VII DOMINGO DO TEMPO COMUM
A vida de Cristo é amar
Lev 19, 1-2.17-18 / Slm 102 (103), 1-4.8.10.12-13 / 1 Cor 3, 16-23 / Mt 5, 38-48
Todos queremos um Deus de amor até ao momento em que nos sentimos injustiçados, atraiçoados, feridos. Aí, o que desejamos é um deus que vem em fúria para julgar e castigar aqueles que nos fizeram mal. E ressentimo-nos com a sua inação.
O nosso Pai «faz nascer o sol sobre bons e maus e chover sobre justos e injustos». Para verdadeiramente sermos seus filhos, devemos amar os nossos inimigos e rezar pelos que nos perseguem. Mas não é isto insensato? Não será loucura? É sim! Para a sabedoria do mundo, isto não tem nenhum sentido, porque o mundo, e nós mesmos, nos tornámos insensíveis à matéria com que se teceu a Criação: a bondade!
O nosso coração tornou-se impermeável ao mandamento do Senhor a amar os nossos inimigos. Optamos por uma versão «descafeinada», para não perder o sono, algo como «não lhe desejo mal» ou «Deus com ele e Deus comigo». E talvez funcione. Talvez desta forma não percamos o sono. Mas também não vivemos despertos, porque ficamos aquém do Evangelho e, por isso mesmo, privados da alegria de fazer caminho com Jesus.
Nestas vésperas da Quaresma, olhemos a Paixão. Desde que é preso até à sua morte na cruz, Cristo não condena quem o persegue nem quem o abandona. Quando o procuram para lhe fazer mal, não foge nem se esconde. Quando lhe batem, pergunta-lhes porquê. Quando é humilhado, gozado e tido por pouco, não se ouve a sua voz. E pregado na Cruz, pede ao Pai que perdoe os que o condenaram e torturaram.
Amar os nossos inimigos não é uma frase de postal, um sentimento delicodoce que proferimos quando o sol brilha e que descartamos mal as nuvens surgem no horizonte. É o caminho da santidade, pois só o amor pelo outro o resgatará às cadeias do pecado, à armadilha do mal, aos enganos do mundo… e a nós com ele.
Comprometamo-nos, uns com os outros, a tornar este mandamento uma realidade. Ajudemo-nos no caminho de santidade. Deitemos fora o ressentimento, o cinismo, o desejo de vingança, pois todos estes sentimentos são veneno para o nosso coração e ladrões de alegria.
Façamos como Santa Teresa de Calcutá quando, um dia, lhe cuspiram na cara por ter pedido um pão para uma criança com fome. Ela agarrou num lenço, limpou a sua cara e disse a quem a humilhou: «Obrigado por aquilo que me deu. E para a criança, tem alguma coisa?». Este seu gesto converte mais corações do que cem vergastadas nas costas de quem a humilhou, do que toda a maledicência nas esquinas das ruas e do que todos os «cancelamentos» tão na moda hoje em dia.