Saúde: Aposentações deixam utentes do distrito de Bragança sem médico de família

A aposentação de vários médicos de família está a deixar sem assistência os utentes do distrito de Bragança, que já foi das regiões com maior taxa de cobertura a nível nacional.

No distrito de Bragança há famílias inteiras que estão sem médico de família, dado a aposentação nos últimos meses, de seis profissionais clínicos da chamada Medicina Geral e Familiar.

O distrito de Bragança tem sido apontado a nível nacional como uma das regiões com uma taxa de cobertura de médico de família quase total, porém, há vários anos que surgem alertas devido à idade dos clínicos.

O último foi do bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, que antecipava, em 2020, um número de saídas que poderia chegar aos 40% em três anos.

Foram solicitados dados sobre o número de aposentações, substituições e utentes sem médico de família à Unidade Local de Saúde (ULS) do Nordeste, que não respondeu até à data.

A região tem 14 centros de saúde e um número de utentes que ronda os 137 mil, segundo os dados oficiais.

Em 2020, a ULS do Nordeste indicava que tinha ao serviço “143 médicos de Medicina Geral e Familiar, 92 dos quais no quadro, 25 prestadores de serviços e 26 internos”.

Com estes números, a média de utentes por médico rondaria os mil, mas, de acordo com os testemunhos recolhidos pela Lusa, são os que tinham maior número de utentes que estão a aposentar-se, o que indica que há alguns milhares de pessoas sem médico de família atualmente.

Os que estão a ir embora são sobretudo os médicos que ajudaram a instalar o Serviço Nacional de Saúde (SNS) no Nordeste Transmontano, uma região envelhecida, onde os cuidados de saúde são uma preocupação constante.

Esta é a realidade de Ana Paula Esteves, que tem os “pais idosos e com problemas de saúde” e que “ficaram sem médica de família”. Vivem em Bragança e a mãe tem 82 anos e o pai com 76 anos tem um problema oncológico.

Os pais são também a maior preocupação de Paulo Afonso, que, junto com toda a família, ficou há dois meses sem a médica que o acompanhava desde o nascimento.

“A situação é grave sobretudo para a gente idosa. O mais necessário é um médico para a minha família, com os meus pais velhinhos. Perante a ausência de médico, resta-nos andar a pedir a este e aquele no centro de saúde a receita porque os comprimidos acabaram”, contou.

Na família de Andreia Mendes, também em Bragança, sete pessoas estão sem médico desde fevereiro e disse que “o pior é que se for ao centro de saúde marcar exames ou consulta nunca se sabe qual é o médico que vai calhar”.

Teresa Almeida teve a última consulta “há mais ou menos um ano” com a médica que, entretanto, se reformou e não consegue fazer os exames de que necessita.

“Eu tenho muitos problemas de saúde, preciso de fazer exames médicos e não tenho a quem os pedir. Já me informei e a consulta aberta só se estiver doente, mas nada de análises ou exames”, contou.

Outros utentes, como Manuel Afonso, ficaram sem médico em 2021. Foi-lhe atribuído um profissional que esteve apenas entre junho e dezembro ao serviço, em Bragança, e depois foi embora para outro cargo na região.

Fonte: Lusa

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