Homenagem: Trás-os-Montes comemora centenário do pai da agricultura transmontana – Camilo Mendonça
A região de Trás-os-Montes vai comemorar, a partir de 7 de julho, o centenário do nascimento de Camilo Mendonça, conhecido como o pai da agricultura transmontana por ter idealizado o que é hoje o setor agropecuário na região.
Na região ficou conhecido como o Engenheiro Camilo Mendonça.
Há 60 anos, foi ele quem elaborou o plano que deu origem à maior reforma agrária de sempre no nordeste transmontano. O antigo complexo do Cachão é a sua maior obra. Mas a sua ação está muito presente em toda a agricultura transmontana.
A região vai prestar-lhe homenagem com um ciclo de conferências, entre 7 e 23 de julho, organizado em conjunto pela Comunidade Intermunicipal (CIM) Terras de Trás-os-Montes, o Instituto Politécnico de Bragança (IPB), a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), a Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte e organizações da lavoura.
A CIM anunciou que o programa comemorativo integra também uma sessão de homenagem a Camilo de Mendonça, presidida pelo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na sexta-feira, 09 de julho.
Camilo Mendonça foi padrinho de batismo de Marcelo Rebelo de Sousa, que irá passar, segundo o programa divulgado pela organização, “pelos concelhos com maior ligação ao homenageado”.
A primeira passagem será por Macedo de Cavaleiros, concelho onde casou e residiu Camilo Mendonça e onde será depositada uma coroa de flores junto ao busto do homenageado, seguindo-se Vilarelhos, em Alfândega de Fé, aldeia onde nasceu, e onde se encontra o jazigo da família.
Na aldeia será celebrada uma missa pelo bispo da diocese de Bragança-Miranda, Dom José Cordeiro, e, depois de uma passagem pela barragem do Peneireiro, em Vila Flor, o dia termina com uma sessão em Mirandela.
Esta é apenas uma das etapas do programa comemorativo com um ciclo de conferências, com transmissão online, nos concelhos de Alfândega da Fé, Bragança, Carrazeda de Ansiães, Macedo de Cavaleiros, Vila Flor e Vila Real e que termina a 23 de julho, dia em que Camilo Mendonça faria 100 anos.
Camilo Mendonça nasceu a 23 de julho de 1921 e morreu com 62 anos, tendo deixado como legado uma “revolução” na agricultura da região de onde é natural, apesar de ter vivido nos corredores do poder do Antigo Regime, no qual ocupou vários cargos.
O engenheiro agrónomo pensou, na década de 1960 o redimensionamento das propriedades agrícolas, a mecanização, a introdução de novas culturas, a criação de cooperativas agrícolas, a comercialização de produtos e quase meia centena de barragens para garantir o regadio.
Assim chegaram à região as primeiras ceifeiras debulhadoras, a lavoura ganhou novos produtos como a cereja, morango, pepino ou tomate e o Complexo Agro Industrial do Cachão (CAICA), que deu a conhecer em Lisboa, há 60 anos, produtos locais como a azeitona “negrinha de Freixo”.
Muito do que existe hoje na agricultura transmontana é herança de Camilo Mendonça que não teve tempo de concluir a reforma agrária que idealizou.
Conotado com o Estado Novo, fugiu para o Brasil depois da revolução de 1974 e, por lá, assistiu ao desmantelar do Cachão que funcionou até à década de 1980 e chegou a empregar cerca de mil trabalhadores.
As Câmaras de Mirandela e Vila Flor pegaram no antigo complexo e estão a tentar revitalizar o espaço com um plano de recuperação ambiental e de base tecnológica.
Camilo Mendonça regressou a Portugal doente e morreu, em Oeiras, em 1984.
O “engenheiro” foi presidente do Grémio de Importadores e Armazenistas de Azeite e da Junta de Exportação do Café e foi também o primeiro Presidente da RTP-Rádio Televisão Portuguesa- entre 1956 e 1959.
Foi deputado à Assembleia Nacional, pelas listas da União Nacional, em três legislaturas com enfoque na situação económica e social do interior do país.
A partir de 1962 dedicou-se à construção do Complexo Agroindustrial do Cachão e cooperativas agrícolas do Nordeste Transmontano.
Os organizadores das comemorações do centenário do nascimento salientam que “o legado da sua obra mudou radicalmente o panorama económico e social do nordeste transmontano”.
Lusa | HA