Floresta: Pinheiro-bravo resiste à doença do nemátodo

Em Portugal, a espécie do pinheiro bravo conseguiu sobreviver em algumas regiões do país, apesar da doença do nemátodo, que desde 1999, tem vindo a dizimar extensas áreas de pinhal.

A conjugação de vários fatores, humanos e naturais, permitiu a sobrevivência de importantes manchas de pinheiro-bravo (‘Pinus pinaster’), com destaque para a região Centro, onde, 25 anos depois, é possível apreciar alguns pinhais de boa saúde.

“Acreditei desde logo que haveria uma reação natural da espécie”, disse o engenheiro florestal José Pais, que trabalhava no concelho da Castanheira de Pera, distrito de Leiria, quando o nemátodo foi detetado em povoamentos de ‘Pinus pinaster’ da Serra da Lousã, em 2008.

Na altura, já se notava que outras resinosas, como o pinheiro-de-casquinha (‘Pinus sylvestris’) e o pinheiro-manso (‘Pinus pinea’) “não eram afetados” pela doença.

“Detetámos alguns núcleos na Castanheira”, recordou, para explicar que o problema incidia sobretudo nos povoamentos de pinheiro-bravo mais antigos, de monocultura ou devastados parcialmente por incêndios.

A doença do Nemátodo da Madeira do Pinheiro (Bursaphelenchus xylophilus) apresenta como sintomas: agulhas amareladas e murchas, começando pelas mais jovens, que ficam na árvore por longos períodos de tempo. Árvores com a copa total ou parcialmente morta. A extração de resina diminui e os ramos secos são mais quebradiços que o habitual. Murchidão generalizada e súbita. O Nemátodo do pinheiro não é visível a olho nu, apenas podendo ser diagnosticado em laboratório. 

O nemátodo ataca o sistema de circulação da árvore, enfraquecendo-a e tornando-a mais susceptível ao ataque de outras pragas.

O contágio ocorre através de um inseto vetor (em Portugal o longicórnio do pinheiro – Monochamus galloprovincialis, que transporta os nemátodos nas traqueias). A dispersão da doença está limitada à altura, e capacidade de voo dos insetos (entre abril e outubro).

Ataca a generalidade das espécies de pinheiro e outras coníferas, à exceção do género Thuia. Algumas espécies de pinheiro, como o pinheiro-bravo, pinheiro-larício e pinheiro-silvestre são muito suscetíveis.

O adulto do inseto vetor alimenta-se nos raminhos e rebentos de árvores adultas, arrastando consigo estados juvenis do nemátodo, que penetram por estas feridas. O nemátodo coloniza rapidamente os vasos do xilema, bloqueando o seu funcionamento, o que provoca a morte da árvore. Nas árvores mortas o nemátodo alimenta-se dos fungos que provocam o azulamento da madeira (do género Ceratocystis). As árvores debilitadas ou recentemente mortas atraem as fêmeas do inseto vetor, que aí fazem a postura, podendo transmitir igualmente nemátodos. As larvas desenvolvem-se e transformam-se em adultos, os quais são colonizados por nemátodos antes destes abandonarem as árvores atacadas na, primavera seguinte.

Como medidas preventivas recomenda-se utilizar espécies mais resistentes ou não utilizar pinheiros em novas florestações na área onde o nemátodo se encontra.

Aos incêndios e perda de biodiversidade, juntaram-se as alterações climáticas, que “estão a afetar muito” os ecossistemas e equilíbrios ambientais, lamentou o engenheiro florestal.

Nas serranias flageladas por fogos, nemátodo e demais pragas, “devia-se apostar cada vez mais em áreas agrícolas, como o olival, sem ser extensivo e sempre em mosaico”, defendeu, para recomendar ainda a aposta no sobreiral, “nas resinosas de folha miúda e numa silvopastorícia associada aos bosques”.

Também no concelho da Lousã, distrito de Coimbra, “houve uma grande mancha de pinheiro-bravo que acabou por secar” nos baldios da Boavista e do Braçal.

“Uma área de 30% do nosso pinhal foi bastante afetada”, o que abriu caminho à propagação de acácias e outras espécies invasoras, “prejudicial à paisagem e ao ecossistema”, revelou o presidente do conselho diretivo dos Baldios de Serpins, Jorge Baeta.

Nos 1.200 hectares de baldios da freguesia, “os prejuízos são dificilmente contabilizáveis, mas o preço da madeira atacada pela decresceu imenso”, acentuou.

Nas zonas contaminadas que “não tiveram posterior intervenção, surgiram essencialmente invasoras”.

“No Braçal, muito atacado, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) fez uma reflorestação com pinheiro-manso e sobreiro. Foi um trabalho relativamente bem feito, mas insuficiente”, segundo Jorge Baeta.

Entretanto, sublinhou, “o pico do nemátodo está de certa forma dissipado”, não significando isso “que a praga já não exista”.

“O nemátodo matou muitas árvores e houve aqui algum corte raso que se calhar não se justificava”, lamentou, por sua vez, António José Ferreira, um comparte muito ativo na defesa dos Baldios de Serpins.

O da Boavista está “ainda bastante arborizado com pinheiro-bravo, houve muitas árvores que sobreviveram e mostram saúde”, declarou.

Nos Baldios de Vila Nova, uma área superior a 600 hectares, no concelho de Miranda do Corvo, “toda a situação está controlada” ao nível de pragas como o nemátodo e o escolitídeo, afirmou à Lusa a técnica Susana Cortez.

Em 2013, por decisão da nova direção, foram efetuados cortes sanitários e alguns desbastes, além da colocação de armadilhas no verão para controlar o inseto vetor.

Após os trágicos incêndios de 2017, que não chegaram a entrar nas áreas comunitárias de Vila Nova, a zona foi “atacada pelo escolitídeo, que leva também à morte do pinheiro, e foi necessário fazer outra intervenção muito grande”, disse.

A engenheira florestal admitiu que se trata de “uma luta quase inglória” contra “pragas que facilmente se disseminam”.

No caso do nemátodo, chegou à Serra da Lousã em 2008. “A partir daí, foi o caos, com o valor da madeira a cair a pique”, concluiu.

Fonte: Lusa

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