Entrevista: «Pretendo que a câmara municipal tenha sempre a porta aberta para as pessoas» – Helena Barril
Após cumprir os primeiros 100 dias à frente da Câmara Municipal de Miranda do Douro, Helena Barril, falou das prioridades de governação do novo executivo social-democrata, com destaque para as áreas económica, a cultura, o turismo, sem nunca esquecer a atenção às pessoas.
Terra de Miranda – Notícias: Após a tomada de posse em de outubro de 2021, como está a decorrer o processo de governação do município de Miranda do Douro?
Helena Barril: Continuamos a trabalhar com entusiasmo e muita vontade de conhecer o modo de funcionamento da autarquia e da sua estrutura interna. Tem sido uma constante descoberta, sobretudo para mim e para o vereador, Vitor Bernardo. Já o Nuno Rodrigues, vice-presidente, tem a vantagem de ter sido vereador da oposição ao longo de oito anos, o que lhe confere um maior conhecimento sobre o modo como funciona uma autarquia.
T.M.N:: Como se governa uma autarquia? Como é o seu dia-a-dia?
H.B.: A governação de uma autarquia exige uma grande dedicação. Muitas vezes inicio o trabalho às 8h30 da manhã e as tarefas vão desde a leitura de documentos, a assinatura de contratos e sobretudo a resposta às muitas solicitações que as pessoas me vão fazendo. Muitas vezes vêm para me cumprimentar. Outras, para me chamar à atenção para determinados problemas. Eu tento sempre encaminhar para o sítio certo ou chamo os técnicos para, em conjunto, ouvirmos as pessoas e tentarmos encontrar soluções. A este propósito pretendo que a câmara municipal tenha sempre a porta aberta para as pessoas.
T.M.N.: Nesta sua equipa executiva, como estão distribuídos os pelouros?
H.B.: Estamos bem concertados e temos as tarefas bem repartidas. Eu assumi, entre outros, os pelouros da saúde, da cultura, da língua mirandesa e do turismo. O Nuno Rodrigues, vice-presidente, tem a responsabilidade de áreas como a educação, a ação Social, o desporto, a juventude, a agricultura e o desenvolvimento rural. E o Vitor Bernardo é responsável pelos pelouros das obras, dos espaços públicos, da unidade municipal de apoio jurídico, do património, entre outros.
T.M.N.: O primeiro orçamento municipal desenhado pelo novo executivo assume como prioridades a implementação do seguro municipal de Saúde, a construção do matadouro municipal e de uma zona industrial. Estas são as prioridades para este primeiro mandato?
H.B.: As nossas prioridades de ação são aquelas que foram aprovadas pelos mirandeses e mirandesas, nas eleições autárquicas, de 26 de setembro de 2021. Por isso, a construção do novo matadouro é mesmo uma prioridade para este executivo. Neste sentido, já foram realizadas reuniões para adaptar o projeto existente, ao terreno onde vai ser construído o matadouro intermunicipal, em Sendim. É urgente deslocalizar o matadouro do lugar onde se encontra atualmente, para proceder à recuperação ambiental do rio Fresno e criar aí uma grande zona de lazer.
T.M.N.: O novo matadouro será intermunicipal?
H.B.: Já temos a completa concordância do município de Vimioso. E estou em crer que o autarca de Mogadouro também virá ao encontro do compromisso assinado anteriormente.
T.M.N: E a zona industrial?
H.B.: O projeto da zona industrial de Duas Igrejas já tem uma candidatura aprovada. Por isso, assim que os procedimentos o permitam, vamos avançar para a construção da zona industrial, pois não queremos perder o financiamento.
T.M.N.: Relativamente ao Seguro Municipal de Saúde, quando pretendem implementar esta medida no concelho de Miranda do Douro?
H.B.: Dado que a saúde é um bem de primeira necessidade, o nosso propósito é concretizar esta medida assim que for possível. Recordo que o seguro municipal de saúde visa ser um complemento ao serviço nacional de saúde (SNS), pois no nosso concelho e no distrito, estamos muito necessitados de melhores serviços de saúde. Por isso, estamos a trabalhar para que no segundo semestre deste ano 2022, o seguro municipal de saúde seja uma realidade no concelho de Miranda do Douro.
