a chuva que caiu em setembro a azeitona está bem “criada” e há muita quantidade, diz o presidente da cooperativa, que também é olivicultor.
Os cuidados com o olival
O olival sendo uma cultura permanente, ao longo do ano, precisa de cuidados. E os mais importantes são a limpeza e a adubação. Tal como outras árvores, como as macieiras ou as pereiras, também as oliveiras precisam ser podadas todos os anos. Relativamente à lavragem dos olivais, José António Rodrigues, diz que há engenheiros agrícolas que defendem que os olivais não precisam de ser lavrados. E na região de Sendim, concretamente nos olivais situados nas arribas do Douro, aí não há possibilidade de lavrar, dada a inclinação do terreno. Hoje em dia, estão-se a plantar muitos olivais novos, em terrenos planos e cumprindo as normas de distanciamento entre as árvores, para permitir a apanha mecânica da azeitona.
A apanha da azeitona
A tradição familiar da apanha da azeitona está a mudar. Se antigamente, esta tarefa agrícola era um motivo para juntar as famílias, hoje em dia, só pontualmente, é que as famílias esperam pela chegada dos seus membros para realizaram em conjunto a apanha da azeitona. Por exemplo, aos fins-de-semana. No entanto, para a maioria das famílias esta reunião familiar torna-se impossível, pois uns vivem no estrangeiros ou noutras regiões do país. A estas dificuldades sobrepõe-se também a atual pandemia, que veio colocar restrições à mobilidade e é um outro impedimento à reunião familiar, para a apanha da azeitona.
Também as técnicas da apanha da azeitona continuam a evoluir. Se é verdade que ainda há pessoas que continuam a realizar esta tarefa agrícola com o sistema tradicional, isto é, com as varas e as lonas estendidas no chão das oliveiras. Também se vê, cada vez mais, o recurso à mecanização, como o uso do varejador mecânico, em vez das varas tradicionais. A outra técnica cada vez mais utilizada pelos olivicultores é o sistema do tolde adaptado ao trator. Seja qual for a técnica utilizada, o trabalho da apanha da azeitona nestes dias curtos, de outono, inicia-se bem cedo, às 8h00 da manhã, as pessoas já estão nos olivais. Após o trabalho da manhã, fazem uma pausa para o almoço. E depois o trabalho prolonga-se até o anoitecer. Após a apanha da azeitona, muitos dos olivicultores de Sendim, Bemposta, Travanca e várias outras aldeias circundantes, levam a sua colheita para cooperativa, onde se transforma a azeitona em azeite. Para preservar a qualidade do azeite também é importante, que não se coloque a azeitona em recipientes que fermentem a azeitona, tais como as tradicionais sacas. De acordo com o presidente da cooperativa olivícola de Sendim, a melhor prática é mesmo apanhar a azeitona e encaminhá-la de imediato para a cooperativa ou lagar.
A vantagem de ser associado na cooperativa
Ser sócio ou associado de uma cooperativa, como a Sendinense – Cooperativa Olivícola, têm vários benefícios. Em primeiro lugar, aquando da entrega da azeitona, os associados da cooperativa têm prioridade relativamente aos não sócios. O custo de produção do azeite também é inferior. E os sócios da cooperativa olivícola, também beneficiam de uma maior facilidade em comercializar o seu azeite. Finalmente, a pertença à cooperativa permite aos olivicultores aceder a apoios e incentivos na plantação de novos olivais.
A comercialização do azeite
José António Rodrigues, presidente da cooperativa e também ele olivicultor, diz que anualmente, a sua colheita de azeitona produz entre 500 a 600 litros de azeite. Sendo proprietário de um restaurante, diz que muito do seu azeite se destina à restauração. A maior parte dos associados da Sendinense – Cooperativa Olivícola entrega o azeite à cooperativa, a qual é responsável pela sua comercialização. Tal como outros produtos da região, também o azeite enfrenta dificuldades de comercialização e de escoamento. Ainda assim, a cooperativa olivícola de Sendim consegue comercializar o azeite. sobretudo para o setor da restauração, nomeadamente para restaurantes no Porto, e para os lares de idosos.
