Montesinho: Veados destroem castanheiros
No Parque Natural de Montesinho, os veados voltaram a dar prejuízos aos produtores de castanha na aldeia de Cova de Lua, pertencente ao concelho de Bragança, com dezenas de castanheiros destruídos, denunciou um dos agricultores afetados. Alcino Reis.

Nas últimas noites, Alcino Reis ficou com mais de 30 castanheiros destruídos.
“Esgaçam-nos, cascam-nos, se ficam cascados secam, e partem-nos”, queixou-se o produtor que já no ano passado foi obrigado a repor “60 e tal” castanheiros, que também foram destruídos pelo veado, explicando que, “depois de posto, o castanheiro fica para cima de 15 euros, fora a proteção (rede), o rolo custa 35 euros”.
Os estragos ficam agora a cargo dos lesados, que se queixam de não receber qualquer ajuda do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF).
“Nada, aqui ninguém dá nada. Deviam resolver isso, mas ninguém quer saber de nada. O ICNF quer os bichos, portanto devia pagar”, defendeu Alcino Reis.
Nos últimos dois anos, devido à diminuição do cultivo de cereais, mas também aos incêndios que destruíram o pasto, os veados têm-se aproximado da população e das culturas à procura de alimento.
Uma vez que se trata de uma espécie protegida, não pode ser abatida. A aldeia Cova de Lua fica em pleno Parque Natural de Montesinho, cuja gestão é do ICNF. Para ser feita qualquer correção de densidade populacional do veado, as entidades gestoras das zonas de caça devem fazer um pedido ao instituto.
Face ao cenário dos últimos tempos e para “acautelar” que acontecessem prejuízos como no ano anterior, a Junta de Freguesia de Espinhosela, responsável pela zona de caça de Cova de Lua, submeteu um pedido, a 7 de agosto, para o abate de dois veados. A resposta demorou mais de um mês.
De acordo com o presidente da junta, Octávio Reis, só hoje foi dado o aval, depois de os agricultores se terem queixado dos estragos.
“Já vem tarde, o prejuízo está feito e agora os produtores querem ser ressarcidos”, afirmou, referindo que, ainda assim, foi autorizado apenas o abate de um animal, o que “não é suficiente”
Para o autarca, terão que ser tomadas outras medidas sem ser a correção de densidade para afugentar os veados das localidades, “porque não são só prejuízos nos castanheiros, mas também na fruta, nas batatas”.
O presidente da junta pede medidas “sérias”, como a autorização do uso de “cercas elétricas”, porque os veados “cada vez dão mais prejuízo”. Quer também que seja dada “mais autonomia” às zonas de caça, para poderem fazer o abate do animal, visto que as solicitações requerem “uma burocracia tremenda” e a resposta demora semanas. Queixa-se da posição do ICNF que, na sua opinião, “mais quer os veados do que os castanheiros”.

No ano passado, a Comunidade de Baldios de Cova de Lua já tinha pedido ao ICNF que fossem tomadas medidas para impedir que este tipo de situações acontecesse. O responsável, David Garcia Fernandes, explicou que não há um “controlo eficiente” da espécie.
“Não cabe na cabeça de ninguém a autorização apenas de um veado para controlo de densidade populacional, tem de haver um planeamento diferente do ICNF”, afirmou, explicando que um grupo de veados pode ter entre “10 a 12” animais.
Contudo, devido à dificuldade de a comunidade se fazer ouvir junto do ICNF, David Garcia Fernandes, como presidente, admite contactar o Governo, para que seja definido um “plano de ação para esta zona”, pedindo ainda ao ministro da Agricultura e à ministra do Ambiente que visitem Cova de Lua para “verem com os próprios olhos os estragos”.

Para o também produtor de castanha, que no ano passado teve estragos avaliados em dois mil euros, uma das soluções passa por “aplicação de vedação conforme os proprietários querem e não consoante aquilo que o ICNF deixa”. “As vedações que o ICNF deixa colocar não têm efeito prático, aquilo e nada é a mesma coisa”, criticou.
O presidente da Comunidade de Baldios de Cova de Lua teme que com o aumento dos prejuízos e com a falta de apoio, as pessoas acabem por desistir das plantações. “Qualquer pessoa com dois dedos de testa, ao não tirar rendimentos dos investimentos que faz, para de os fazer”, reclamou.
Se, por um lado, o ICNF determina se pode ou não ser feito o abate de veados e em que altura do ano, no que toca aos estragos e a apoiar os agricultores afetados, a responsabilidade já é das entidades gestoras das zonas de caça.
No entanto, a Junta de Freguesia de Espinhosela adiantou não ter capacidades financeiras para ressarcir os produtores.
A Lusa contactou o ICNF e está a aguardar resposta.
Fonte: Lusa | Fotos: Flickr