Cultura: Livro “Santulhão, a história e a alma”

No dia 31 de outubro, o professor Serafim do Rosário apresentou na junta de freguesia de Santulhão, um livro sobre a história e as tradições da aldeia, com o propósito de registar por escrito a herança cultural de Santulhão.

Em 1993, o Dr. José Rodrigues lançou-lhe o desafio de escrever um livro sobre Santulhão. Mas naqueles anos, o exercício da docência não lhe permitiu dedicar-me por inteiro a esse projeto. Em vez disso, acabaram por publicar uma revista anual, a “Santulhana”.

Mas o projeto do livro foi retomado há quatro anos atrás. O falecimento da esposa, a solidão e para ocupar melhor o tempo dediciu lançar mãos à obra. Muito do trabalho já estava feito graças às recolhas efetuadas ao longo dos anos.

“Ao longo dos anos, consultei documentos históricos e falei sobretudo com as pessoas idosas da terra, fazendo recolhas, como canções”, revelou.

O contato com as pessoas idosas foi (e continua a ser) para o professor Serafim muito gratificante. Graças ao trabalho desenvolvido nos órgãos sociais da Santa Casa da Misericórdia de Santulhão, também como provedor, um dos seus passatempos preferidos era conversar com as pessoas idosas.

“Por um lado, fazia-lhes companhia, conversávamos e recordávamos os tempos de infância e juventude na aldeia. E por outro ia registando a sua sabedoria popular”, contou.

Em Santulhão, ao longo dos anos, viveram-se grandes mudanças, com destaque para a emigração. O despovoamento e também a cultura veiculada pelos meios de comunicação social, em particular a televisão, relegou para segundo plano as tradições da aldeia.

E segundo o professor Serafim Rosário, Santulhão tinha grandes tradições no Natal e na Semana Santa, destacando-se, por exemplo, a grande devoção ao Senhor da Misericórdia.

Antigamente, também o Natal era vivido com muita devoção.

“A feitura do Presépio era muito importante. Assim como a devoção à Senhora do Rosário. Depois da consoada, em casa, a Missa do Galo, à meia-noite, não podia faltar, com os cânticos tradicionais. Após a celebração da Missa, havia o convívio das pessoas à volta da fogueira, no qual havia sempre alguém que oferecia nozes ou algo para comer. No dia de Natal, havia a tradição do Ramo, com ofertas para a festa de Nossa Senhora. Ofertas essas que eram leiloadas no adro da Igreja, tais como galinhas, coelhos, salpicões, doces, bolos, etc.”, contou.

De acordo com o professor Serafim Rosário, atualmente os jovens de Santulhão estã a interessar-se mais pelas tradições da aldeia e a comemoração do Entrudo é um bom exemplo deste renovado envolvimento da juventude.

“Há uns anos atrás pensava-se que o tradicional era coisa de analfabetos. Mas agora vejo que os jovens querem saber mais sobre as suas raízes e estão a recuperar as tradições”, congratulou-se.

HA

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