Um azeite de qualidade
Segundo, o presidente da Sendinense – Cooperativa Olivícola, o azeite “Arribas em Flor” é de muito boa qualidade. A variedade da azeitona predominante na região é a “negrinha”, que produz, de acordo com o responsável olivícola, um azeite fino e com uma acidez muito baixa. O azeite “Arribas em Flor”, está à venda, em garrafão ou garrafa, e pode ser adquirido na cooperativa olivícola, em Sendim.
Economia: Redução da taxa de IVA é vista como um incentivo à produção local
A Comunidade Intermunicipal das Terras de Trás os Montes (CIM-TTM) defende a redução da taxa de IVA para 6% para os produtos transformados a partir de frutos e carnes características do território, informou aquela entidade.
“À semelhança do que o Governo pretende para a castanha e frutos vermelhos, com a redução da taxa de IVA para comercialização destes frutos congelados, a CIM entende que a comercialização de frutos de casca rija transformados (moídos, triturados, laminados, ou em outros formatos) devem ser alvo da mesma descriminação positiva, com a aplicação da taxa de IVA a 6%”, informou, em comunicado, a CIM-TTM, presidida pelo socialista Artur Nunes.
A incidência da redução do Imposto Sobre o Valor Acrescentado (IVA) é um pedido feito ao Governo pela CIM-TTM para produtos pecuários e frutos com Denominação de Origem Protegida (DOP) e Indicação Geográfica Protegida (IGP).
“Este é o caso da amêndoa, nozes, avelãs e também da castanha e dos seus subprodutos. O mesmo regime de IVA deve abranger também o fumeiro Indicação Geográfica Protegida (IGP) do território nordestino”, revela também o comunicado.
Como forma de estimular o consumo e dinamizar um setor que se tem assumido como vital para a economia deste território de baixa densidade, a CIM das Terras de Trás-os-Montes pretende também ver reduzida a taxa de IVA a aplicar aos produtos fumados (porco, vitela ou outro).
“Neste caso defende-se a aplicação da taxa intermédia de 16%”, concretiza.
Na área da CIM das Terras de Trás-os-Montes existem 23 produtos DOP e IGP, a maior parte destes, com exceção do fumeiro, beneficia da taxa reduzida de IVA.
“No entanto, o problema prende-se com aquilo que é entendido como a transformação de alguns produtos. Por exemplo: o miolo de amêndoa tem IVA à taxa de 6%, enquanto a amêndoa triturada ou laminada já tem um IVA de 23%”, justifica o documento enviado à Lusa.
Situação semelhante, no entender da CIM trasmontana, pode aplicar-se à charcutaria produzida a partir de raças autóctones do território, a carne beneficia da taxa reduzida, ao produto processado aplica-se a taxa máxima.
Segundo a CIM-TTM esta matéria deveria ser alvo de uma revisão, que no entender do Conselho Intermunicipal daquele organismos que é composto por nove municípios do distrito de Bragança, “a redução da taxa de IVA é entendida como um incentivo à produção, comercialização e consumo deste tipo de produtos, contribuindo para a dinamização da economia local e manutenção e valorização de culturas e produções tradicionais”.
“Numa altura de crise como a que estamos a atravessar, com os produtores a encontrarem dificuldades acrescidas para o escoamento dos produtos assumiria especial importância”, justifica a CIM-TTM.
Fonfría: «O problema do envelhecimento também é uma oportunidade para a região» – Sérgio Lopez Vaquero
No município raiano de Fonfría (Espanha), vivem atualmente 785 habitantes, na sua maioria idosos, o que segundo o alcaidelocal,Sérgio Lopez Vaquero, pode ser uma oportunidade de repovoamento, com a chegada de jovens para cuidar das pessoas idosas.
