Picote: “Encontros da Primavera” dão origem a projetos de desenvolvimento local

De 12 a 15 de junho, Picote, no concelho de Miranda do Douro, foi o cenário dos XX Encontros Primavera, um evento cultural promovido pela associação FRAUGA, que proporciona o diálogo entre a comunidade local e os artistas convidados, com a finalidade de pensar e realizar projetos que promovam o desenvolvimento local.

A exposição “Pandorga”, de Gonçalo Mota, no Ecomuseu Terra Mater, em Picote.

Este ano, o evento cultural em Picote, começou com a apresentação “Oblivio” da autoria de João Meirinhos. O artista natural do concelho de Miranda do Douro, apresentou uma performance dedicada à realidade do “esquecimento”: esquecimento da terra e da gente que persiste em viver nesta região do planalto mirandês.

A curadora, Patrícia Geraldes, foi a responsável pela seleção dos artistas que desenvolveram trabalhos com a comunidade local.

“Ao longo de um mês, os artistas permaneceram em Picote, para conhecer a aldeia, dialogar com a comunidade residente e desenvolver os seus trabalhos. O resultado final foi apresentado no decorrer dos Encontros da Primavera, que consiste num um evento cultural que envolve a antropologia, o cinema e a arte”, contextualizou.

Na XX edição dos Encontros da Primavera, os artistas convidados para as residências artísticas foram a Evgenia Emets e Gonçalo Mota.

“A Evgenia realizou um trabalho de intervenção na paisagem com uma reflorestação de árvores autóctones, que envolve a participação da comunidade local. Durante a estadia em Picote, a comunidade de Picote ofereceu sementes de plantas e árvores caraterísticas da localidade, cuja recolha já está exposta e acessível na freguesia de Picote”, informou a curadora.

A 13 de junho, a artista, Evgénia Emets, apresentou no salão da junta de freguesia de Picote, o filme “As vozes dos guardiães da terra”. Este documentário inclui entrevistas aos habitantes locais de Picote, que falam sobre a vida nesta localidade, que após a conclusão da barragem em 1958, se tornou predominantemente rural.

«Estou a desenvolver um projeto que se chama “Eternal Forest” e visa criar uma rede de florestas protegidas, através da arte e da comunidade. O objetivo é criar mil santuários de floretas protegidas, para mil anos, em Portugal e no estrangeiro. Em Portugal, Picote foi um dos locais escolhidos para criar um santuário de floresta protegida ou uma floresta comunitária, na zona da ribeira de cima, numa propriedade cedida pela senhora Ana Rosa, residente em Picote”, explicou a artista.

A plantação de floresta autóctone está agendada para os meses de outubro e novembro, estando previstas 25 árvores autóctones, como freixos, juncos, salgueiros, entre outras.

Já o artista, Gonçalo Mota, que estudou antropologia, em Miranda do Douro, no antigo polo da Universdade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) inaugurou a exposição de fotografia “Pandorga” (chocalhada).

A mostra fotográfica está em exibição no Ecomuseu Terra Mater e é alusiva à Festa de Santa Bárbara, de Duas Igrejas, também conhecida como a Festa da Primavera ou Festa das Flores.

“A exposição de fotografia que apresentei nos XX Encontros da Primavera, reune alguns elementos da tradição da pandorga ou chocalhada, em Duas Igrejas. É uma tradição que se faz no último fim-de-semana de maio, de dois em dois anos, na qual as pessoas fazem uma fogueira à porta de casa, que os rapazes acompanhados por chocalhos, saltam por cima para afastar os maus espíritos”, indicou.

De 12 a 15 de junho. a programação dos XX Encontros Primavera, teve outros destaques, como foram a observação astronómica e a sugestiva conversa sobre o tema “Direito às Estrelas”; a sessão de contos, no coreto de Picote; ou o concerto do DJ Matias, com a música folk, no Largo do Tumbar.

“O público-alvo dos Encontros da Primavera são as pessoas que residem em Picote, assim com as populações das localidades circundantes como Sendim, Palaçoulo, Prado Gatão, Vila Chã de Braciosa, Duas Igrejas, Miranda do Douro, etc. O objetivo deste evento é fomentar o diálogo, o debate, a troca de ideias e de perspectivas que aportem novos contributos à aldeia, ao concelho e à região”, concluiu a curadora, Patrícia Geraldes.

Para o professor António Bárbolo, da direção da FRAUGA – Associação para o Desenvolvimento Integrado de Picote, os Encontros da Primavera são um evento cultural que “faz pensar” sobre a realidade da aldeia de Picote e da região.

Na perspectiva de António Bárbolo, o desenvolvimento local e regional exige a colaboração das pessoas e a sinergia entre as instituições e as associações, em torno de um desígnio comum.

“Uma cultura que não interrogue e que não faça pensar é pobre e não evolui. A meu ver, precisamos de políticas estruturais, estratégias culturais e planificação de projetos que perdurem no tempo. Tal como acontece com os Encontros da Primavera, um encontro anual, que já se faz há 20 anos, em Picote”, destacou.

Os Encontros da Primavera são um evento anual, promovido pela FRAUGA – Associação para o Desenvolvimento Integrado de Picote, que conta com os apoios do Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA), Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), Freguesia de Picote, do Município de Miranda do Douro, Família Kolping Picote, Movhera e CCDR-Norte.

HA

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