Entrevista: «Trabalhar no planalto mirandês tem várias vantagens» – José Abílio Gonçalves
A J.M.Gonçalves -Tanoaria, Lda., localizada em Palaçoulo, foi nomeada empresa inovadora COTEC, uma distinção que visa reconhecer os elevados padrões de estabilidade financeira, eficiência operacional e inovação tecnológica, que fazem desta empresa um exemplo para todo o país. José Abílio Gonçalves, sócio-gerente da tanoaria, explicou ao jornal Terra de Miranda – Notícias, o significado deste prémio.
T.M.N: Que significado tem para a Tanoaria J.M.Gonçalves a nomeação empresa Inovadora COTEC 2022?
José Abílio Gonçalves: A nomeação da COTEC é um reconhecimento do nosso trabalho. E para atingir este patamar, a empresa tem que ter um bom desempenho financeiro. Por outro lado, há que implementar projetos inovadores e por isso, todos os anos, a filosofia da nossa empresa é apresentar produtos novos e diferenciadores para o setor vitivinícola. Estas foram as principais razões, pelas quais a J.M.Gonçalves, foi considerada uma empresa inovadora no nosso setor.
T.M.N: Como é que se alcança um desempenho empresarial de sucesso?
J.A.G.: É um trabalho de equipa, que vai da seleção das madeiras, a qualidade da produção, a tecnologia que usamos e permite o desenvolvimento de novos produtos, o trabalho comercial de promoção e venda, até ao feedback dos nossos clientes. E este feedback é muito importante pois permite-nos avaliar a confiança dos clientes nos nossos produtos.
T.M.N: Quantas pessoas trabalham na Tanoaria J.M.Gonçalves?
J.A.G.: Atualmente, a empresa emprega 52 pessoas. E depois temos parcerias indiretas com outras pessoas, nomeadamente no estrangeiro, para promover os nossos produtos. Recordo que cerca de 90% da nossa produção é para exportação e por essa razão precisamos da presença de colaboradores, em mercados mais longínquos.
T.M.N: Como é que a empresa J.M.Gonçalves – Tanoaria, Lda. alcançou esta notoriedade no interior do país?
J.A.G.: Em primeiro lugar é importante dizer que temos que enfrentar alguns inconvenientes, como é a questão da logística e a distância aos portos. Recordo que a madeira que utilizamos no fabrico das barricas é importada e 90% dos nossos produtos são exportados, daí que o transporte seja crucial. Contudo, trabalhar no planalto mirandês tem várias vantagens, a começar desde logo pela qualidade ambiental desta região, o que propicia e favorece a a secagem das madeiras.
T.M.N.: Em que consiste essa secagem?
J.A.G.: A madeira só está pronta para ser utilizada no fabrico das barricas e outros produtos, após dois anos de secagem. E há produtos que exigem 36 e 48 meses. Ao longo deste tempo, a madeira está exposta, ao ar livre, e sujeita às várias intempéries: ao sol, à chuva, ao frio e à geada. Este período é como um processo de cura da madeira, o que faz com que atinja um elevado grau de qualidade.
T.M.N.: A secagem no planalto mirandês é melhor do que noutras regiões?
J.A.G.: Como indiquei, a grande vantagem do planalto mirandês é a pureza ecológica desta região, o que torna a madeira de elevada qualidade. Não tenho dúvidas que se a tanoaria estivesse localizada num centro de grande poluição, a madeira não atingiria a mesma qualidade. E depois se a madeira tem qualidade isso vai repercutir-se na qualidade dos produtos vitivinícolas.
T.M.N.: Outra vantagem da tanoaria estar localizada em Palaçoulo é a proximidade a Espanha?
J.A.G.: Sim, claro. Se olharmos bem, nós não somos periféricos. Estamos mais próximos do mercado espanhol – é o nosso segundo mercado – e também de França e da Europa.
T.M.N.: Para além da secagem e da proximidade à Europa, ainda há mais vantagens de a empresa laborar no planalto mirandês?
J.A.G.: Sim, outra grande vantagem de trabalhar nesta região é a possibilidade de adquirir uma grande área de terreno para desenvolver a nossa atividade. Atualmente, a tanoaria J.M.Gonçalves tem cerca de seis hetares. E não seria fácil ter as mesmas condições de trabalho numa região mais populosa e onde os terrenos fossem mais caros.
T.M.N.: Que conselho ou recomendação daria às empresas desta região para atingirem um elevado desempenho?
J.A.G.: Em primeiro lugar, diria para arriscarem na internacionalização e desde logo, no vizinho mercado espanhol. Ao fazê-lo, adquirimos um visão ibérica e não periférica. Outro conselho que daria é o investimento na tecnologia e no conhecimento, pois são ferramentas que nos permitem comunicar com qualquer parte do mundo e inovar na criação de novos produtos.
Perfil
A arte de tanoeiro começou na família Gonçalves há cerca de 100 anos atrás, com Abílio Gonçalves que se iniciou no fabrico de barricas para os produtores de vinho da região de Trás-os-Montes em Portugal.
Esta arte foi seguida pelo seu filho e fundador José Maria Gonçalves, que fez barris artesanais durante quase 20 anos, desde os finais da década de 1940.
Em meados dos anos 60, emigrou para trabalhar em França, nas mais afamadas tanoarias da época.
Mas em França não vivia satisfeito. Tinha o sonho de regressar com a sua família a Portugal e começar o seu próprio negócio, com o saber adquirido.
De regresso a Portugal, começou a trabalhar numa pequena oficina instalada na sua garagem, com a ajuda dos seus filhos mais velhos.
Em 2001, o pequeno negócio da família evoluiu dando lugar a uma empresa nova e moderna, preservando as tradições familiares e o conhecimento adquirido ao longo de muitos anos de experiência.
Os filhos honraram o legado do pai dando o seu nome à empresa: J.M. Gonçalves- Tanoaria, Lda.
Um dos filhos, José Abílio Gonçalves é sócio-gerente da J.M.Gonçalves – Tanoaria, Lda.
É também responsável pelo departamento comercial e a produção de vinhos da empresa.
Estudou Enologia, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
HA