A relação de vizinhança
Espanha e Portugal são países vizinhos. Mas esta relação de vizinhança nem sempre é de confiança e de cooperação. Daí que a pergunta continue atual: “O que se pode fazer mais para que portugueses e espanhóis se conheçam melhor e cooperem mais?”. Fomos à procura da resposta e viajamos até Fonfría, sede de um município espanhol, que dista apenas 26 quilómetros de Miranda do Douro. Aí chegados, fomos recebidos na sede do Ayuntaminento, pelo alcaide local, o jovem Sérgio Lopez Vaquero. À pergunta inicial sobre que tipo de relação existe entre espanhóis e portugueses, o jovem autarca espanhol começou por realçar que nas localidades onde há fronteira, como são as aldeias de Castro de Alcañices, Brandilanes e Moveros, há bastante interação entre os dois povos. E deu o exemplo, da afluência de portugueses a Moveros, ao comércio local, para comprar utensílios de barro ou a carne de vitela da raça alistana. Em sentido inverso, referiu que os espanhóis gostam de ir sobretudo a Miranda do Douro, fazer compras e comer nos restaurantes locais.
As festividades
Para além do comércio, também as festividades são uma boa ocasião para aproximar as populações raianas. Neste âmbito, Sérgio Lopez Vaquero, destaca a Festa de Nossa Senhora da Luz, que se realiza no último fim-de-semana de abril. À capela construída na fronteira entre Constantim (Portugal) e Moveros (Espanha), acorrem muitos espanhóis e portugueses para a celebração religiosa, mas também para a feira de produtos portugueses e espanhóis que se realiza depois da Eucaristia.
A cooperação política
Comércio, festividades… E que outras iniciativas ou medidas poderão aproximar portugueses e espanhóis e desenvolver estas localidades? No passado dia 10 de outubro realizou-se, na Guarda, a 32ª cimeira luso-espanhola, na qual os governos de ambos os países definiram uma estratégia comum para desenvolver as regiões transfronteiriças.Entre as medidas acordadas, destacam-se a construção de estradas como o troço o IC5 até Espanha e a autoestrada de Zamora até Quintanilha, o estatuto de trabalhador transfronteiriço e acordos de cooperação na área da assistência sanitária.Na opinião do alcaide de Fonfría, as medidas mais urgentes para desenvolver estas localidades de fronteira são em primeiro lugar as vias de comunicação. “As estadas são essenciais e têm que ser boas.”, diz. E deu o exemplo da aldeia fronteiriça de Ceadea, que ainda não tem uma estrada de ligação a Portugal, e por isso, continua isolada e menos desenvolvida. De acordo com Sérgio Lopez Vaquero, a construção da autoestrada entre Zamora e a fronteira de Quintanilha seria fantástica. E justifica dizendo: “As vias de comunicação trazem pessoas, turismo e investimento. Atualmente, se não existirem boas vias de comunicação a economia também não funciona”, explicou. Para além das estradas, o jovem autarca indica outra necessidade: no município de Fonfría, o sistema de telecomunicações, quer de internet, quer de rede móvel é muito deficitário. Daí a urgência em disponibilizar um serviço de telecomunicações de qualidade, do qual possam beneficiar, quer as populações locais, quer os que por aqui passam, espanhóis e portugueses.
O envelhecimento também é uma oportunidade
Outro dos problemas que se vive em Fonfría é o despovoamento e o envelhecimento da população, aliás, é um problema que afeta os dois lados da fronteira. Quando perguntamos ao governante local como enfrentavam este problema, Sérgio Lopez Vaquero, afirmou que problema do envelhecimento também pode ser visto como uma oportunidade. E explicou dizendo: “Se a nossa população é envelhecida, uma estratégia para repovoar esta região, é oferecer às pessoas oportunidades profissionais de assistência e cuidado às pessoas idosas.” E referiu que atualmente, o município de Fonfria, está a construir um refeitório social para entregar refeições às pessoas idosas nas suas casas.
