Ensino: Programação gratuita para 120 mil alunos e três mil professores
Mais de 120 mil alunos de escolas portuguesas vão poder aprender gratuitamente programação, assim como três mil professores, para quem já existem 200 bolsas de formação, através da organização sem fins-lucrativos Code-org.
Criado há 10 anos nos Estados Unidos, o movimento internacional Code.org chega agora a Portugal com o objetivo de alargar o ensino da programação a crianças e professores, revela a Fundação Santander Portugal que é parceira deste projeto.
Contando com os professores neste processo, o programa tem já disponíveis 200 bolsas de formação para que os docentes possam aprender noções básicas de programação e aplicá-las nas suas salas de aulas, independentemente das disciplinas que lecionam.
Todos os professores, desde o pré-escolar ao secundário, podem inscrever-se em https://exitoeducativo.com/cd/index_pt.php, sendo que a meta é dar formação a três mil docentes nos próximos três anos.
Para isso, existem conteúdos gratuitos disponíveis na plataforma da Code.org: São 28 módulos ‘online’, que os professores podem assistir ao seu ritmo, e quatro webinars para ajudar a implementar um projeto final na sala com os seus alunos.
A formação, acreditada pelo Centro de Formação da Associação Nacional de Professores de Informática, terá uma duração de 50 horas e conta para a progressão de carreira dos professores, garante a Fundação Santander.
“Sendo uma plataforma aberta e gratuita, a Code.org está a contribuir para reparar o elevador social, proporcionando o acesso a todos e contribuindo para uma sociedade mais inclusiva. A programação deve tornar-se cada vez mais numa linguagem que se aprende desde muito cedo, tal como outras línguas essenciais. No futuro, todos vamos precisar de saber ‘falar’ a linguagem da programação”, afirmou Inês Oom de Sousa, presidente da Fundação Santander Portugal.
Será também lançada a campanha “Hora do Código”, que consiste em eventos de uma hora em que as crianças podem contactar pela primeira vez com a programação, através de vídeos, jogos e atividades.
A ideia é ensinar crianças e jovens a programar preparando-as para as profissões do futuro, tendo em conta o recente relatório do Fórum Económico Mundial, que estimou que serão eliminados 83 milhões dos atuais 673 milhões postos de trabalho e que as profissões mais procuradas no futuro serão na área tecnológica (desde analistas e cientistas de dados, a especialistas em big data ou em Inteligência Artificial e profissionais de segurança cibernética).
A Code.org conta com vários embaixadores, desde Barack Obama, Joe Biden, Bill Clinton e o canadiano Justin Trudeau a Bill Gates, Jeff Bezos, Mark Zuckerberg, Susan Wojcicki ou Sheryl Sandberg.
O cantor Bono, a ativista Malala, o empresário inglês Richard Branson ou a presidente executiva do Grupo Santander, Ana Botín, são outros dos embaixadoras de iniciativa que surgiu há uma década nos Estados Unidos da América e hoje conta com a participação de mais de 80 milhões de alunos.
Na plataforma da Code.org estão registados mais de 80 milhões de alunos e mais de 100 milhões já participaram em iniciativas “Hour of Code” a nível global, refere o Santander.
Miranda do Douro: MCTM acusa AT e APA de beneficiar EDP na venda de barragens
O Movimento Cultural da Terra de Miranda (MCTM) acusou os dirigentes da Autoridade Tributária (AT) e da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) de pretenderem beneficiar a EDP na venda de barragens.
“Não temos qualquer explicação para este comportamento dos dirigentes da APA e da AT, mas tudo isto nos lembra uma palavra: Marosca. Parece estar montado um esquema muito inteligente e sofisticado para que a EDP e as restantes concessionárias continuem sem pagar o Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) das barragens”, indicou aquele momento cívico num comunicado enviado à Lusa
O movimento acusa a cúpula da AT de excluir o valor dos equipamentos na avaliação das barragens para efeitos de IMI, referindo que as leis da República e os contratos de concessão estabelecem que as barragens da Terra de Miranda (Picote, Bemposta e Miranda) estão sujeitas ao IMI.
Segundo o Movimento, as cúpulas da AT e da APA violaram sucessivamente a lei e um parecer vinculativo da PGR, bem como um despacho governamental que mandou a AT liquidar o IMI.
