Entrevista: “As JMJ são uma oportunidade para os jovens expressarem a sua fé em Cristo – Irmã Conceição Borges

A irmã Conceição Borges pertence à congregação das Servas Franciscanas e assumiu em novembro de 2022, a coordenação da Pastoral de Juventude da diocese de Bragança – Miranda. Com a sua equipa, tem a missão de acompanhar os jovens, grupos e movimentos juvenis de toda a diocese, proporcionando-lhes atividades e encontros que os ajudem a crescer na fé, como a participação nas Jornadas Mundiais da Juventude, em Lisboa.

A irmã Conceição Borges é diretora e professora do Colégio São João de Brito, em Bragança.

T.M.N.: É a nova coordenadora da pastoral juvenil de diocese de Bragança-Miranda. Qual é a realidade juvenil desta diocese?

Conceição Borges: As dioceses do interior do país têm muito poucos jovens e a diocese de Bragança-Miranda não escapa a esta contrariedade. Mas, por outro lado, esta realidade permite que a pastoral juvenil seja mais próxima, ou seja, permite-nos conhecer e acompanhar melhor os jovens. Se antes afixávamos um cartaz e esperávamos que jovens aparecessem, agora há que os convidar pessoalmente. Contudo, apesar da nossa diocese estar bastante despovoada, mesmo assim ainda há jovens que participam com entusiasmo nas associações locais, nas bandas filarmónicas, nos clubes desportivos, etc..

T.M.N.: E na Igreja, os jovens costumam participar nas atividades e nas celebrações?

C.B.: Se é verdade que há jovens que não se identificam com a Igreja, com a sua estrutura, com as celebrações, também há aqueles que participam regularmente nas atividades e encontros eclesiais, como são o Dia Diocesano da Juventude, as Lectio Divinas e a pertença aos vários grupos paroquiais e movimentos. Destaco também a entusiástica participação da juventude das festividades populares das suas localidades.

“Apesar da nossa diocese estar bastante despovoada, mesmo assim ainda há jovens que participam com entusiasmo nas associações locais, nas bandas filarmónicas, nos clubes desportivos e nas festividades populares das suas localidades.”

T.M.N.: Mas nas missas é raro ver jovens.

C.B.: No dia-a-dia, talvez os jovens não participem na eucaristia dominical ou noutros encontros, porque não estão devidamente envolvidos nos grupos de leitores, no coro, nos escuteiros, nas comissões fabriqueiras, etc. Outra razão para este desinteresse talvez seja porque as celebrações são pouco apelativas e precisem de uma renovação. Para que os jovens participem nas celebrações temos que ser criativos e confiar-lhes responsabilidades.

T.M.N.: Quais são os interesses dos jovens? E as suas preocupações?

C.B.: Cada jovem é um mistério. Os jovens vivem intensamente cada momento e preocupam-se com as relações com os seus pares. Outra preocupação dos jovens é o seu futuro, nomeadamente, a decisão vocacional de escolher um curso. Nos interesses, os jovens dão muita atenção às questões sociais, como são a justiça e também a ecologia. Neste campo do ambiente, nós, a Igreja, temos muito para dar-lhes, seguindo as recomendações da encíclica do Papa Francisco, ‘Laudado Si’.

T.M.N.: Relativamente à vocação, qual é a recetividade dos jovens à vida religiosa? E como se descobre a vocação?

C.B.: A vocação é uma inquietação interior que Deus coloca em nós e que nos faz procurar o melhor caminho para ser feliz. A proposta da vida religiosa acontece quando o jovem descobre que o Senhor o convida ao estilo de vida do sacerdócio ou da vida consagrada. Mas para se decidir por este estilo de vida há que realizar todo um trabalho, um discernimento e um acompanhamento que é uma caminhada exigente. E por ser exigente também é bom, porque os jovens apercebem-se de que é uma vida diferente.

“A vocação é uma inquietação interior que Deus coloca em nós e que nos faz procurar o melhor caminho para ser feliz.”

T.M.N.: A irmã Conceição Borges como descobriu a sua vocação? E quais são os sinais de que acertou na decisão?

C.B.: Devo a vocação à minha família, aos avós, tios e pais que sempre participaram ativamente na paróquia e praticaram uma vida de oração. Ou seja, a minha família criou um ambiente religioso que me ajudou a crescer na fé. Simultaneamente, as irmãs Servas Franciscanas, foram acompanhando a minha infância e juventude, primeiro como catequistas e depois na escola, o que me permitiu estar em permanente contato com esta congregação. Nesta caminhada fui convidada para pertencer ao movimento Juventude Eucarística Franciscana (JEF) e foi aí que, vi mais claramente, a possibilidade de ser com as irmãs. “Eu também podia ser assim!” – disse para comigo.

T.M.N.: O que a atraiu nas Servas Franciscanas?

C.B.: Atraiu-me muito a vida comunitária, a sua alegria, a relação com Deus e o serviço aos outros. Acho que acertei na vocação pela paz profunda que sinto e pela total identificação com este estilo de vida. Sinto-me feliz ao viver assim. Mas é um “sim” que tenho que dar todos os dias.

T.M.N.: Quando ingressou na congregação das Irmãs Servas Franciscanas Reparadoras de Jesus Sacramentado?

C.B.: Em 1999, concluí o curso em Matemática e Ciências, via ensino e solicitei a entrada na congregação das Servas Franciscanas. Os primeiros três anos foram de noviciado e formação. Em 2002, fiz a profissão temporária. E em 2008, emiti os votos perpétuos na congregação.

