Sociedade: Lei da eutanásia aprovada no Parlamento «é perversa»
A presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP) afirmou em declarações à Agência ECCLESIA que lei da eutanásia aprovada no Parlamento “é perversa”, por garantir a morte a pedido, sem assegurar “cuidados adequados”.
“Estamos perante um texto que quer permitir à pessoa, com uma doença grave e avançada, poder antecipar a sua morte, porque tem um sofrimento que não tolera. A essa pessoa não garantimos os cuidados adequados, mas vamos passar a garantir a morte a pedido”, alerta Catarina Pazes.
A presidente da APCP lamenta que a associação não tenha sido ouvida pelos partidos que tiveram a iniciativa legislativa sobre a despenalização da eutanásia e considera que os cuidados paliativos são a forma de garantir ao doente a decisão sobre o “processo de fim de vida a pedido”.
“Defendemos que o doente deve participar muito ativamente no seu processo de doença, participar nas decisões, quando a sua vida é marcada por uma doença grave. O acompanhamento por cuidados paliativos facilita esse processo de participação, porque garante ao doente maior conhecimento de toda a situação e planeamento para o futuro”, afirma a enfermeira de cuidados paliativos.
Em entrevista emitida no programa Ecclesia (RTP2) esta segunda-feira, Catarina Pazes alerta que “um doente que está num sofrimento intenso e que pede a morte” justifica “a intervenção de uma equipa especializada em tratar sofrimento” e é obrigação do Estado garantir esse acesso, através de equipas de cuidados paliativos.
A presidente da APCP referiu que perto de 100 mil pessoas necessitam de cuidados paliativos e que apenas 30% desses portugueses têm acesso a esse “tratamento adequado”, ficando o sofrimento dos restantes sem “ser atendido”.
Catarina Pazes considera a legislação sobre a eutanásia “extemporânea e incompreensível” e lamenta que a Assembleia da República “tenha assumido esta como uma prioridade” e não enfrente os “problemas gravíssimos” no Sistema Nacional de Saúde para garantir o acesso aos cuidados de saúde “para todos”.
“No contexto que temos, viver no nosso país e ter uma lei da eutanásia, vai ser muito difícil, vai ser impossível proteger os mais frágeis e os mais vulneráveis”, afirmou a enfermeira que há 12 anos trabalha em cuidados paliativos, em Beja, e é presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos.
Fonte: PR | Ecclesia