“Essa exclusão”, prevê o Movimento, vai conduzir a que as concessionárias impugnem as liquidações do IMI para os tribunais e venham a ganhar “daqui a 10 anos, porque barragens sem equipamentos não são prédios”.
Este movimento reitera que a Procuradoria-Geral da República (PGR) emitiu um parecer em 2006, consagrando essa obrigatoriedade de sujeição à cobrança de IMI. Tanto a lei como este parecer vinculam a AT e a APA, considera.
“Ambas asinstituições violaram essas leis e o parecer da PGR”, lê-se na mesma nota.
No passado mês de fevereiro, o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais (SEAF) deu ordens escritas à AT para que cobrasse o IMI sobre as barragens e deixasse de violar a lei e o parecer da PGR. A AT não cumpriu essa ordem e o SEAF emitiu um novo despacho.
O MCTM aponta ainda que esta situação é em tudo parecida com a do IMI das estações de energia eólica, que, por idêntico erro da cúpula da AT, continuam sem pagar o IMI há mais de 10 anos.
Os dirigentes dos MCTM garantem que “os protagonistas são também os mesmos”.
O MCTM já tinha acusado em outubro a AT de dar indicações ilegais sobre o modo de avaliação das barragens para a cobrança de IMI, por excluir equipamentos indispensáveis à produção de energia, como por exemplo as turbinas.
Esta organização indicava que a lei estabelece “expressamente que os equipamentos, como elevadores, sistemas de climatização e mesmo outros equipamentos de lazer integram o valor das avaliações”.
O MCTM já tinha pedido em meados de outubro a demissão da diretora-geral da AT, Helena Borges.
A vertente fiscal das barragens saltou para a agenda mediática na sequência da venda pela EDP de seis barragens em Trás-os-Montes (Miranda do Douro, Picote, Bemposta, Baixo Sabor, Feiticeiro e Tua), por 2,2 mil milhões de euros, a um consórcio liderado pela Engie.
Há vários objetos que apontam para além deles mesmos: um iPhone, um carro da marca Jaguar, uma mala Prada, não são meros utensílios. São indicadores de um certo estatuto. Mesmo entre os nossos mais remotos antepassados, encontramos artigos, não tão luxuosos, mas que pretendem indicar poder, como as presas de um animal usadas numa coroa ou num colar, indicando destreza física e argúcia como caçador.
Temos uma necessidade instintiva de ser vistos e reconhecidos. E isto não tem nada de mal: o bom Deus bem nos vê, e não se incomoda com este tipo de tropelias. Grave é, neste momento da ditadura da imagem, que nos centremos na aparência e menosprezemos a essência, isto é, que nos esforcemos mais por parecer interessantes, bons e piedosos do que na conversão do coração.
É esta a crítica que Jesus hoje faz aos escribas e aos fariseus. Eles apontam caminhos árduos para os outros, mas vivem acomodados; eles desejam ser tidos por piedosos, sem deixar que Deus toque o íntimo do coração; eles procuram reconhecimento, títulos, privilégios, lugares de honra, reverência… tudo coisas boas quando merecidas, mas que, quando nos tornamos dependentes delas, têm o mesmo efeito que uma droga: tornamo-nos dependentes e vivemos na ansiedade por mais.
Nós precisamos de ser amados e queridos. Temos a marca do amor inscrita em nós e esta necessidade vital é insuprimível. Mas, como todos os instintos, também este tem de ser ordenado, ou facilmente se tornará o nosso mestre.
Nas leituras deste domingo, é traçado o caminho que evitará que este desejo de ser visto nos domine: a simplicidade de vida. Malaquias, na primeira leitura, recorda-nos que somos todos filhos do mesmo Pai, que este ama todos e que não necessitamos de viver à espera de reconhecimento: Ele vê-nos e ama-nos. E isso basta. O salmista canta o seu contentamento em esperar pelo Senhor, «sossegado e tranquilo, como criança ao colo da mãe», não desejando mais do que a presença d’Ele, enquanto Paulo, na segunda leitura, faz memória do caminho trilhado em Tessalónica para evangelizar: «fizemo-nos pequenos no meio de vós».
Fazer as coisas por amor e confiar no Senhor. Isto basta. Claro que vamos sentir uma carência profunda, mas só nesta confiança vamos encontrar paz. Ousemos seguir o Senhor pelo caminho das pequenas coisas, como Teresinha do Menino Jesus o batizou. E acreditemos no Evangelho: há um só Pai, que nos ama a todos, e podemos viver como crianças ao colo da mãe enquanto esperamos a vinda de Jesus. Vem, Senhor Jesus.
