Vitivinicultura: Início das vindima com expectativa de aumento de produção
No Douro dá-se início por estes dias à festa das vindimas com uma expectativa de aumento de produção, num ano favorável à maturação e com algum “conforto hídrico”, depois de um 2022 marcado pela seca.
A vindima é o culminar de um ano de trabalho na vinha e é a considerada a maior festa da mais antiga região demarcada e regulamentada do mundo: o Douro.
“As condições de maturação que estamos a ter são bastante boas”, afirmou hoje à agência Lusa Luís Marcos, da Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense (ADVID).
Depois de um 2022 muito seco e quente, o inverno foi chuvoso e, apesar de meses secos entre fevereiro e abril, maio e junho trouxeram novamente a chuva ao território duriense.
Pelo que, explicou, a videira está “em conforto hídrico”. “Isso aliado a temperaturas altas, mas não demasiadamente altas, com noites frescas, tem criado condições para que a maturação ocorra de uma forma muito regular e sem interrupções”, acrescentou.
Em algumas localidades do Douro, a chuva veio acompanhada de granizo que afetou a vinha e a produção localmente e provocou também situações de míldio e a necessidade de efetuar mais tratamentos à videira.
“Tirando essas situações, para já a situação tem sido bastante favorável e tem permitido ter maturações bastante equilibradas, o que nos pode antecipar um ano de boa qualidade”, referiu Luís Marcos, que lembrou que as previsões da ADVID para a vindima de 2023 apontam para um aumento da produção “até 10%” comparativamente com o ano passado.
O Douro produziu 234 mil pipas de vinho em 2022, uma quebra de 12% comparativamente com o ano anterior e inferior à inicialmente prevista que rondava os 20%.
Na quinta do Vallado, Peso da Régua, o corte das uvas brancas da casta moscatel começou na terça-feira (dia 08), um dia antes do que em 2017, o ano em que as vindimas arrancaram mais cedo nesta quinta.
“Acho que tem tudo para ser um grande ano, não só em termos de qualidade como em quantidade. Para já, acho que as uvas estão muito saborosas, têm boa acidez, estão muito preservadas e tenho uma expectativa muito alta”, afirmou o administrador Francisco Ferreira, responsável pela gestão agrícola.
As suas previsões apontam para um aumento de produção nesta quinta, que tem vinhas no Baixo Corgo e Douro Superior, na “ordem dos 15 a 20%”.
Foi precisamente no Douro Superior que a Rozès deu início à vindima, cerca de 15 dias mais cedo do que no ano passado.
A empresa, com nove quintas e centro de vinificação na Quinta de Monsul, Lamego, prevê um aumento de produção “de cerca de 10%” este ano.
“O ano agrícola foi satisfatório em termos de água, nas três sub-regiões, no entanto o mês de junho foi difícil, pois tivemos chuva e calor, o que proporcionou o aparecimento de doenças criptogâmicas, como míldio, oídio e ‘black rot’ (podridão negra) e ainda ondas de calor, que exigiram por parte dos viticultores o aumento do número de tratamentos e consequentemente aumento dos custos”, referiu a equipa de enologia da Rozès.
Acrescentou que os controlos de maturação confirmam “uma boa relação peso/volume, boa acidez e boa concentração de açúcar”.
Também na Quinta do Pessegueiro, em São João da Pesqueira, o enólogo Hugo Heleno disse que o ano vitícola “correu bem” e que, neste momento, as “perspetivas são boas, em termos de quantidade”.
“Tivemos um bom inverno que deu para repor algumas reservas de água no solo que estava com muito défice, devido a um ano anterior completamente seco”, referiu.
Acrescentou que as chuvas da primavera obrigaram a uma atenção diária e a uma grande precisão nos tratamentos para controlar doenças como míldio e o oídio.
A Quinta de Foz Tua, em Carrazeda de Ansiães, foi atingida pelo mau tempo, chuva intensa e granizo, que danificou a adega e vinha, pelo que prevê, em consequência, uma quebra de produção que pode ser na ordem dos 30%.
O produtor César Fernandes disse que só quando as uvas forem colhidas e colocadas no tapete é que se poderá avaliar o impacto, mas sublinhou que o fruto que sobreviveu “é de boa qualidade”.
Mais ao lado, em Alijó, a Quanta Terra de Celso Pereira e Jorge Alves antecipou “oito a 10 dias” as vindimas relativamente ao ano passado, mantendo “a tendência que se tem vindo a verificar” devido às mudanças climáticas”, prevendo “um aumento de produção de 10 a 15% “ e “boa qualidade”.
Fonte: Lusa