T.M.N.: Como está a decorrer a colaboração com os vereadores da oposição e todos presidentes das freguesias do concelho de Miranda do Douro?
H.B.: Estamos todos empenhados em trabalhar em prol do concelho de Miranda do Douro. Sobre esta colaboração tenho recebido o reconhecimento dos vereadores da oposição, que por sua vez, também têm demonstrado muito empenho e colaboração com o atual executivo.
A economia local
T.M.N.: Que atividades económicas têm maior importância na cidade de Miranda do Douro?
H.B.: Na cidade de Miranda do Douro os setores de atividade mas proeminentes são o comércio, a restauração e a hotelaria. Para dinamizar estes setores, à autarquia compete criar eventos que atraiam a vinda de visitantes. Para o final de 2021, estávamos a preparar vários eventos, como o festival Geadas, a Queima do Ano Velho e uma série de concertos que tivemos que suspender por causa do agravamento da pandemia. Outro evento que também não vamos poder realizar é a Feira dos Sabores Mirandeses, agendado para fevereiro. Se a situação epidemiológica o permitir, gostaríamos de retomar os eventos, com a Festa da Bola Doce, em Abril.
T.M.N.: Na agropecuária pretendem modernizar as cooperativas do concelho?
H.B.: Sim, pretendemos modernizar a cooperativa Ribadouro, em Sendim e a cooperativa agrícola de Palaçoulo, C.R.L.. Com esse objetivo já realizámos as reuniões e agora estamos na fase da execução dos projetos.
A cultura
T.M.N.: Miranda do Douro é conhecida dentro e fora de portas sobretudo pela sua identidade cultural. Pretendem continuar a promover a identidade cultural da Terra de Miranda?
H. B.: Sim, todas as manifestações culturais que contribuam para afirmar a nossa identidade diferenciadora têm que ser acarinhadas e tratadas com todo o respeito. Refiro-me em concreto à música tradicional, à língua, à literatura, aos pauliteiros, ao artesanato, às raças autóctones e à gastronomia.
T.M.N: Muito deste trabalho de promoção da cultura mirandesa é feito pelas várias associações culturais do concelho de Miranda do Douro. Que tipo de colaboração pretende implementar entre as associações culturais e o município?
H.B.: O município vai apoiar todas as associações do concelho de Miranda do Douro. O nosso propósito é estabelecer protocolos com todas as associações e apoiar sempre que nos for possível. Entretanto, lembro que as próprias associações do concelho têm mecanismos e iniciativas que lhes permitem criar alguma autonomia e independência financeira. Dou o exemplo das associações de Pauliteiros que encontram, autonomamente, formas de participar em atuações e espetáculos, por todo o país e no estrangeiro.
T.M.N.: O novo executivo vai avançar com a candidatura dos Pauliteiros de Miranda a património imaterial da UNESCO?
H.B.: Sim vamos avançar com a candidatura dos pauliteiros a património cultural imaterial da Humanidade. No entanto, estou muito desiludida com aquilo que se apregoou sobre esta candidatura e afinal não se fez. A candidatura à UNESCO está ainda numa fase primária. Ou seja, primeiro há que elaborar a estrutura da candidatura para a inscrição como património cultural imaterial de Portugal. E só depois, é que se poderá avançar para a candidatura a património cultural imaterial da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).
T.M.N.: A cidade de Miranda do Douro não tem um espaço cultural onde os vários grupos e associações do concelho possam atuar para a população local e para os turistas e visitantes, Há esse sonho de construir um espaço cultural onde seja possível oferecer uma programação cultural para todo o ano?
H.B.: Sim, é verdade que a inexistência de um centro cultural é uma lacuna para a cidade e o concelho de Miranda do Douro. De momento, o espaço que temos disponível é o mini-auditório, assim como a realização de eventos ao ar livre, quando o tempo meteorológico o permite. Por isso, neste mandato gostava de lançar as bases do projeto para construir um centro cultural. Esse espaço será destinado às atuações de todas as associações e agentes culturais do concelho, mas também à vinda de outros artistas e grupos nacionais e estrangeiros. Outra finalidade do centro cultural é o estabelecer um protocolo de colaboração com o Teatro Municipal de Bragança e trazer a Miranda do Douro, sempre que possível, alguns dos artistas que lá atuam.
