Emigração: “Ser emigrante é uma vida de sacrifício” – Francisco Anes
Neste mês de agosto, as aldeias portuguesas voltaram a encher-se de emigrantes. Se a vinda a Portugal é sempre motivo de alegria, a visita deste ano tem ainda mais sabor, dado o prolongado impedimento provocado pela pandemia. No estrangeiro, os emigrantes são considerados pessoas corajosas, autónomas e resilientes, que saem de Portugal à procura de melhores condições de vida. Francisco Anes foi um desses emigrantes. Viveu e trabalhou na Suíça ao longo de 37 anos e em 2017 decidiu regressar a Portugal. (Por Hugo Anes)
Nasceu na aldeia de Algoso, no concelho de Vimioso. Dos tempos da infância e adolescência na aldeia, recorda com saudade a união que existia entre as pessoas, no desempenho, comunitário, dos trabalhos agrícolas. “Havia menos dinheiro, mas isso não impedia que as pessoas fossem felizes”, recordou.
Em janeiro de 1981, com 24 anos, Francisco casou-se com Maria Otília Torrão Anes. E a 15 de Abril desse mesmo ano, o jovem casal emigrou para a Suíça, à procura de trabalho e de melhores condições de vida. Começaram a trabalhar sazonalmente. Nove meses de trabalho na Suíça. E regressavam a Portugal durante três meses.
Nos anos seguintes nasceram os filhos: o Nélson, em1982; no ano seguinte nasceu o Luís e a Marina nasceu em 1985. Inicialmente, os filhos ficaram em Portugal com a avó materna. E quando o jovem casal obteve a autorização anual de residência na Suíça, vieram buscá-los.
Nesses primeiros anos de adaptação à Suíça, a aprendizagem da língua foi o maior desafio, No primeiro ano, Francisco comunicava em francês. E no ano seguinte começou a aprender o alemão.
“A vida de emigrante – diz – é uma vida de sacrifício”. Na Suíça, Francisco começou por trabalhar na hotelaria. Nessa atividade, iniciou-se na cozinha, depois passou para o serviço de balcão e quando já dominava a língua, para poder comunicar com os clientes, trabalhou no serviço de mesa. A dada altura e com o propósito de levar os filhos para a Suíça, solicitou um aumento ao patrão. O aumento salarial não foi aceite e Francisco Anes teve que mudar de trabalho. Começou então a trabalhar numa fábrica de componentes sanitários, onde trabalhou ao longo de 28 anos.
Sobre a vida de emigrante, diz que, por vezes, se sentiu “desenraizado”, pois vivia num país que não era o seu e quando regressava a Portugal, tratavam-no por “suíço”. Ou seja, não era de lado nenhum.
Quando emigrou em 1981, tinha 24 anos. Estes primeiros anos passados em Portugal deram-lhe uma forte ligação a às origens e vem daí o grande desejo de um dia regressar. Mas com os filhos já não é assim. Embora tivessem nascido em Portugal, foi na Suíça que cresceram, que frequentaram a escola, que fizeram amigos, que começaram a trabalhar e casaram. “Eles gostam de passar férias em Portugal. Mas não pensam em mudar-se para cá.”- diz Francisco.
Ao avaliar os quase quarenta anos vividos no estrangeiro, Francisco Anes disse que, embora a Suíça seja um país frio e húmido, profissionalmente é um país “bom” para trabalhar. “É uma nação muito organizada e onde há muita indústria”. E até a decisão de não pertencer à União Europeia, parece beneficiar a economia local, pois o mercado interno dá preferência aos seus produtos suíços.
O regresso a Portugal
Em fevereiro de 2017, Francisco e e Maria concretizaram o tão desejado sonho de regressar a Portugal. Após 37 anos de trabalho na Suíça e com os filhos bem encaminhados na vida, Francisco Anes solicitou a pré-reforma e regressou a Portugal, na companhia da esposa.
Já lá vão quatro anos desde que regressaram a Algoso e Francisco e Maria já se sentem parte da comunidade local. No seu dia-a-dia dedicam-se aos trabalhos de quem vive no campo: a agricultura, a olivicultura, o amendoal, a vinha, a produção de cereais, a criação de galinhas, o cultivo da horta, a confeção de compotas, etc.. são algumas das muitas ocupações que realizam ao longo do ano. “Há sempre que fazer”, dizem.
Suíça versus Portugal
À pergunta sobre as diferenças que existem entre viver na Suíça e em Portugal, Francisco respondeu que a maior diferença será a salarial. “Os salários na Suíça são mais elevados”, diz. E Maria, a esposa, mencionou também a assistência na saúde, que no pais helvético é melhor. “Aqui no nordeste transmontano há falta de médicos especialistas e de equipamentos de saúde”, constataram. E para se precaverem em caso de necessidade, Francisco e Maria, subscreveram um seguro de saúde familiar. Este seguro de saúde permite-lhes receber assistência no hospital privado Terra Quente, em Mirandela, sempre que o necessitam.
Nesta sua readaptação a Portugal e ao interior do país, Francisco identificou outro dos problemas da região: a dificuldade em comercializar ou escoar os produtos locais, como são o azeite, a fruta, a amêndoa, etc.. “Neste momento tenho muitos tomates e não sei o que fazer com tanta quantidade. E o mesmo acontece com a fruta, com o azeite e com a amêndoa. Se houvesse fábricas transformadoras destes produtos, a região ganharia muito com isso”, sugeriu.
Mas enquanto não há fábricas transformadoras, o excedente de produtos é partilhado com os familiares, os amigos e conhecidos. E este mês de agosto é o tempo propício para essa partilha com os compatriotas emigrantes que trazem movimento e animação à aldeia, embora sejam necessárias as devidas precauções por causa da pandemia.