Barrocal do Douro: Hardança levam música à igreja paroquial
Na tarde de Domingo, dia 5 de novembro, a Igreja Paroquial do Barrocal do Douro, em Picote, vai ser palco do concerto musical do grupo Hardança, um evento inserido no ciclo de Concertos de Outono, promovidos pelo município de Miranda do Douro, com o objetivo de levar a música às várias localidades do concelho.
De acordo com a presidente do município de Miranda do Douro, Helena Barril, os “Concertos de Outono” visam descentralizar a atividade cultural e apoiar os músicos do concelho, retribuindo o seu esforço e dedicação à música, em especial, à música tradicional mirandesa.
Para a realização destes concertos, a autarca de Miranda do Douro agradeceu a colaboração da Diocese de Bragança-Miranda, ao permitir que os espetáculos se realizem nas várias igrejas paroquiais do concelho.
O concerto do próximo Domingo, dia 5 de novembro, no Barrocal do Douro, está agendado para as 16h00 e vai ser interpretado pelo grupo musical “Hardança” (“Herança”, em português).
Segundo a compositora e vocalista do grupo, Fabíola Mourinho, no seu repertório, os “Hardança” interpretam temas originais, cantados em português e em mirandês e outras canções provenientes do Cancioneiro Tradicional Mirandês.
Uma das músicas mais conhecidas dos “Hardança” é o tema “Daqui não saio, daqui ninguém me tira”, composto em fevereiro de 2020, para o Dia Internacional dos Museus.
Bragança-Miranda: Semana dos Seminários decorre de 5 a 12 de novembro
O bispo de Bragança-Miranda lançou uma nota pastoral a assinalar a Semana dos Seminários, que decorre entre 5 e 12 de novembro, sublinhando que “mais do que uma casa ou instituição, o Seminário é causa”.
Na nota pastoral enviada à Agência ECCLESIA, D. Nuno Almeida faz referência às palavras de Cristo: “Não tenhas medo. Serás pescador de Homens” (LC 5,10), destacando que “o Seminário é uma causa decisiva que diz respeito às famílias, às comunidades cristãs e a cada um”.
“O Seminário é a condição com que a família diocesana pode implementar o futuro de uma igreja inspiradora de renovação espiritual; é a contribuição com que cada comunidade local espera alimentar a garantia da sua continuidade; é a tarefa com que cada cristão e respetiva família devem assumir para ajudar a construir uma Igreja sinodal, comunidade de comunidades”, pode ler-se na mensagem.
Na Semana dos Seminários, D. Nuno Almeida revela que o amor pela instituições “manifesta-se em gestos de oração, de afeto e de partilha generosa”.
“Queremos agradecer e rezar pelos benfeitores e formadores que ao longo dos tempos têm dado vida aos nossos Seminários”, afirmou o bispo, salientando que esta “é uma feliz ocasião para agradecer a Deus o dom da vocação ao presbiterado e tomar maior consciência da importância do Seminário, o coração da Diocese, na vida da Igreja”.
A juntar à celebração da Semana dos Seminários, o seminarista Nélson Vale, que se prepara para o sacerdócio, vai ser instituído no ministério de acólito, no dia 12 de novembro, às 18h00, na Catedral de Bragança.
Natural de Carção, concelho de Vimioso, o jovem encontra-se em estágio pastoral na Paróquia de S. João Batista, em Bragança, depois de já ter concluído a formação em teologia.
No final de fevereiro deste ano, Nélson Vale defendeu a tese “O sonho de uma Igreja missionária”, a propósito do mestrado em Teologia, pela Faculdade de Teologia de Braga, na Universidade Católica Portuguesa.
O jovem foi instituído no ministério de leitor, no dia 30 de abril deste ano, no Santuário da Senhora das Graças, em Bragança.
Mogadouro: GNR constituiu arguidos cinco indivíduos pelo furto de castanha
A GNR de Mogadouro constituiu arguidos três homens e duas mulheres, com idades compreendidas entre 19 e 60 anos, por furto de 200 quilos de castanha no concelho de Mogadouro.
“No decorrer de uma denúncia a dar conta de que um grupo de indivíduos se encontrava a furtar castanhas, os militares da Guarda, no âmbito da “Campanha da Castanha 2023”, que visa contribuir de forma decisiva para o sentimento de segurança dos produtores de castanha”, indica em comunicado esta força de segurança.
