Pecuária: Há menos bovinos de raça mirandesa

No âmbito do Concurso Concelhio de Bovinos Mirandeses, realizado em Malhadas, no dia 24 de junho, o administrador da Cooperativa Agro Pecuária Mirandesa, engenheiro Nuno Paulo, indicou que em 2023, houve uma acentuada redução de nascimentos de vitelos de raça mirandesa, um decréscimo provocado pelo aumentos dos custos nas explorações pecuárias, pela doença hemorrágica e pela redução dos apoios aos criadores.

“A redução do número de bovinos deveu-se ao aumento dos custos de produção e também à doença hemorrágica que provocou a morte de um número considerável de animais. Com menos efetivos, a cooperativa acaba por realizar menos vendas e por conseguinte houve um menor rendimento para as explorações pecuárias”, justificou.

Por sua vez, o secretário técnico da Associação Nacional de Criadores de Bovinos de Raça Mirandesa (ANCBRM), Valter Raposo, indicou que no concelho de Miranda do Douro existem atualmente 51 explorações pecuárias de bovinos de raça mirandesa.

“No total, existem 1200 animais adultos, sendo que 1156 são fêmeas e 44 machos”, precisou.

Segundo dados da ANCBRM, em todo o solar da raça, que compreende os concelhos de Miranda do Douro, Mogadouro, Vimioso, Bragança, Vinhais e Macedo de Cavaleiros, existem atualmente 3720 animais adultos.

“O decréscimo do número de explorações e de animais deve-se, por um lado, à redução dos apoios financeiros à pecuária, o que levou alguns agricultores a desistir da atividade. A par disso, os anos de 2022 e 2023 trouxeram muitas dificuldades acrescidas aos criadores, por causa da seca e da falta de forragens, o que aumentou exponencialmente o preço da palha e dos cereais e obrigou à redução de efetivos nas explorações pecuárias”, explicou Valter Raposo.

Outro problema que ameaça os bovinos de raça mirandesa é a preferência de alguns criadores na região por outras raças, que se desenvolvem mais rapidamente e por isso geram um retorno económico mais célere. Perante esta realidade, o administrador da Cooperativa Mirandesa, Nuno Paulo, disse que os apoios para a produção de “linha pura” não são competitivos.

“O Ministério da Agricultura e mais concretamente o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC) deveriam rever os apoios às raças autóctones. No nosso entendimento, deveria ser implementado um valor de 250€/por animal, de discriminação positiva, comparativamente com as outras raças, para que os nossos produtos sejam mais competitivos”, indicou.

Ainda assim, o administrador da Cooperativa Agro Pecuária Mirandesa lembrou que a carne proveniente dos bovinos desta raça é diferenciada, de elevada qualidade e tem um selo de Denominação de Origem Protegida (DOP).

No solar desta raça autóctone, que compreende os concelhos de Miranda do Douro, Vimioso, Mogadouro, Macedo de Cavaleiros, Bragança e Vinhais, outro problema apontado é o atual envelhecimento dos criadores, cuja média de idade é superior aos 61 anos.

Sobre o corrente ano agrícola e a produção de forragens para alimentar os animais, Elias Gonçalves, criador de bovinos de raça mirandesa, em Malhadas confirmou este ano há abundância de erva e boas pastagens, no entanto, a produção de aveia é insuficiente.

“Graças a Deus, este ano agrícola está bem melhor do que no ano passado. No entanto, o excesso de chuva fez nascer muita erva nos campos semeados de aveia. E com os campos alagados, o cereal acabou por não crescer como devia”, explicou.

HA

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