Sendim: Iniciou-se a apanha e entrega da azeitona
Em Sendim, a campanha da apanha da azeitona começou no passado dia 16 de novembro, com a abertura da cooperativa olivícola “A Sendinense”, para onde os 500 olivicultores associados encaminham a sua produção, que este ano regista uma quebra na ordem dos 35%, segundo o presidente da assembleia da cooperativa, Vitor Rodrigues.
De acordo com o presidente da mesa da assembleia geral da “A Sendinense”, Vitor Rodrigues a cooperativa olivícola, tem atualmente 502 associados. Sobre a campanha deste ano, o dirigente da cooperativa adiantou nesta região do planalto mirandês, as perspectivas apontam para uma redução de 35% na colheita de azeitona.
“No mês de novembro, a chuva e sobretudo o vento provocaram a queda da azeitona. Na região de Sendim, a variedade de azeitona predominante é a Negrinha, embora também existam a Cobrançosa e a Santulhana”, indicou.
Sobre o trabalho da apanha da azeitona, Vitor Rodrigues sublinhou que nesta região continua a haver muita dificuldade na contratação de pessoas.
“Não há pessoas que queiram trabalhar nem na apanha da azeitona, nem no lagar de transformação de azeite. E esta falta de mão-de-obra é um problema transversal a outros setores, como são a construção civil e as reparações mecânicas, que também não conseguem contratar pessoas”, alertou.
Se é verdade que o trabalho de apanha da azeitona está cada vez mais mecanizado, com a utilização de varas mecânicas e de tratores, mesmo assim, ainda é tradição juntar os familiares e os amigos para realizar este trabalho em conjunto.
“Em Sendim, já há duas máquinas vibradoras com tolde, que prestam uma grande ajuda na apanha da azeitona. Mas, nos locais de difícil acesso, continua-se a praticar a apanha tradicional, com a ripa e o varejamento.”, disse.
Tradicionalmente, o trabalho da apanha da azeitona é também um momento de convívio e confraternização, na qual as famílias e amigos se entreajudavam mutuamente. No decorrer desta jornada, é tradição almoçar no olival e a ementa inclui a vitela, o cordeiro, o fumeiro e o vinho.
Concluída a apanha da azeitona, segue-se a entrega da colheita na cooperativa de Sendim.
No lagar, as folhas e detritos são separados e as azeitonas lavadas e pesadas.
Segue-se a trituração das azeitonas para serem moídas. Daqui resulta uma pasta de azeitonas, que depois passa para a batedora, onde permanecem até 60 minutos. Esta é uma fase importante no processo, pois a temperatura da massa não pode ultrapassar os 27 graus, por causa da fermentação do fruto.
A fase seguinte é a centrifugação do azeite, que consiste na separação do óleo da água e outras impurezas. É um processo completamente natural, pelo qual, devido à força da centrífugação e a diferença de densidades, o óleo separa-se facilmente do mosto sólido.
Após a separação do azeite da pasta sólida procede-se à filtragem do azeite, para retirar todas as impurezas que ainda possam estar presentes no óleo.
Concluída a filtragem, o azeite é armazenado em tanques afunilados para realizar a decantação, um processo de decorre ao longo de 20 dias. A decantação permite que os dejetos sólidos se mantenham no fundo do tanque e se separem do azeite.
A última etapa é o embalamento e etiquetagem do azeite. Esta ação é importante para conservar a qualidade e o sabor, devido ao cuidado que há que ter com o contato do azeite com a luz e o ar.
Por causa do aumento dos custos e da quebra na produção, o preço do litro de azeite está quase nos 10€, um valor que o dirigente da A Sendinense, Vitor Rodrigues, não acha despropositado.
“Para nós, olivicultores, este aumento do preço do azeite ainda não paga o aumento do custo de vida e de produção. Recordo que o preço do combustível e a utilização de máquinas na apanha da azeitona são encargos caríssimos e os trabalhos ao longo do ano nos olivais também não são baratos”, defendeu.
Para além do azeite, a cooperativa em Sendim, adquiriu este ano uma máquina desencaroçadora, um investimento de cerca de 35 mil euros, para reutilizar o caroço da azeitona.
“Antigamente, o bagaço ou borra resultante da extração do azeite era vendido em Mirandela. E esse lucro, ainda que não fosse muito, servia para pagar o transporte deste subproduto e os salários dos trabalhadores da cooperativa. No entanto, há dois anos deixaram de pagar pelo bagaço. Por esta razão, a cooperativa adquiriu uma máquina desencaroçadora, que vai retirar o caroço do bagaço, o que por sua vez vai originar um bagaço líquido e o caroço vai servir para aquecimento das águas na cooperativa e para venda”, justificou.
O olivicultor de Sendim, Augusto Aleixo, foi um dos primeiros a entregar a sua colheita de azeitona no lagar da cooperativa A Sendinense. Questionado sobre a colheita deste ano, o olivicultor sendinês disse que “há produtores que têm boa produção de azeitona, enquanto outros não. Depende das zonas” – disse.
“Neste ano 2023 vou ter boa produção de azeitona, nas variedades Negrinha, Santulhana e Verdeal. Nesta primeira vinda à cooperativa vou entregar cerca de 2500 quilos de azeitona. E ainda vou entregar mais 1500 quilos”, adiantou.
Sobre o aumento do preço do azeite, Augusto Aleixo afirmou que esta subida é justa, dado que há mais de dez anos que não havia uma atualização no valor deste produto.
“Para este aumento do preço do azeite há que considerar que a inflação provocou o aumento dos custos de produção, como os combustíveis, que associados à falta de mão de obra justificam inteiramente o ajustamento no preço do azeite”, concluiu.
Segundo o presidente da União de Freguesias de Sendim e Atenor, Luís Santiago, a olivicultura, a par da vinha, tem grande importância económica na vila de Sendim.
“Inicialmente, os sendineses apanham a azeitona para conserva. E só depois iniciam a apanha para a extração do azeite. A existência de uma cooperativa olivícola em Sendim, é uma mais valia para todos os produtores da região”, disse.
Segundo o autarca, ser associado da Sendinense – Cooperativa Olivícola, têm como vantagens a prioridade na entrega da azeitona no lagar, relativamente aos não sócios.
HA