Conhecer Fonfría
O município de Fonfría é constituído por nove aldeias: Arcillera, Bermillo de Alba, Brandilanes, Castro de Alcañices, Ceadea, Fornillos de Aliste, Moveros e Salto de Castro. Nesta nove aldeias é possível contemplar a natureza, e a visita o Parque das Arribas do Douro, em Castro de Alcañices é obrigatória. Por todas as aldeias do município é possível conhecer a arquitetura tradicional, as igrejas, as ermitas, as fontes, os moinhos e as pontes. Na aldeia raiana de Moveros, onde os solos são muito argilosos, é possível visitar os fornos tradicionais onde se coziam as peças de barro. Destaque também para as festividades, como a já mencionada romaria internacional de Nossa Senhora da Luz, que se realiza no último Domingo de abril, na capela situada entre Moveros e Constantim (Portugal).
Onde pode ficar hospedado?
Para quem queira passar férias, passar um fim de-semana ou simplesmente descansar, há um hotel rural em Fornillos de Aliste. E em Ceadea, há uma casa de turismo rural. Em Fonfria, há também um albergue de peregrinos para quem esteja a percorrer o Caminho Português de Santiago de Compostela, pela rota da via de La Plata.
As especialidades gastronómicas de Fonfría
A gastronomia do município de Fonfria tem como protagonista a carne, e mais concretamente a vitela de Aliste. Os pratos mais apreciados são o “chulletón a la plancha y las molejas en salsa”, o cozido, o “botillo com berzas” o cordeiro, o cabrito, o frango do campo ou as peças de caça, como o prato de “setas com liebre”. Destacam-se também os queijos e os enchidos, acompanhados do saboroso pão tradicional, do vinho e dos licores caseiros. Para sobremesa, existe uma variada doçaria que oferece roscas, madalenas, “bollos marimones”, torrijas, borrachos… Pela gastronomia, pela história e tradições, pela natureza, pelos problemas comuns como são o isolamento e o envelhecimento, pelas festividades e o comércio, pela cooperação política e sobretudo pelo encontro com as pessoas e o conhecimento da sua cultura, ainda bem que fomos visitar e conhecer o município vizinho de Fonfría!
Agricultura: “Produtores de castanha enfrentam dificuldades na venda da sua colheita”
A castanha deste ano é de boa qualidade, no entanto, com a atual pandemia e o cancelamento das feiras, os produtores estão e enfrentar dificuldades inesperadas na venda e escoamento das suas colheitas a um preço justo.
A tradição familiar
Ao longo de duas a três semanas, Ilídio Fernandes acorda diariamente às 5h30 da manhã, para viajar de Miranda do Douro, até à aldeia raiana, de São Marinho de Angueira. Aí chegado, toma o pequeno-almoço com os pais, António e Bárbara Fernandes, e é em família que começam o trabalho da apanha da castanha, às 7h00 da manhã. Este ano, e por causa da atual pandemia, são apenas três pessoas a realizar o trabalho. Habitualmente, também vem esposa, Sofia, o filho, Francisco, e a irmã, Vera, com os sobrinhos. O trabalho da apanha da castanha não é difícil, basta usar umas luvas, de preferência industriais porque são mais resistentes para abrir os ouriços. O mais difícil é, segundo o Ilídio, andar curvado oito horas por dia, a apanhar as castanhas do chão. O jovem agricultor graceja com esta dificuldade dizendo que ao final do dia basta tomar um comprimido “ben-u-ron” para as dores de costas. Se essa é uma dificuldade, por outro lado, o trabalho da apanha da castanha acaba por ser também um bom motivo para praticar exercício físico. “É um ginásio! Todos os anos, no final da colheita emagreço sempre quatro a cinco quilos” – assegura, Ilídio.
