Paradela: Trail Contrabando do Café juntou portugueses e espanhóis
A primeira edição do Trail Contrabando do Café, realizada em Paradela, no Domingo, dia 23 de abril, reuniu cerca de 350 participantes, que a correr e a caminhar, foram conhecer alguns dos locais mais bonitos da aldeia mais oriental de Portugal, também conhecida pelas histórias do contrabando com Espanha.
O organizador da prova, Alírio Sebastião, do Clube Desportivo de Miranda do Douro (CDMD) expressou a sua alegria por ver a terra natal, Paradela, cheia de portugueses e espanhóis.
Segundo a organização, no trail de 16 quilómetros participaram 175 atletas, tendo a prova sido ganha, na vertente masculina, pelo espanhol, Angel Vicente, do clube Independiente, ao concluir o percurso em 1 hora 19 minutos e 31 segundos.
Na vertente feminina, a jovem portuguesa, Ana Patrícia Brás Lopes, do clube Mirandela a Correr, foi a vencedora ao concluir a prova em 1hora 40 minutos e 01 segundo.
Outra participante no trail, foi Teresa Catita, atleta do Ginásio Clube de Bragança. Sobre o percurso em Paradela, a veterana disse que o Trail Contrabando do Café foi uma prova dura e com paisagens muito bonitas.
“Houve descidas, subidas e rampas que exigiram muita atenção e esforço. Se para nós atletas percorrer estes trilhos foi difícil, imagino o que seria para os contrabandistas que tinham que transportar mercadorias às costas”, disse.
Por seu lado, o espanhol, Tomás Ricardo, participou na caminhada de 8 quilómetros e elogiou o percurso, o qual permitiu avistar paisagens deslumbrantes sobre o rio Douro. Sobre a referência ao contrabando, o caminhante espanhol, achou muita graça à representação dos guardas-fiscais e dos contrabandistas no decorrer da prova.
A propósito do contrabando, o presidente da União de Freguesias de Ifanes e Paradela, Nélio Seixas, disse que a troca de mercadorias sem pagar os direitos alfandegários, foi uma atividade que permitiu a fixação das pessoas nesta localidade.
“Nas décadas de 1940, 50, 60 e 70, o contrabando era um complemento importante para o orçamento familiar, dado que a agricultura era uma atividade de subsistência. Com a venda de produtos em Espanha e o posterior câmbio de pesetas em escudos, os portugueses conseguiam obter um lucro adicional para as suas famílias”, explicou.
Nos dias de hoje, em Paradela, ainda é possível falar com pessoas que se dedicaram ao contrabando. Uma destas pessoas é Artur Gomes, reformado. Nasceu numa família de 7 irmãos, com poucos recursos económicos e por isso teve que ajudar os pais no orçamento familiar.
“Nesta região fronteiriça, o contrabando de café para Espanha era uma atividade rentável. Costumava fazer-se à noite. Durante 6 a 7 horas percorriamos os montes, transportando às costas cerca de 25 a 30 quilos de café, para vender em Espanha. De lá, trazíamos pano para fazer as calças, foices, panelas de barro e outros produtos”, contou.
Naqueles anos, as incursões clandestinas a Espanha faziam-se duas vezes por semana e geravam um lucro de 300 escudos, por cada 50 quilos de café.
“Quanto mais fria estivesse à noite melhor para nós. Pois com o frio os guardas fiscais não aguentavam muito tempo parados, o que facilitava a nossa passagem para Espanha”, recordou.
No final da primeira edição do Trail Contrabando do Café, o presidente da União de Freguesias de Ifanes e Paradela, Nélio Seixas, mostrou-se feliz com a grande afluência de pessoas à localidade.
Na organização do Trail Contrabando do Café participaram cerca de 30 pessoas de várias entidades como o Clube Desportivo de Miranda do Douro (CDMD), a Associação Distrital de Atletismo de Bragança, a União de Freguesias de Ifanes e Paradela, o Município de Miranda do Douro e outros patrocinadores.
HA