O turismo
T.M.N.: Na relação com a vizinha Espanha, a que se deve o gosto dos espanhóis pela visita regular a Miranda do Douro? Como pretendem continuar a dinamizar este intercâmbio e cooperação transfronteiriça?
H.B.: Desde logo, a proximidade territorial com Espanha favorece a vinda de espanhóis a Miranda do Douro. Sempre foi assim e há-de continuar a ser. Ainda que de momento, com a pandemia se verifique um decréscimo da afluência de visitantes. Culturalmente, os espanhóis são um povo alegre, que gosta de sair e de vir a Miranda do Douro fazer compras no comércio local ou simplesmente vir almoçar ou jantar nos nossos restaurantes. Por essa razão, a autarquia, em colaboração com a restauração, a hotelaria e o comércio local, organiza regularmente eventos, como será em março, o festival do Bacalhau, para incentivar ainda mais a vinda dos vizinhos espanhóis à nossa cidade.
T.M.N.: Como dão a conhecer estes eventos aos espanhóis?
H.B.: As campanhas de divulgação são dinamizadas em colaboração com a Associação Comercial e Industrial do Concelho de Miranda do Douro (ACIMD). Depois de feita a divulgação, a nossa mais-valia é mesmo, o acolhimento que fazemos aos visitantes espanhóis, a par da aposta na gastronomia e da realização de eventos culturais. Para promover a cooperação transfronteiriça é nossa intenção estreitar as relações de cooperação com as instituições e associações espanholas.
A educação
T.M.N.: No passado, a existência de um pólo universitário em Miranda do Douro trouxe mais dinamismo à cidade. Atualmente, essa pretensão está fora de alcance da autarquia?
H.B.: A 12 de janeiro realizou-se em Miranda do Douro uma reunião da Comunidade Intermunicipal – Terras de Trás-os-Montes (CIM-TT), na qual participou também o reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). Nesta ocasião, o reitor da UTAD comunicou-nos a possibilidade de voltarmos a ter cursos de pós-graduação e de formação. A existir uma nova oferta universitária na cidade terá que ser neste formato.
O MCTM
T.M.N.: Em 2020, foi constituído o Movimento Cultural da Terra de Miranda (MCTM) para lutar contra a alegada injustiça fiscal, decorrente da venda da concessão das barragens do Douro internacional. Até ao momento, o que é que se ganhou com esta reivindicação?
H.B.: O Movimento Cultural da Terra de Miranda tem o grande mérito de trazer o assunto da venda da concessão das barragens para o debate público. Graças ao incansável trabalho dos membros deste movimento cívico, quer através de entrevistas, de artigos de opinião e das visitas ao Presidente da República e à Assembleia da República, a denúncia do MCTM foi escutada e atendida. Se até ao momento ainda não foram pagos os impostos devidos nesse negócio da venda da concessão das barragens, da EDP para a Engie, isso deve-se à inoperância do atual governo e em particular da Autoridade Tributária (AT). Não obstante a demora, o MCTM continua ativo e em conjunto com as autarquias desta região, vamos continuar a chamar a atenção do país para o paradoxo desta situação: numa das regiões mais abandonadas do país produz-se uma grande riqueza, em energia elétrica, sem qualquer benefício para a população local.
Perfil:
Helena Barril nasceu a 28 de agosto de 1970, em Miranda do Douro.
Licenciou-se em Direito, com especialização em Ciências Jurídico-Políticas, pela Universidade Lusíada, em Lisboa.
Em 2000, iniciou a carreira no Serviço de Finanças de Miranda do Douro, cargo que desempenhou ao longo de 21 anos.
Após os resultados das eleições autárquicas de 26 de setembro de 2021, nos quais a coligação “Tempo de Acreditar” foi a mais votada (54,15%), Helena Barril assumiu a presidência da Câmara Municipal de Miranda do Douro, a 18 de outubro de 2021.
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