Malhadas: “O concurso de bovinos mirandeses precisa de uma reinvenção para que mais criadores possam participar” – Camilo Raposo

Como manda a tradição, no dia 24 de junho, o Mercado de Gado, em Malhadas, foi o recinto do Concurso Concelhio de Bovinos de Raça Mirandesa, um certame que reuniu criadores do concelho de Miranda do Douro e premiou aqueles que mais se destacaram na seleção, trato e maneio dos seus animais.

Os criadores com um número reduzido de animais têm mais facilidade na domesticação.

Segundo os dados do município de Miranda do Douro, no concurso concelhio deste ano participaram 46 animais – divididos pelas oito seções de touros, novilhos, vacas e novilhas – pertencentes a criadores das localidades de Malhadas, São Pedro da Silva e do Palancar.

Para a presidente do município de Miranda do Douro, Helena Barril, este certame anual é um modo de homenagear os criadores, que “com sua resiliência continuam a preservar esta raça autóctone, um dos símbolos identitários da nossa região”.

“Os bovinos de raça mirandesa são uma das raças que mais caraterizam e distinguem este território. Aos autarcas compete estabelecer uma relação próxima com os criadores, com a associação e a cooperativa, para em conjunto trabalharmos não só na preservação, mas também na crescente promoção e valorização destes animais”, disse.

Numa análise à evolução do concurso, o presidente da freguesia de Malhadas, Camilo Raposo, alertou para a redução do número de animais ao longo dos anos. Segundo o autarca, esta menor participação dos criadores com os seus animais deve-se à atual predominância das grandes explorações pecuárias.

“Nas grandes propriedades, os bovinos não têm um contato tão próximo com os criadores como acontece no maneio doméstico. Por essa razão, os criadores das grandes manadas não têm a mesma facilidade em trazer alguns dos seus animais para o concurso, onde se deparam com um ambiente mais agitado e bem diferente do campo, o que por vezes tornam estes animais perigosos para o público”, explicou.

Camilo Raposo lembrou que os criadores que continuam a participar no Concurso Concelhio de Bovinos de Raça Mirandesa, são aqueles que têm um número reduzido de animais, o que permite domesticá-los.

Sobre o futuro do concurso, Camilo Raposo indicou a necessidade da reinvenção do certame, na procura de uma solução que possibilite que todos criadores, de pequenas ou grandes explorações possam participar.

“É preciso pensar numa nova modalidade do concurso. Talvez seja necessário que os animais, possam ficar soltos individualmente num determinado espaço. Sublinho que para os criadores receber um prémio pelo maneio dos seus animais é motivo de grande orgulho”, salientou.

Um destes criadores, Elias Gonçalves, de Malhadas, foi um dos premiados no concurso concelhio deste ano. Dada a longa tradição familiar de criar estes animais, o concurso é um momento muito aguardado.

“Sou reformado e decidi continuar a tradição familiar de criar os bovinos de raça mirandesa. Atualmente, tenho oito animais, o que me permite realizar um maneio diário e domesticá-los. Na minha perspectiva, o concurso é a maior alegria que podem dar aos criadores de bovinos de raça mirandesa”, explicou.

O criador acrescentou que o Concurso Concelhio de Bovinos de Raça Mirandesa é também uma oportunidade de encontro com outros criadores e sublinhou a importância de avaliar o tratamento que cada criador dá aos seus animais.

No concurso dos bovinos de raça mirandesa, os critérios de avaliação dos animais são a constituição física e a pelagem.

A cerimónia de entrega de prémios aos criadores de bovinos de raça mirandesa.

De acordo com o engenheiro agrícola, Preto, o padrão dos bovinos mirandeses caracteriza-se pela cabeça pequena, um dorso direito, membros posteriores avolumados e uma pelagem castanha acinzentada no pescoço e membros anteriores.

“Verifica-se uma ligeira alteração na morfologia destes animais, com a passagem para a mecanização da agricultura. Antigamente, devido ao esforço físico de tração que realizavam, os animais eram ligeiramente mais robustos”, indicou.

Por sua vez, o médico veterinário do município de Miranda do Douro, Afonso Pimentel, descreveu os bovinos que participaram no concurso concelhio como “animais de grande beleza”.

“Os touros mirandeses que participam nas tradicionais chegas, distinguem-se pela imponente morfologia e com uma grande capacidade de resistência”, destacou.

Sobre a importância do concurso, Afonso Pimentel, disse que se antigamente este certame ajudou a selecionar os melhores animais e a promover a raça.

“Hoje em dia é sobretudo um oportunidade para os criadores mostrarem os seus melhores bovinos mirandeses”, disse.

A cerimónia de entrega dos prémios contou com a participação do executivo municipal de Miranda do Douro, de representantes dos outros concelhos, dos presidentes das freguesias do concelho de Miranda do Douro, dos presidentes e secretários técnicos das associações das raças autóctones e dos médicos veterinários que trabalham no solar dos bovinos de raça mirandesa.

Após o almoço, cuja ementa foi vitela estufada e vitela assada na brasa, o Concurso Concelhio de Bovinos de Raça Mirandesa prosseguiu durante a tarde com a realização de seis Chegas de Touros.

O Concurso Nacional de Bovinos de Raça Mirandesa que reúne criadores e animais de todos os concelhos do solar da raça, vai realizar-se nos dias 30, 31 de agosto e 1 de setembro, em Vimioso. 
As chegas de touros mirandeses são uma demonstração da força e resistência desta raça autóctone do planalto mirandês.

HA

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