Genísio: Mais um ataque de lobos mata 10 ovelhas e fere 12 com gravidade

Na noite de 12 para 13 de setembro, um feroz ataque de lobos, na aldeia de Genísio, no concelho de Miranda do Douro, causou a morte de 10 ovelhas e o ferimento de outras 12, confirmando assim o receio e a indignação dos criadores pecuários que se queixam de sucessivos ataques no planalto mirandês.

O criador de ovinos, Alcino Antão, proprietário de um rebanho com 54 ovelhas, estava consternado com a morte de 10 ovelhas e o ferimento de outras 12, que segundo o parecer da médica veterinária, têm poucas possibilidades de sobreviver.

“Já sou criador de ovinos há cerca de 15 anos e nunca me tinha ocorrido um incidentes destes. Pelos ferimentos nas ovelhas há fortes indícios de ataques de lobos. Durante a noite o rebanho estava numa propriedade a 100 metros de casa, ouvi ladrar os cães, saí à rua, mas não me aproximei porque por vezes os cães ladram durante a noite. De manhã, voltei a ouvir os cães ladrar e vi corvos na propriedade e foi quando me deparei com este cenário desolador: dez ovelhas já estavam mortas e outras tantas tinham ferimentos no pescoço e nas patas traseiras”, descreveu.

Perante o sucedido, Alcino Antão, contatou de imediato o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), que enviou dois técnicos até Genísio para registar a ocorrência, fotografar os animais mortos e feridos e anotar o número da exploração agropecuária.

“Os próprios técnicos do ICNF confirmaram que se tratou de um ataque de lobos. Nestas noites mais quentes de verão, optei por deixar o rebanho de ovelhas ao ar livre e próximo de casa. Mas os predadores não se intimidaram com a luz pública e saltaram facilmente a cerca de rede, com 1,20 metro de altura”, disse.

Para ser indemizado pela perda dos animais, o criador de ovinos tem agora de comunicar o prejuízo na plataforma digital do Instituto de Financiamento de Agricultura e Pescas (IFAP).

“O valor da indemnização nunca vai corresponder ao trabalho que de criar estes animais. Das dez ovelhas já mortas, oito delas estavam prenhas de pelo menos dois a três cordeiros cada uma. Para agravar a situação, com a redução do número de animais da minha exploração vou ser penalizado nos apoios anuais do IFAP”, lamentou.

Doravante, para prevenir outros ataques de lobos o criador de ovinos de Genísio, vê-se obrigado a guardar os seus animais sempre dentro do estábulo e a redobrar a vigilância no pastoreio diurno das ovelhas nos lameiros.

“Perante este grave acontecimento e com a idade avançada, mais dia menos dia, vou ter que acabar com a atividade agropecuária”, lamentou.

Por sua vez, o irmão, Belmiro Antão, é criador de burros de Miranda e também se mostrou muito preocupado com o aparecimento de lobos no planalto mirandês.

“Nesta região, os poucos criadores de animais, sejam ovinos, bovinos e asininos, são pessoas de idade. Com o aparecimento destes animais predadores como o lobo isto vai levar ao abandono da atividade pecuária”, disse.

Questionada sobre os sucessivos e mortíferos ataques às explorações de ovinos no planalto mirandês, a secretária técnica da Associação de Criadores de Ovinos Mirandeses (ACOM), engenheira, Andrea Cortinhas, descreveu a situação como dramática.

“Infelizmente, estão a ocorrer sucessivos ataques de lobos aos rebanhos de ovelhas nesta região do planalto mirandês. Os avultados prejuízos com a morte dos animais, estão a pôr em risco a já débil atividade pecuária. Recordo que, esta atividade fisicamente desgastante, é feita maioritariamente por pessoas idosas”, disse.

Andrea Cortinhas, acrescentou que com a morte e redução do número de animais, os prejuízos económicos são avultados e causam uma perda enorme na raça, que demora anos a repor.

“Com os ataques de lobos aos rebanhos, as ovelhas feridas acabam por morrer e mesmo aquelas que sobrevivem, com o stress acabam por abortar. Daí que o prejuízo não é apenas o imediato, tem impacto a médio e longo prazo na reposição do número de animais da raça autóctone”, indicou.

No concelho de Miranda do Douro, os ataques de lobos a explorações pecuários estão a ocorrer com frequência. Recentemente, em Malhadas e depois a 4 de setembro, numa exploração agropecuária na aldeia de Fonte Ladrão, outro ataque de lobos causou a morte de 12 ovelhas.

PREJUÍZOS ATRIBUÍDOS AO LOBO

Os prejuízos sobre efetivos pecuários atribuídos ao lobo são indemnizados pelo Estado Português desde a entrada em vigor da Lei n.º 90/88, de 13 de agosto - Lei de Proteção ao Lobo-ibérico.

Nesta revisão das normas aplicáveis alterou-se a abordagem que se faz ao direito à indemnização. Este modelo pretende potenciar a corresponsabilização dos proprietários de gado pela proteção do mesmo, sem pôr em causa a obrigação do Estado, de indemnizar, como compensação do risco que aqueles proprietários correm pela atividade que exercem, em áreas de presença de lobo. Institui-se um mecanismo de pagamento de indemnização que supõe o pagamento de um número limitado de prejuízos em cada ano civil, bem como uma redução do valor a pagar relativamente ao dano efetivo, à medida que aumenta o número de ocorrências.

É fixada a lista de animais passíveis de indemnização e clarificados os conceitos relativos aos requisitos de proteção a observar para que possa ser reconhecido o direito à indemnização, a título de exemplo a tipologia do cão de proteção de gado.

Outra alteração significativa prende-se com a transferência do pagamento das indemnizações do ICNF, para o Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas, de forma a aumentar a eficácia administrativa, proporcionado ainda uma maior acessibilidade no acompanhamento do processo por parte dos interessados.

Espera-se com este conjunto de medidas potenciar a coexistência da atividade pecuária com a presença de lobo.

De forma a melhor esclarecer sobre a implementação destas medidas, é disponibilizado um folheto informativo destinado aos criadores de gado em área de lobo.

Fonte: ICNF

HA | Fotos e vídeo: Patrícia Antão



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