Domingo de Pentecostes (Solenidade)
Vem, Espírito Santo!
At 2, 1-11 / Slm 103 (104), 1ab.24c.29bc-31.34 / 1 Cor 12, 3b-7.12-13 / Jo 20, 19-23
A vida é sempre um dom recebido. Nunca é um produto fabricado. Nós tendemos a sublinhar a nossa individualidade, imaginando-nos autossuficientes, quando ninguém se salva – nem vive – sozinho.
No livro dos Atos, Lucas diz-nos que os apóstolos estavam «todos reunidos no mesmo lugar» quando surgiram línguas de fogo, tendo poisado «uma sobre cada um deles». É no encontro com outros, como comunidade, que o Espírito Santo desce e inunda cada um de nós, chamando-nos, pessoalmente, à missão comum da Igreja, com o carisma de cada um.
E que missão será esta? A de anunciarmos a todos! A forma que Lucas encontra para o afirmar é apontar que, ainda que fossem muitos e muito diferentes os idiomas daqueles que nesse dia estavam em Jerusalém, todos ouviam aqueles que receberam o Espírito falar na sua língua. O Espírito Santo vem para reforçar a comunhão universal, e é a adesão ao carisma que nos é dado por Deus que nos leva à universalidade.
A universalidade não se atinge pela homogeneidade, pelo pensamento único, pela abolição por decreto da diversidade. Ela vem através da diversidade ou, como diz São Paulo, na 2.ª Leitura: «em cada um se manifestam os dons do Espírito para o bem comum».
Esta deve ser a nossa aposta como Igreja: encontrarmo-nos para rezar, acolher o Espírito e responder amorosa e generosamente, de forma pessoal, mas procurando o bem comum. É assim que o Espírito «renova a face da terra», como canta o salmista.
Nas leituras de hoje encontramos a identidade profunda da Igreja e de cada um de nós: um corpo para o Espírito, unido na oração, mas com carismas particulares. A Igreja é um corpo formado de pessoas com nome, não de indivíduos anónimos. De pessoas que se pertencem mútua e compassivamente, enviadas para que todos conheçam o Senhor, numa missão de reconciliação.
Quantas vezes nos esquecemos desta identidade e desta missão? São tantas as vezes que jogamos com a nossa vida no casino dos enganos do mau espírito!
O Senhor mostra-nos uma outra vida. A verdadeira vida. Mostra-nos a paz que vem do encontro com outros, um reconhecimento que verdadeiramente satisfaz porque vem do olhar de Deus, que nos pede silêncios fecundos e palavras proféticas ao serviço do bem.
Que neste Domingo de Pentecostes nos banhemos no Espírito, supliquemos a sua vinda e confiemos nos caminhos do Senhor. Que cresçamos na comunhão que brota do encontro e do milagre que se dá sempre que nos abrimos aos inimagináveis caminhos da graça.