Miranda do Douro: Apresentação das “Constituições sinodais do Bispado de Miranda de 1565”
As “Constituições Synodaes do Bispado de Miranda”, um “livro raro” datado de 1565, foi reeditado e apresentado na concatedral, em Miranda do Douro, no dia 5 de junho, numa cerimónia que contou com a participação de várias personalidades, entre as quais os autores do estudo, a presidente do município, Helena Barril e o arcebispo primaz de Braga, Dom José Cordeiro.
Na abertura da cerimónia, a presidente do município de Miranda do Douro, Helena Barril, deu a conhecer uma das obras originais das “Constituições Synodaes do Bispado de Miranda”. O exemplar, com 469 anos, foi recentemente adquirido pela autarquia e depois de restaurado vai ser colocado numa vitrina, na concatedral de Miranda do Douro.
Por sua vez, a Frauga- Associação para o Desenvolvimento Integrado de Picote, promotora da reedição desta obra, através do presidente, Jorge Lourenço, agradeceu a participação das várias personalidades e do público na cerimónia. O presidente da Frauga destacou, em particular, o trabalho desenvolvido pelos autores do estudo, que decorreu ao longo de quase quatro anos.
Na apresentação das “Constituições Synodaes do Bispado de Miranda”, o professor e historiador, Luís Amaral, explicou que o livro contém um conjunto de normas que naquela época tinham um impacto extenso na vida quotidiana, com implicações não só religiosas mas também políticas e civis.
“A reconstituição desta obra é um feito de salvaguarda do património nacional e não apenas local. No século XVI, as Constituições Sinodais do Bispado de Miranda foram uma resposta aos problemas decorrentes das profundas transformações sociais que se viviam na Europa”, justificou.
De regresso a Miranda do Douro, Dom José Cordeiro, agora como arcebispo primaz de Braga, para participar na apresentação desta obra, salientou a importância de dar atenção às “raízes”.
“Olhar para o passado ajuda-nos a ver o futuro com renovada esperança”, disse.
Um dos autores da reconstituição das “Constituições Synodaes do Bispado de Miranda”, o diretor do Instituto de Filosofia da Universidade do Porto (UP), José Francisco Meirinhos, indicou que este livro foi publicado em 1565, sendo provavelmente o primeiro livro dedicado à cultura religiosa na Terra de Miranda.
Como se lê no prefácio, estas ‘constituições’ constituem não só “um documento de extraordinária importância para a história da Igreja em Portugal”, mas também “para se compreender a posição cultural e política de Miranda em meados do século XVI como centro administrativo e eclesiástico de um novo bispado, que ocupava uma importante posição militar sobre a linha defensiva e de fronteira com Espanha”.
Segundo o investigador, a obra reflete ainda “as posições da Igreja de Roma aprovadas no longo concílio de Trento”, que se estendera de 1545 a 1563, apenas dois anos antes da publicação original.
No entendimento da professora de Literatura da FLUP, Maria de Lurdes Correia Fernandes, o uso intensivo, a falta de páginas e as muitas anotações escritas revelam que o interesse que esta obra despertou ao longo do tempo.
O livro estabelece a organização da antiga diocese de Miranda, como a hierarquia eclesiástica, as funções de cada membro da igreja e sobretudo, qual a atividade de culto legítimo, que era prescrita aos habitantes da cada localidade da Terra de Miranda.
No encerramento da apresentação das “Constituições Synodaes do Bispado de Miranda”, o atual bispo de Bragança-Miranda, Dom Nuno Almeida, felicitou a iniciativa conjunta da Frauga, do Instituto de Filosofia da Universidade do Porto (UP) e do Município de Miranda do Douro.
“Com a reedição desta obra é agora possível conhecer a história religiosa, cultural, social, política e militar do então bispado de Miranda, em meados do século XVI”, destacou.
As “Constituições Synodaes do Bispado de Miranda” foram estabelecidas por Julião de Alva, terceiro bispo da então diocese de Miranda, 20 anos após a sua criação, que recorde-se aconteceu em 1545.
HA e Lusa