A apanha da castanha
Para quem não sabe, a apanha da castanha acontece de modo diferente da colheita da amêndoa ou da azeitona, onde se utilizam varejadores. O mesmo não acontece com a castanha, pois há que esperar que caia do castanheiro. E há anos em que a castanha amadurece e cai de uma só vez. Como há também outros anos, em que as castanhas, consoante a sua variedade, amadurecem mais tarde e por isso também tardam mais tempo em cair para o chão. Por vezes, a apanha da castanha prolonga-se por várias semanas, como está a acontecer neste ano. E quando assim acontece, Ilídio e os pais, têm que dar a volta ao souto diariamente para apanhar as castanhas que vão caindo, caso contrário, vêm uns “intrusos” chamados javalis (ou outros!) e comem as castanhas. De acordo, com IIídio Fernandes, a colheita deste ano é de boa qualidade, embora, o calibre seja ligeiramente inferior ao do ano passado. Segundo o jovem produtor, a qualidade da castanha vê-se sobretudo pelo sabor e não só pelo calibre. E entre as várias variedades de castanha, as mais saborosas, são, segundo Ilídio, a “longal” e a “martaínha”.
A pandemia e o cancelamento das feiras da castanha
Com a atual pandemia e o cancelamento das feiras dedicadas à comercialização da castanha, como são as feiras de Carrazeda de Montenegro ou de Bragança, os produtores estão a enfrentar dificuldades inesperadas no escoamento da castanha a um preço justo. Apesar desta contrariedade, Ilídio Fernandes diz que está a conseguir escoar a produção, mas o grande problema é mesmo o preço. E justifica assim a sua insatisfação: “Eu passo todo o dia a apanhar castanhas e ao final da jornada, já de noite, carrego os sacos na carrinha e viajo 100 km, ida e volta até Bragança. Chegado à fábrica, tenho de esperar algumas horas na fila para ser atendido e entregar a minha produção. Depois regresso a casa já noite dentro. E poucas horas depois, tenho que voltar à apanha da castanha. É por isso, que o preço da castanha tem que refletir e compensar todo este trabalho”, reivindica. Para obter um preço mais justo, o jovem agricultor diz que tem procurado vender a sua produção para vários sítios e ao melhor preço possível. Revela, por exemplo, que tem recorrido aos contatos obtidos em feiras e formações agrícolas para escoar a sua produção. “Recentemente, veio uma pessoa das Caldas da Rainha, comprar castanhas para vender no mercado biológico”, disse.
A cadeia de comercialização da castanha
Este ano, Ilídio Fernandes afirma que já vendeu o quilo de castanhas a 2, 20 euros. Mas diz também que o preço da castanha varia muito: “Por vezes, o quilo de castanhas começa a 1,50 euros, e depois vai baixando para 1,30, 1,20 euros, etc.”. O jovem produtor explica que a cadeia de comercialização da castanha, até chegar ao consumidor final passa por vários intervenientes: “A castanha sai do produtor a 1,20, 1,30, 1,50 euros. O ajuntador, ou seja, as pessoas que vão às aldeias recolher as produções ganham entre 0,20 cêntimos a 0,50 cêntimos por quilo de castanhas e depois vendem-nas às fábricas. Estas, por sua vez, vendem-nas aos supermercados a 3,5 euros ou quatro euros/quilo. E os supermercados vendem o quilo de castanhas ao público por cinco euros”.
A necessidade duma associação de produtores
Ilídio Fernandes lamenta a não existência na Terra de Miranda de uma associação de produtores de castanha. “Aqui é cada um para si”, diz com algum pesar. E dá o exemplo da associação que existe Carrazedo de Montenegro, no distrito vizinho de Vila Real, onde há uma associação de produtores de castanha que funciona bem. “Aí, os produtores de castanha são obrigados a vender à associação a quase totalidade da sua produção para ganharem escala. A existir uma associação de produtores de castanha nesta nossa região, o ideal seria uma associação entre concelhos, por exemplo, entre os concelhos de Miranda do Douro e Vimioso”. Para o jovem agricultor, uma associação deste género poderia armazenar, para além da castanha, outras culturas como a avelã, etc.. Ilídio Fernandes diz mesmo que, em São Martinho de Angueira, existem as condições ideais para criar uma associação agrícola, pois à entrada da aldeia existe o antigo celeiro, que é um armazém grande, e que até tem uma balança de pesagem. “Portanto, era só reutilizar este espaço! E até há projetos para organizar associações de produtores.”, diz com entusiasmo.