A GNR acrescentou ainda que esta tipo de ação de fiscalização tem por objetivo a preservação do seu património agrícola, bem como investigar, de forma célere todas as ocorrências de furto, realizaram diversas diligencias policiais que permitiram interceptar os infratores.
Os suspeitos foram constituídos arguidos e sujeitos a termo de identidade e residência e os factos foram comunicados ao Tribunal Judicial de Mogadouro.
Sociedade: Mais de 44.100 idosos que vivem sozinhos ou isolados
Mais de 44.100 idosos que vivem sozinhos e/ou isolados, ou ainda em situação de vulnerabilidade, foram sinalizados pela GNR na Operação “Censos Sénior 2023”, que decorreu em outubro, anunciou esta força de segurança.
A GNR explica que esta operação visou garantir ações de patrulhamento e sensibilização à população mais idosa que vive sozinha e/ou isolada, alertando-a para a necessidade de adotar comportamentos de segurança, reduzindo o risco de se tornar vítima de crimes, sobretudo violência, burla e furto.
Os distritos de Guarda (5.477), Vila Real (5.360), Viseu (3.528), Faro (3.513), Bragança (3.347) e Beja (3.230) foram os distritos nos quais mais idosos foram sinalizados, refere a GNR em comunicado.
Durante a operação, os militares realizaram uma série de ações que privilegiaram o contacto pessoal com as pessoas idosas em situação vulnerável.
No total, foram sinalizados 44.114 idosos que vivem sozinhos e/ou isolados, ou em situação de vulnerabilidade, por causa da sua condição física, psicológica, ou outra que possa colocar em causa a sua segurança, explica a GNR.
No total, durante a Operação “Censos Sénior 2023” a GNR realizou 304 ações em sala e 2.651 porta a porta, abrangendo um total de 24.978 idosos.
No ano passado, a operação tinha permitido sinalizar 44.511 idosos que viviam sozinhos ou isolados.
Desde 2011, ano em que foi realizada a primeira edição da Operação “Censos Sénior”, a GNR tem vindo a atualizar a sinalização geográfica, proporcionando “um apoio mais próximo” à população idosa, o que contribui para “criar um clima de maior confiança e empatia entre os idosos e os militares da GNR”, servindo a iniciativa para também aumentar o sentimento de segurança.
Miranda do Douro: Homem de 88 anos encontrado morto num poço
Um homem de 88 anos morreu após queda num poço em Miranda do Douro, informou o comandante dos bombeiros locais, Luís Martins.
O alerta foi dado às 12:20, de quinta-feira, dia 2 de novembro, para a GNR, pela mulher da vítima, acabando os militares por encontrar o corpo do homem, submerso, “num poço que servia para rega”, pelo que se supõe que “possa ter morrido por afogamento”, descreveu Luís Martins.
Pelas 14:55, o corpo mantinha-se no local a espera da autoridade judiciária, acrescentou.
No local estiveram 10 homens, apoiados por três viaturas.
Entrevista: «A língua mirandesa é mais do que útil, pois é a essência de um povo» – António Bárbolo Alves
Após a sua eleição para a Academia das Ciências de Lisboa, o professor e investigador da língua mirandesa, António Bárbolo Alves, ministrou a sua primeira lição na instituição científica, no passado dia 28 de setembro, um acontecimento que é visto como um reconhecimento da sua obra académica e uma valorização da língua e cultura mirandesas.
Terra de Miranda – Notícias: Em 2022, foi eleito sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa, uma das mais antigas instituições científicas nacionais. O que faz um sócio correspondente?
António Bárbolo Alves: Esta distinção é um reconhecimento do trabalho que tenho desenvolvido em prol da língua mirandesa e é sobretudo uma valorização e distinção para a nossa língua, que assim entra no “panteão” científico da Academia das Ciências de Lisboa. O compromisso dos sócios da academia das ciências é o de continuar a realizar o seu trabalho de investigação, no meu caso da língua mirandesa, na área da filologia e da linguística. Outro contributo ou dever dos sócios correspondentes é o de dar uma lição sobre a área de investigação. Foi o que fiz no passado dia 28 de setembro, em Lisboa, numa conferência com o título “You nun sou you – As teias que a língua tece”.
