Malhadas: Regime extensivo reduz número de bovinos mirandeses em concurso
Esta terça-feira, dia 24 de junho, o Mercado de Gado, em Malhadas, foi o recinto do Concurso Concelhio de Bovinos de Raça Mirandesa, um evento que tem vindo a perder animais, por causa do atual pastoreio em regime extensivo, o que segundo o autarca de Malhadas, Camilo Raposo, exige uma reconfiguração do concurso.

Este ano, participaram no Concurso Concelhio de Bovinos de Raça Mirandesa 33 animais, pertencentes a sete criadores das localidades de Malhadas (3), São Pedro da Silva (2), Fonte Ladrão (1) e Palancar (1).
O presidente da Freguesia de Malhadas, Camilo Raposo, justificou esta diminuição do número de animais a concurso, com o envelhecimento de alguns criadores e a progressiva mudança para o pastoreio em regime extensivo.
“Os 33 animais em concurso não representam a totalidade do número de efetivos no concelho de Miranda do Douro. A principal razão para a ausência de outros animais é a criação em grandes áreas, o que os torna menos dóceis ao maneio e por isso é muito difícil e perigoso trazê-los para o recinto do concurso. Daí que seja necessário repensar o modo de funcionamento do concurso e adapta-lo à nova realidade do regime extensivo. Uma solução é criar pequenos recintos para colocar os animais e fazer aí a avaliação do concurso”, explicou.
Ainda assim, o autarca de Malhadas felicitou o município de Miranda do Douro pela organização do concurso e indicou que no concelho há jovens agricultores que têm trabalhado para instalar novas explorações pecuárias.
“Os bovinos de raça mirandesa são importantíssimos para esta região, para além da marca identitária, são um recurso económico valioso que importa valorizar. Por isso mesmo, felicito todos os criadores e em particular os jovens, que decidem dedicar-se à agricultura e pecuária no nosso território”, disse.
Para apoiar os criadores dos bovinos de raça mirandesa, o vice-presidente do município de Miranda do Douro, Nuno Rodrigues, indicou que a autarquia apoia a 100% da sanidade animal, a desparasitação, algumas vacinas e atribui 5 mil euros de prémios no concurso concelhio.
“O Concurso Concelhio de Bovinos de Raça Mirandesa visa premiar o trabalho dos agricultores/criadores desta raça autóctone do planalto mirandês. No total, a organização deste evento anual ronda os 15 mil euros”, indicou o autarca.

Sobre o atual momento da raça, João Choupina, presidente da Associação de Criadores de Bovinos de Raça Mirandesa (ACBRM), indicou que apesar dos problemas inerentes à atividade pecuária, os criadores têm conseguido manter o efetivo de animais no solar da raça, que compreende os concelhos de Bragança, Macedo de Cavaleiros, Miranda do Douro, Mogadouro, Vimioso e Vinhais.
“Este setor enfrenta problemas como a idade avançada de alguns criadores, o fecho de algumas explorações, o surto de doenças como hemorrágica epizoótica e o aumento dos custos de produção. Ainda assim, a ACBRM e a cooperativa agropecuária Mirandesa têm trabalhado em conjunto para melhorar a criação dos animais e a qualidade da carne mirandesa”, disse.
João Choupina é também criador de bovinos de raça mirandesa, na aldeia de Talhas, no concelho de Macedo de Cavaleiros, onde tem uma exploração de 60 animais. Questionado sobre a importância dos concursos da raça de bovinos mirandeses, o criador macedense respondeu que são momentos de convívio com outros criadores e oportunidades de mostrar os seus melhores animais.

Celso Martins, de São Pedro da Silva, foi um dos criadores participantes no Concurso Concelhio de Bovinos de Raça Mirandesa. Em 2020, o jovem criador iniciou-se na pecuária, tendo atualmente 35 animais.
“Para nós criadores desta raça de bovinos é prestigiante participar no Concurso Concelhio de Bovinos de Raça Mirandesa. A par disso, é sempre agradável reencontrar amigos criadores de outras localidades”, justificou.
Também de São Pedro da Silva, o agricultor, Hirundino Fernandes, tem uma exploração pecuária extensiva de 70 bovinos de raça mirandesa. O criador mirandês indica que a atividade pecuária implica custos significativos como a mão-de-obra, máquinas e equipamentos, gasóleo, adubos para as sementeiras, forragens e rações.
“Nesta altura do ano, entre o início de maio e o final de junho, é a época de maior trabalho com as ceifas, os enfardamentos e a recolha das forragens”, informou.
Segundo este criador, atualmente a cooperativa agropecuária Mirandesa paga a 7,30 euros/quilo de carne, o que na opinião, de Hirundino Fernandes, é um preço “aceitável”, dado que depende da oferta e da procura no mercado.
“Há fases do ano, como o verão, em que há maior procura de carne pelo que gostaríamos de ter mais produto da marca mirandesa para vender. Mas para isso, há que criar mais animais o que nem sempre é fácil”, disse.
Para aumentar a criação de bovinos de raça mirandesa, os agricultores exigem, concomitantemente, um aumento dos apoios provenientes da Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC) que sofreram uma redução para 160€/anuais, por animal.







































HA