Reportagem: Moagem de Tó é uma marca de sucesso no planalto mirandês
Fundada por Francisco dos Anjos Bártolo, em 1981, a Moagem de Tó, no concelho de Mogadouro começou por ser uma pequena empresa familiar, onde trabalhavam os pais e os três filhos. Ao longo destes 42 anos, a empresa enfrentou a dificuldade da inexistência de cereais no planalto mirandês, conseguiu modernizar-se e crescer. Para explicar este sucesso e a longevidade da Moagem de Tó, o senhor Bártolo foi perentório: “Quando trabalhamos com paixão é mais fácil ser empreendedor e resiliente diante dos obstáculos!”, afirmou.
Aquando do começo da moagem de Tó, na década de 1980, o planalto mirandês era um território onde se produzia grande quantidade de trigo e de centeio. Mas com o passar dos anos, os agricultores deixaram de produzir cereais. Ainda assim, a Moagem de Tó continuou a laborar ininterruptamente, precisamente, graças à paixão e à tenacidade da família Bártolo.
Para se adaptar a esta nova realidade, a família Bártolo viu-se obrigada a importar trigo de países como França, Alemanha, Espanha e até do Canadá.
“A importação dos cereais provocou o aumento dos custos, nomeadamente das despesas de transporte marítimo e terrestre. Lembro que os cereais são transportados por navios e os portos marítimos mais próximos de Tó distam 500 quilómetros. É o caso dos portos de Santander, Bilbau e Lisboa. No porto do Porto, as pequenas empresas não têm acesso ao trigo”, explicou.
Percorridos 42 anos, a Moagem de Tó emprega atualmente nove pessoas e é hoje reconhecidamente uma imagem de marca do planalto mirandês.
A empresa é especializada na transformação de cereais e na comercialização de produtos de elevada qualidade, com destaque para as farinhas de trigo e de centeio, com as quais as padarias da região fabricam as indispensáveis fogaças de pão, que entram diariamente nas casas das famílias transmontanas.
Ao longo dos anos, a família Bártolo adquiriu uma vasta experiência e conhecimentos técnicos na produção e distribuição dos seus produtos. A própria aldeia de Tó ficou bem mais conhecida graças à moagem e à qualidade da farinha aí produzida.
O filho, Francisco Bártolo, justificou que este reconhecimento deve-se ao trabalho diário, à dedicação e à determinação em proporcionar produtos de elevada qualidade aos clientes.
Para atingir esta excelência, a família Bártolo ampliou as instalações da moagem e inovou introduzindo moinhos modernos, para transformar os cereais em produtos (farinha) e subprodutos (sêmeas).
Outra mudança registada, foi a aquisição de uma frota para o transporte e a entrega dos produtos diretamente aos clientes – padarias, pastelarias, casas agrícolas, comércio da retalho, consumidores finais – que hoje em dia estão espalhados pelos distritos de Bragança, Vila Real e Porto.
“A qualidade da farinha deve-se à criteriosa seleção dos cereais”, indicou.
Questionado sobre se a guerra da Ucrânia afetou os custos de produção na Moagem de Tó, Francisco Bártolo respondeu que embora não utilizem cereais vindos do leste da Europa, sentiram um impacto indireto.
“Com a guerra na Ucrânia houve uma menor oferta de cereais no mercado mundial, o que levou a um brutal aumento dos preço. E por conseguinte as pequenas e médias empresas, como a Moagem de Tó, tiveram que pagar mais pelas matérias primas. Este aumento chegou mesmo aos 100%”, disse.
Com 42 anos de atividade, a Moagem de Tó demonstra que é possível ser bem sucedido, empresarialmente, no interior do país. No entanto, a família Bártolo alerta que o isolamento do território, a longa distância relativamente aos portos marítimos para aí buscar as matérias-primas e a baixa densidade populacional da região são sérias dificuldades com que vivem no dia-a-dia.
HA