XXIV Domingo do Tempo Comum

Perdoar

Sir 27, 33 – 28, 9 / Slm 102 (103), 1-4.9-12 / Rom 14, 7-9 / Mt 18, 21-35

A pergunta que hoje Pedro expressa é a nossa pergunta de todos os dias: quantas vezes devo perdoar? E ele até é generoso, ao perguntar se sete é um bom limite. Poucos de nós temos a paciência e a esperança para perdoar sete vezes a mesma pessoa. Jesus, contudo, diz-nos que devemos perdoar «70×7», isto é, um número desproporcional de vezes, vastíssimo, do qual se perde a conta.

O perdão é a melhor forma de expressar a nossa esperança no mundo e nos outros. Muitos dirão que é para ingénuos, e compreendo porque se pode pensar isso. Mas perdoar é diferente de se deixar enganar: é assumir que a relação, ainda que ferida, não termina ali. É abrir caminho.

Ao negarmos o perdão a alguém, o ressentimento gera em nós um cinismo e dureza de coração que prejudica a nossa relação com Deus e com o mundo. Temos de ser artífices de perdão, recorrentemente, para que a ordem do amor reine.

À pergunta de todos os dias «devo perdoar?», devemos responder com a oração de todos os dias: o Pai-Nosso. Logo a seguir a rezarmos «o pão nosso de cada dia nos dai hoje», dizemos com os lábios, ainda que nem sempre com o coração: «perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos…» – assim como nós perdoamos. Será que a medida do perdão que o Pai guarda para nós poderá ser limitada pelas condições que colocamos para perdoar alguém? Este pensamento deve, a homens como eu, cujo perdão raramente é espontâneo, inspirar um certo temor: se o Senhor me julgar com a medida do meu perdão, será que vou estar com Ele no Céu? Se perdoo a olhar para as minhas medidas, e não a partir da medida que o Senhor usa para mim, sou testemunha do Reino?

Temos de aprender a perdoar. E os santos são os nossos melhores guias. Ao saber que determinado colega de estudos estava doente com febre numa cidade longe de Paris, Santo Inácio de Loiola caminhou durante três dias para o visitar. Este colega apropriou-se de dinheiro que Inácio lhe tinha pedido para guardar, e ainda assim ele pôs-se a caminho para cuidar dele.

O que nos ensinam os santos? Que devemos recordar-nos constantemente do quão pouco amorosos somos; que há que confessar-nos frequentemente, para aprendermos a viver a partir do perdão; que devemos ser pessoas de perdão fácil; e que há que encontrar gestos concretos que dão sinal do nosso perdão e não somente do nosso arrependimento.

Ao viver assim, sabemos que o Reino está verdadeiramente entre nós. Ser santo não implica ser perfeito. Ser santo é viver no perdão e do perdão de Deus, disponível para ser um sinal de luz para com todos.

Fonte: Rede Mundial de Oração do Papa

Deixe um comentário