No dia 28 de setembro, em Lisboa, António Bárbolo Alves, prestou a sua primeira conferência na Academia das Ciências de Lisboa, com o título “You nun sou you – As teias que a língua tece”.
T.M.N.: A Academia das Ciências de Lisboa foi fundada, no dia 24 de dezembro de 1779, durante o reinado de D. Maria I, sob o lema inspirador “Se não é útil o que fazemos, vã é a glória.” Atualmente, qual é a utilidade da língua mirandesa?
A.B.A.: A língua mirandesa, como todas as outras línguas, é um sistema constituído por palavras e por regras gramaticais que permitem a construção de frases e que é usado como meio de comunicação, falado ou escrito, pelos membros de uma mesma comunidade linguística. E por isso, a língua mirandesa tem de ser vista como algo muito valioso, pois permitiu (e permite) comunicar e interagir entre as pessoas. A língua mirandesa é uma herança histórica e cultural deste território. Portanto, a língua mirandesa é mais do que útil, pois é a essência de um povo. A língua é inseparável da cultura mirandesa.
A língua mirandesa é uma herança histórica e cultural deste território. Portanto, a língua mirandesa é mais do que útil, pois é a essência de um povo. A língua é inseparável da cultura mirandesa.
T.M.N.: António Bárbolo Alves nasceu em Picote, no ano de 1964. É professor de Português-Francês, sendo leitor (professor) do Instituto Camões na Universidade de Nice, em França. Também frequentou o curso livre de Espanhol, na Universidade do Minho. Sente-se vocacionado para os idiomas?
A.B.A.: A minha língua materna é o mirandês. O português aprendi-o depois ao iniciar a escola primária. Talvez este bilinguismo na minha infância me tenha despertado o interesse pelas línguas. O espanhol ou castelhano aprendi-o no final dos anos 80, na Universidade do Minho, quando me inscrevi num curso livre. Recordo que nessa altura, a Porto Editora queria reformular todos os dicionários e participei num grupo de trabalho que reformulou o dicionário de Espanhol – Português. Relativamente ao francês, recordo que na minha infância fiz um teste e obtive uma nota péssima. O professor de francês para além de um valente raspanete e deu-me negativa no final do primeiro período. Para demonstrar que conseguia fazer bem melhor, comecei a estudar francês e obtive boas notas no resto do ano letivo.
O professor de francês para além de um valente raspanete e deu-me negativa no final do primeiro período. Para demonstrar que conseguia fazer bem melhor, comecei a estudar francês e obtive boas notas no resto do ano letivo.
T.M.N.: É considerado um dos mais conceituados estudiosos e divulgadores da língua mirandesa. Em 1997, apresentou mesmo uma tese de Mestrado, na Universidade do Minho, com o título: “A língua mirandesa: contributos para o estudo da sua história e do seu léxico.” Já existem dicionários de mirandês, uma convenção ortográfica e muita literatura. No entanto, comunicar em mirandês, não é fácil. Como se aprende o mirandês?
A.B.A.: O ensino do mirandês é um problema complexo. No Agrupamento de Escolas de Miranda do Douro, por exemplo, a língua mirandesa é uma disciplina opcional e há dois professores de mirandês a tempo inteiro, o que é bom, mas é pouco para o que é necessário fazer. Recordo que quando o ensino do mirandês começou nas escolas, esta experiência pedagógica seria depois avaliada. Até hoje, essa avaliação ainda não foi feita. É importante que o mirandês passe de disciplina facultativa, para integrar o currículo, à semelhança de outras línguas como o inglês, o espanhol ou o francês.
“É importante que o mirandês passe de disciplina facultativa, para integrar o currículo, à semelhança de outras línguas como o inglês, o espanhol ou o francês.”
T.M.N.: E que oferta de ensino há para os adultos?
A.B.A.: Há associações como a Associação de Língua e Cultura Mirandesa (ALCM) e a FRAUGA – Associação para a Desenvolvimento Integrado de Picote, que costumam fazer pequenos cursos de introdução à língua mirandesa.
T.M.N.: Em 2002, doutorou-se pela Universidade de Toulouse (França), com a tese de doutoramento sobre os contos da literatura oral mirandesa. A literatura é um bom veículo para divulgar o mirandês?
A.B.A.: Com a elaboração e publicação da convenção ortográfica, em 1999, verificou-se uma explosão de escritos em mirandês. Nesses anos, o padre António Maria Mourinho antevia que o estabelecimento das regras ortográficas seriam um passo decisivo para a conservação do mirandês, dada a perenidade da escrita em relação à oralidade. Hoje, em dia a convenção ortográfica precisa ser melhorada.