O sonho de voltar à terra
Se pudesse escolher entre trabalhar na Terra de Miranda ou no Porto, Ilídio Fernandes, diz sem hesitar, que escolheria regressar ao campo. No entanto, a decisão continua adiada, porque o trabalho no Porto garante-lhe um salário que é fixo, enquanto que o salário que obtém da agricultura é variável. “Há anos em que o rendimento da agricultura é bom e há outros em que o rendimento é inferior”, diz. Para se instalar no interior do país, o jovem agricultor adianta que teria que diversificar a produção agrícola. Para além da produção de castanha, teria, por exemplo, de aumentar a área de produção da avelã ou introduzir outras culturas. E a produção de novas culturas exige sempre um estudo e conhecimento prévio, bem como a visita a plantações e o aconselhamento com outros produtores. Enquanto este sonho vai ganhando forma, Ilídio Fernandes, continua a viver e a trabalhar no Porto. Aos fins-de-semana e nas férias regressa a São Martinho de Angueira, e na companhia dos pais, António e Bárbara, continuam a dedicar-se ao cultivo da terra (de Miranda).
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Alcides Meirinhos, natural da aldeia de Cicouro, é licenciado em Comércio Internacional e trabalhou para a Recer, S.A., como responsável pela expedição da logística dos produtos cerâmicos. Este especialista referiu que os produtores de castanha da Terra de Miranda precisam de que as cadeias logísticas funcionem bem para obterem um melhor rendimento com as suas colheitas. No caso da castanha, Alcides Meirinhos diz que “a castanha não tem um circuito de comercialização oleado”. Porquê? Porque o maior lucro fica nos intermediários, quando devia ficar nos produtores de castanha. É por esta razão, que Alcides Meirinhos, especialista em Cadeias logísticas e armazenagem, defende que as cadeias logísticas são fundamentais: “porque na relação entre consumidor e produtor, quanto maior for o número de intermediários, maior será mudança de preço. Daí que seja importante diminuir o número de intermediários”, afirma.
Por outro lado, Alcides Meirinhos, diz que o problema está na desconfiança entre as pessoas: “nesta região, toda a gente desconfia de toda a gente. E diz assim: ‘Tu estás a enriquecer com a minha castanha. Pois não hás de enriquecer. Vou vender a minha castanha aos de fora.’ Para vencer esta desconfiança e para que haja uma melhor distribuição dos lucros da castanha, Alcides Meirinhos sugere a criação de uma cooperativa: “Imagine-se fazer uma cooperativa para a castanha. Em vez dos produtores venderem a castanha a 1 euro/quilo como está a acontecer, e nos supermercados é vendida a 4 ou a 5 euros/ quilo ao consumidor. Ora se esta mesma castanha, nos supermercados está à venda a 4 e 5 euros/quilo, isso significa que no mínimo 50% do lucro vai para os intermediários. E isso é um exagero!”, critica.
Alcides Meirinhos aconselha também os produtores de castanha a investirem na mecanização da apanha da castanha e justifica dizendo: “Uma pessoa apanha manualmente 100 quilos de castanha, por dia. Eventualmente, se as castanhas estiverem muito juntas, poderá apanhar 200 quilos. Agora, se a apanha da castanha for mecanizada apanham-se 700 quilos por dia!”, assegura. De acordo, com o especialista em logística e armazenamento, a partir do momento em que se criam economias de escala, o lucro fica na localidade. “E isso a médio prazo vai trazer investimento”, assegura. Acrescenta depois que no interior do país, o que mais se necessita é de investimento. “É como numa empresa, se não houver investimento, ela vai-se deteriorando. Ou é como numa casa ou moradia, ela necessita constantemente de obras.” Alcides Meirinhos conclui dizendo que para desenvolver as regiões do interior de Portugal, tem que haver muito investimento e muita resiliência das pessoas.