Economia: Ajudas devem ser dadas “à produção” – presidente da Jerónimo Martins
O presidente da Jerónimo Martins, Pedro Soares dos Santos, apelou para que as ajudas sejam dadas “à produção” e não à distribuição, com a condição de que os produtos fiquem em Portugal.
O gestor falava na conferência de imprensa de resultados da dona do Pingo Doce, que decorreu em Lisboa.
“As ajudas não as deem às empresas de distribuição, deem à produção com uma única garantia: que os produtos fiquem em Portugal, porque a escassez com que nós vivemos no ano passado de produtos foi muito perigosa e vocês têm o exemplo das imagens em Inglaterra”, afirmou Pedro Soares dos Santos.
“A escassez fez com que muitas vezes tivéssemos feito a opção de ter produto e não ter capacidade de discutir preço”, salientou.
Os melhores apoios que podem ser feitos, disse, “são os impostos às famílias e garantir que as famílias” voltem a ter poder de compra.
“Se calhar (…) nunca saímos da austeridade e a mentira foi explanada no seu total”, continuou Pedro Soares dos Santos.
E como a inflação voltou e a subida das taxas de juro também, “o dinheiro deixou de ser barato e se calhar o Banco Central Europeu [BCE] deixou de comprar os ativos”, o se traduz agora em “grandes incertezas”, disse.
Pedro Soares dos Santos defende, assim, apoios à produção e às famílias.
“Penso que vamos ter uma redução” dos preços no segundo semestre, mas nunca “aos valores anteriores”, considerou.
Por sua vez, António Serrano, diretor-geral da Jerónimo Martins Agro-Alimentar, retratou os desafios da produção no último ano.
“Em 2022, vivemos um ano que caracterizo como uma hecatombe que aconteceu em toda a produção, com o facto de ter surgido uma guerra inesperada e que ao longo do ano foi provocando grandes estragos, alguns imediatos, desde logo nem sequer havia disponibilidade de produtos, como por exemplo os fertilizantes fundamentais para toda a produção, isto foi um problema mundial”, apontou.
Isto porque a zona da Ucrânia, Bielorrússia e Rússia eram dos países que mais exportavam este tipo de fertilizantes.
“Tivemos um problema, não havia ‘stocks’, os preços subiram (…) e foi acontecendo que estes aumentos subiram ao longo do ano e atingiram valores acima de 150% de aumento, considerando também aqui a componente transporte, depois a energia e o gás, e claro que na componente da produção esses impactos vão sendo introduzidos no sistema de produção de forma imediata”, referiu.
Um dos exemplos é o caso do leite, pois “chegámos a meados do ano e estávamos confrontados com o facto de poder não haver leite porque os custos aumentaram, muitos produtores deixaram de produzir, não foi só em Portugal, foi em Espanha, em França e outros países, a redução de matéria-prima foi uma evidência”, referiu António Serrano.
Já a diretora financeira, Ana Luísa Virgínia, referiu: É “enganador tentar dizer que a culpa foi dos fornecedores, não, houve aqui uma situação global, um contexto global que contribuiu” para o aumento dos preços.
E mesmo que “no imediato” a inflação “contribua para as vendas” do grupo – “e pelas minhas contas deve ter contribuído com pelo menos 10 pontos do aumento que nós tivemos, dos 21%, a verdade é que depois não é sustentável porque isto tem um impacto brutal nas famílias e um impacto brutal nos nossos fornecedores e na cadeia toda de abastecimento que pode inclusivamente levar a ter indisponibilidade ou constrangimentos dos próprios produtos”, rematou.
Relativamente à taxa de segurança alimentar, a Jerónimo Martins mantém a posição de não concordar com a mesma, pelo que não paga.
“Prestámos as garantias que o Estado assinalou e enquanto não transitar em julgado” a situação mantém-se, referiu Pedro Soares dos Santos.
Além disso, vai também contestar os 700 mil euros que prevê pagar na taxa sobre lucros extraordinários.
Por mais do que uma vez, Pedro Soares dos Santos salientou que na Jerónimo Martins são “fanáticos” pelo investimento, apontando que o grupo vai investir 1.000 milhões de euros, nos próximos três anos, no Pingo Doce.
Fonte: Lusa