“A convenção ortográfica de língua mirandesa precisa ser melhorada.”
T.M.N.: Há portanto melhoramentos a fazer no ensino e na escrita. E no âmbito político?
A.B.A.: No âmbito político é preciso criar uma estratégia linguística ou uma política para a língua. As ações pontuais, como os cursos livres, a música, a literatura ou o teatro mirandês são importantes sim, mas tudo tem que funcionar interligado. Porque na realidade, o mirandês desapareceu como língua de comunicação quotidiana. Devemos perguntar-nos: o que é que queremos fazer com o mirandês? Porque através do mirandês também é possível comunicar no quotidiano, criar palavras novas e metaforizar o mundo.
T.M.N.: A música e o teatro também são eficazes na transmissão da língua mirandesa?
A.B.A.: A razão pela qual o mirandês ainda se conserva nesta região é porque a língua é o corpo de uma cultura. E esta cultura compreende a música, a literatura oral, as danças dos pauliteiros e o teatro popular mirandês. E se há algo que é valioso na espécie humana é a sua cultura. Por isso digo que, com o mirandês é possível falar de assuntos tão banais como telemóveis ou mais eruditos como os tratados de ciência.
T.M.N.: Um dos livros em que participou, como coordenador, foi “Lhiteratura Oural Mirandesa – Recuolha de Testos an Mirandés”. A literatura oral é uma das expressões mais interessantes do mirandês?A.B.A.: Esse trabalho foi realizado em 1999 e foi verdadeiramente simbólico porque pressupôs a participação das pessoas que nessa data, falavam o mirandês. Na altura, as pessoas foram convidadas a contar as suas histórias, as suas lendas, os seus contos, as suas lhonas e as suas orações. E toda esta recolha foi depois plasmada em livro. Recordo que na apresentação pública do trabalho, em Picote, as pessoas participantes foram convidadas e foi um momento muito belo, porque as pessoa viram o seu saber reconhecido e a língua valorizada. Este trabalho foi muito gratificante! É preciso continuar a acarinhar os falantes de mirandês.
T.M.N.: Assumiu vários cargos, entre os quais o de diretor do Centro de Estudos António Maria Mourinho. Que iniciativa foi esta?
A.B.A.: O padre António Maria Mourinho foi um dos guardiões da língua mirandesa, durante grande parte do século XX. Quando ele morreu em 1996, deixou grande parte do seu espólio à Câmara Municipal de Miranda do Douro. E no ano 2000 foi criado um grupo de trabalho para estudar esse espólio. Depois em 2003, o então ministro da educação, Mariano Gago, incentivou a criação de centros de investigação. E eu propus a criação de um centro de estudos não só para estudar o espólio de António Maria Mourinho, mas também para dar continuidade ao trabalho de investigação sobre a língua mirandesa. E foi aí que nasceu o Centro de Estudos António Maria Mourinho, através de um protocolo com a UTAD, onde eu era investigador e que nessa data tinha um polo em Miranda do Douro. O protocolo foi estabelecido com a Câmara Municipal, que então cedeu as instalações na Biblioteca Municipal. No entanto, depois houve o encerramento do polo da UTAD e ainda que o protocolo continue vigente, não se realizaram novos trabalhos.
“É preciso acarinhar os falantes de mirandês.”
T.M.N.: Também é secretário da FRAUGA – Associação para o Desenvolvimento Integrado de Picote. Que trabalho têm realizado pela língua mirandesa?
A.B.A.: A FRAUGA nasceu em 1996 graças à iniciativa de um grupo de jovens de Picote, para a defesa e preservação da língua e cultura mirandesas, que já então considerávamos como as traves mestras da identidade da Terra de Miranda. Uma das nossas primeiras iniciativas foi colocar a toponímia em mirandês, nas ruas da localidade de Picote. Para quê? Para trazer o mirandês para a rua, para divulgar e valorizar a língua e os seus falantes.
T.M.N.: A palavra “frauga” tem um significado sugestivo.