“Na vida religiosa atrai-me muito a vida comunitária, a alegria, a relação com Deus e o serviço aos outros.”

T.M.N.: Estamos em contagem decrescente para as Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ), que vão realizar-se em Lisboa, de 1 a 6 de agosto. Que preparativos estão a realizar na diocese de Bragança-Miranda?

C.B.: Como secretariado da pastoral juvenil da diocese compete-nos fazer a ponte e a comunicação para os jovens. No âmbito da diocese, mensalmente, estamos a organizar a atividade “23 a caminho”, trata-se de um espaço de oração, no dia 23 de cada mês e que está a decorrer em Bragança e Vimioso. Outra atividade são as Lectio Divinas, onde também divulgamos as JMJ 2023, que vão decorrer em Lisboa. Há também uma equipa com a missão de ir às escolas, aos grupos e aos movimentos divulgar as Jornadas Mundiais da Juventude. Outra tarefa é o contato com as instituições, como o Instituto Politécnico de Bragança (IPB), com os municípios e as autoridades de saúde e de segurança, no sentido de assegurar o alojamento, a logística, o transporte, os planos de saúde e de segurança dos jovens.

T.M.N.: Na semana de 26 e 31 de julho, realizam-se as “Pré-Jornadas” ou “Dias nas Dioceses”. Quantos jovens vindos de todo o mundo, vão ser acolhidos e integrados na diocese de Bragança-Miranda?

C.B.: Atualmente estamos a receber inscrições para as JMJ 2023, a nível nacional. Para a diocese de Bragança – Miranda até ao momento já estão inscritos cerca de 600 jovens, provenientes de colégios de uma congregação, em Espanha. No entanto, em colaboração com os municípios do distrito de Bragança, que manifestaram uma grande receptividade ao acolhimento, estimamos que ter capacidade para acolher 2 mil jovens.

T.M.N.: O que vão fazer os jovens ao longo dessa semana, na diocese de Bragança-Miranda?

C.B.: Há uma proposta nacional de atividades para toda a semana. Assim, no primeiro dia, a 26 de julho, vamos fazer o acolhimento dos jovens. No segundo dia, vamos propor uma caminhada na natureza, numa clara alusão à encíclica “Laudato Si’. O terceiro dia é voltado para a missão nas comunidades rurais e estamos a planear visitas às pessoas que vivem mais sós, aos doentes e aos utentes das IPSS’s. No dia 29 de julho, vamos oferecer aos jovens uma jornada mais voltada para a cultura e as tradições da nossa região, como podem ser a dança dos pauliteiros de Miranda e a confecção da Bola Doce Mirandesa. Finalmente, no dia 30 de julho, vai realizar-se uma grande celebração na Catedral, em Bragança, com todos os grupos que ficaram alojados na diocese. E no dia 31 de julho, os jovens viajam para Lisboa.

“Em colaboração com os municípios do distrito de Bragança, que manifestaram uma grande receptividade ao acolhimento, estimamos que ter capacidade para acolher 2 mil jovens das JMJ”.

T.M.N.: Para os jovens que nunca participaram nas Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ), que evento é este?

C.B.: A Jornada Mundial da Juventude foi criada em 1984, pelo saudoso São João Paulo II, como um encontro diocesano de jovens, em Roma. E desde então, cresceu de tal maneira, que se tornou num encontro mundial. Assim, de dois em dois anos, é escolhida uma cidade para acolher jovens de todo o mundo, que assumem o compromisso de expressar a sua fé em Cristo, ao longo de uma semana.

T.M.N.: O que vai acontecer em Lisboa, entre 1 e 6 de agosto?

C.B.: A Jornada Mundial da Juventude vai inciar com uma missa de abertura, em Lisboa, presidida pelo cardeal ou bispo da cidade. Seguem-se três dias com muitas atividades, tais como eventos culturais, concertos, exposições, catequeses em várias línguas e espaços da cidade. No dia 3 de agosto, com a chegada do Santo Padre Francisco, vai realizar-se um dos momentos mais esperados, a missa ou cerimónia de acolhimento. Na sexta-feira, vai celebrar-se a Via Sacra. E no Domingo, dia 6 de agosto, no Parque Tejo, celebra-se a vigília e a Missa de Encerramento das JMJ.

Na semana das JMJ, em Lisboa, vai haver muitas atividades, tais como eventos culturais, concertos, exposições, catequeses em várias línguas e espaços da cidade.”

T.M.N.: Da diocese de Bragança-Miranda, quantos jovens vão até Lisboa, para participar na JMJ? Até quando estão abertas as inscrições? Como é que os jovens podem inscrever-se?

C.B.: De momento ainda estamos em contato com as paróquias e a prestar esclarecimentos sobre a participação nas JMJ, pelo que ainda não temos o número total de jovens da diocese. As inscrições estão abertas até ao final de junho, de modo a planear com antecedência, a logística, o transporte, o kit e o alojamento. Quem pretenda inscrever-se ou saber mais sobre as JMJ 2023, pode fazê-lo através das redes sociais ou do site da diocese de Bragança-Miranda.

Perfil

A Irmã Conceição Borges é natural de Macedo de Cavaleiros.

É diretora e professora do Colégio São João de Brito, em Bragança.

É a atual coordenadora da pastoral de Juventude da Diocese de Bragança-Miranda.

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