Picote: Literatura oral, missa, gastronomia e música animaram a III Festa das Línguas

A III Festa das Línguas que decorreu em Picote, no fim-de-semana de 19, 20 e 21 de setembro e cujo propósito é celebrar a diversidade linguística e cultural, teve como maiores destaques a partilha de histórias e contos orais, a celebração na missa em várias línguas, a taberna gastronómica com produtos locais e ementa em mirandês e ainda o concerto rock dos Pica & Trilha.

No final da festa, o presidente da Freguesia de Picote, Jorge Lourenço, sublinhou que a língua mirandesa é uma marca distintiva desta aldeia, que recorde-se foi a primeira localidade do concelho de Miranda do Douro a instalar nas ruas a toponímia em mirandês.

“A língua mirandesa é um valiosíssimo recurso do património cultural existente em Picote, que importa preservar e divulgar. Para isso, a associação FRAUGA e a freguesia de Picote, assumiram esta responsabilidade e o compromisso sério e colaborativo, de organizar anualmente, a Festa das Línguas, de modo a promover a nossa língua e a nossa cultura”, disse o autarca picotês.

Nesta terceira edição, a Festa das Línguas foi dedicada à literatura oral e o programa contemplou a partilha de histórias e contos, recolhidos em várias línguas, como o mirandês, asturiano, lionês, entre outros idiomas. Na perspectiva do professor António Bárbolo, da FRAUGA – Associação para o Desenvolvimento Integrado de Picote, a literatura oral, com as histórias e os contos, são instrumentos didáticos muito úteis no ensino e aprendizagem das línguas.

“Desde sempre, os educadores, os pais e os professores recorreram às histórias e aos contos tradicionais para transmitir valores, conhecimentos e formar as novas gerações. No ensino das línguas, a literatura oral e o teatro, são recursos didáticos muito úteis e profícuos”, disse.

Para além da literatura oral, outro destaque na III Festa das Línguas, em Picote, foi a eucaristia celebrada nas línguas latina, portuguesa, castelhana, mirandesa e asturiana. A missa foi presidida por monsenhor Adelino Paes, natural de Picote, tendo o sacerdote realçado que a celebração em várias línguas é também sinal de comunhão entre os povos e culturas.

“A língua universal de Deus é o amor, a atenção, a dedicação, o serviço e o cuidado para com os outros. Cuidemos também das línguas para que sejam instrumentos do amor e da palavra de Deus”, exortou o vigário-geral da diocese de Bragança-Miranda.

Das Astúrias (Espanha) e em representação da associação “El Teixu”, Denis Fernandez, trouxe para Picote algumas histórias e contos orais, tradicionais da região asturiana e da província de Leão.

«A associação “El Teixu” trabalha para a preservação, dignificação e divulgação da língua asturo-leonesa. Acreditamos que as línguas que se falam neste espaço geográfico que é a Terra de Miranda e as regiões espanholas de Zamora, Leão e das Astúrias, como são os casos do mirandês, alistano, sanabrês, lionês e asturiano são ramificações ou variedades de uma mesma língua. Para além do estudo, pretendemos que sejam reconhecidos os direitos linguísticos dos falantes destas línguas”, disse.


Na vizinha Espanha, a par do castelhano, o galego, o basco e o catalão são consideradas línguas oficiais. No entanto, a língua asturo-leonesa, assim como o aragonês ainda não obtiveram esse estatuto e a razão é segundo, Denis Fernandez, a inexistência de um nacionalismo forte nas Astúrias.

Uma das novidades na III Festa das Línguas, em Picote, foi a Taberna gastronómica, um espaço de restauração, onde o público teve a oportunidade de degustar receitas tradicionais, como as sopas da segada e javali estufado, confeccionados com produtos da localidade.

“A Taberna das Lhénguas foi uma novidade e um desafio superado nesta terceira Festa das Línguas. A gastronomia tem um elevado valor cultural e também linguístico, pois muitos dos produtos e receitas são conhecidos pela designação em mirandês, como é o caso do cochino bravo (javali), cachulas (moelas), tabafeia (alheira), matrucone (pêssego), manzana (maçã), etc., etc.. Ao escrevermos a ementa em mirandês, estamos a convidar o público a pedir e falar na nossa língua”, justificou o professor Bárbolo.

Para aprimorar a Taberna das Línguas, na próxima edição da festa, a organização vai convidar os falantes dos vários idiomas a trazer produtos e pratos gastronómicos caraterísticos das suas regiões Este ano, os convidados das Astúrias, por exemplo, trouxeram sidra de maçã, uma bebida típica da região norte de Espanha.

Outro atrativo na Festa das Línguas, em Picote, são os concertos musicais com letras e interpretações em vários idiomas. Na edição deste ano, os Pica &Trilha animaram o evento com um concerto de rock, em mirandês. De acordo com a FRAUGA, a música é um dos meios mais eficazes na transmissão das línguas, como ficou comprovado no concerto dos Pica &Trilha, que no seu repertório de rock cantam exclusivamente em mirandês.

“Os concertos musicais são também uma das melhores estratégias para trazer gente para a Festa das Línguas, em Picote”, corroborou o linguista. António Bárbolo.

Em Picote, a “Fiesta de las Lhénguas” é um evento anual que conta com os apoios institucionais do município de Miranda do Douro, da Comissão e Coordenação de Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) e de várias outras instituições e empresas.

Em 2026, a IV Festa das Línguas terá como tema as políticas linguísticas e o estatuto das línguas.

HA

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