A.B.A.: Sim, “frauga” é uma palavra mirandesa que significa forja, ou seja, era a oficina do ferreiro. Antigamente, quando as pessoas iam compor os seus instrumentos de trabalho ao ferreiro diziam que “andavam de frauga”. Nestas oficinas, para além da função do ferreiro que metia o objeto no fogo para o aquecer e ficar moldável, eram necessárias mais duas pessoas para malhar o ferro, uma de cada lado. Ou seja, era necessário um trabalho em conjunto. Também nesta associação, percebemos que para fazer alguma coisa temos que trabalhar em conjunto.
Colocar a toponíma em mirandês teve como objetivo trazer o mirandês para a rua, para assim divulgar e valorizar a língua e os seus falantes.
T.M.N.: No passado mês de setembro, a FRAUGA, num trabalho conjunto com a freguesia local, organizou em Picote, a I Fiesta de las Lhénguas. O que se pretende fazer com este evento?
A.B.A.: Como o próprio nome diz, pretendemos fazer uma festa. Para nós, a diversidade linguística deve ser motivo de celebração. A ideia de que todos deveríamos falar a mesma língua é um absurdo. Pelo contrário, devemos valorizar a diversidade e festejar esta diferença! Veja-se o mosaico cultural de que a Europa e o mundo são feitos! Ainda que, por vezes, se corra o risco de existir má comunicação. Não devemos deixar morrer as línguas, nem as palavras, porque assim ficamos mais pobres. Nesta I Fiesta das Lhénguas tivemos a participação de associações e representantes do espaço falante do asturo-leonês. No futuro, queremos estar abertos a todas as línguas europeias e do mundo. A II Fiesta de las Lhénguas vai realizar-se no fim-de-semana de 21 e 22 de setembro, aproveitando o Dia Europeu das Línguas, que se comemora a 26 de setembro.
A II Fiesta de las Lhénguas vai realizar-se no fim-de-semana de 21 e 22 de setembro, em Picote, aproveitando o Dia Europeu das Línguas, que se comemora anualmente a 26 de setembro.
Perfil
António Bárbolo Alves, nasceu em Picote – Miranda do Douro, a 5 de Dezembro de 1964.
Licenciou-se em ensino de Português e Francês, pela universidade do Minho e começou a lecionar em 1997, tendo atualmente mais 30 anos de serviço
Concuiu um Mestrado em Ensino da Língua e Literatura Portuguesas pela Universidade do Minho, com a tese “A língua mirandesa – Contributos para o estudo da sua história e do seu léxico”, Universidade do Minho, 1997.
Durante o serviço militar obrigatório, (1989-1990) desempenhou as funções de Tradutor de francês, na 6ª Repartição do referido Estado Maior do Exército
De 1991 a 1994, esteve, em regime de destacamento, no Pólo do Projecto Minerva da Universidade do Minho, tendo por função dar apoio técnico-pedagógico às escolas abrangidas por esse Pólo, fazer o acompanhamento de projectos educativos em curso nessas escolas, assim como participar em projectos de investigação e implementação das Tecnologias da Informação no ensino.
De 1997 a 2003 foi Leitor (Professor) de Língua e Cultura Portuguesas na Universidade de Nice (França).
Em 2002, doutorou-se pela Universidade de Toulouse (França).
Assumiu vários cargos de gestão e representação, entre os quais o de diretor do Centro de Estudos António Maria Mourinho, secretário da direção da FRAUGA e Secretário Territorial para Portugal da Associação Internacional pela Defesa das Línguas e das Culturas Ameaçadas (AIDLCM).
Desde 2022, é sócio correspondente da Classe de Letras da Academia das Ciências de Lisboa (2.ª Secção – Filologia e Linguística).
Entre os dias 3 e 12 de novembro, decorre em Bragança a Semana Gastronómica da Castanha, com o mote “Sabores de Outono”, uma iniciativa promovida pelo município de Bragança.
A edição deste ano do certame conta com a participação de 17 restaurantes.
A castanha é descrita pela organização do evento como um produto versátil, que poderá ser degustado em sopas, pratos de carne ou peixe e também em sobremesas.
As refeições nos estabelecimentos aderentes da Semana da Castanha, custam entre 15 e 45 euros por pessoa.
“Bragança produz anualmente entre 30 a 40 mil toneladas de castanha, representando um significativo impacto económico para a região na ordem dos 100 milhões de euros. A Semana Gastronómica da Castanha é uma oportunidade para celebrar a época alta deste produto endógeno e contribuir para a sua promoção” referiu o presidente da câmara municipal de Bragança, Hernâni Dias.