Entrevista: “Todos temos o dever de contribuir para o desenvolvimento do concelho de Vimioso” – António Oliveira (PS)

Natural de Argozelo, o engenheiro António Oliveira regressa à política do concelho de Vimioso, como candidato do partido socialista (PS) à presidência da Câmara Municipal, nas eleições autárquicas de 12 de outubro, tendo definido como prioridades o repovoamento, o investimento público e as acessibilidades.

Terra de Miranda – Notícias: Quem é António Oliveira? Qual é o seu percurso de vida, pessoal e profissional?

António Oliveira: Sou natural de Argozelo, casado e pai de duas filhas, que já estão no ensino superior, nos cursos de medicina. Tenho 54 anos, sou engenheiro civil, com licenciatura no Instituto Superior Técnico em Lisboa e mestrado e doutoramento na Universidade do Minho. Iniciei a minha carreira profisssional nas Infraestuturas de Portugal (IP). No âmbito político, durante seis anos fui vereador na Câmara Municipal de Vimioso.

T.M.N: É o candidato do Partido Socialista (PS) nas eleições autárquicas de 12 de outubro. Porque razão decidiu regressar à política, como candidato à presidência da Câmara Municipal de Vimioso?

A.O.: Decidi candidatar-me à presidência do município de Vimioso, porque acredito que não devemos conformar-nos com a atual situação do concelho. Todos temos o dever de contribuir para o desenvolvimento do concelho de Vimioso. Na minha perspectiva, nos últimos quatro anos houve negligência, inoperância e lentidão por parte do executivo municipal.

T.M.N.: Na sua análise quais são os principais problemas do concelho de Vimioso?

A.O.: O concelho de Vimioso está a perder população e não há investimento público local. Veja-se o atual estado na avenida de Alcanices que a meu ver necessita de uma requalificação, a fachada do pavilhão multiusos e a fraca qualidade da água que chega à casa de algumas casas. Nas aldeias, ainda bem que se realizam as feiras de produtos locais, mas estes eventos merecem outras condições, com a construção de pavilhões multiusos.

“O concelho de Vimioso está a perder população e não há investimento público local.”

T.M.N.: Para desenvolver o concelho de Vimioso, quais são as suas prioridades? O que é mais importante fazer no concelho?

A.O.: Perante o problema do despovoamento e para incentivar a fixação de pessoas, uma das medidas é abdicar da taxa de participação variável do IRS. Desde 2008, cada município decide, anualmente, se fica ou não com uma percentagem da receita de IRS cobrada pelo Estado relativamente a cada munícipe. Esta taxa pode ir de 0% a 5%. Ao abdicar desta taxa, estamos a devolver dinheiro aos municípes e esta receita para o município não teria grande impacto, pois são cerca de 70 mil euros, num orçamento anual do município de Vimioso que são 13 milhões e 400 mil euros. Na minha perspetiva, a isenção desta taxa de IRS é uma boa medida para atrair novos habitantes para o concelho de Vimioso.

“Perante o problema do despovoamento e para incentivar a fixação de pessoas, uma das medidas é abdicar da taxa de participação variável do IRS.”

T.M.N.: No ensino, a não existência do secundário no Agrupamento de Escolas de Vimioso (AEV) é um dos motivos do êxodo da população. O que pretende fazer neste âmbito?

A.O.: Atualmente, tenho consciência que é muito difícil proporcionar o ensino secundário no Agrupamento de Escolas de Vimioso. No entanto, acredito que com o desenvolvimento económico, a fixação de mais famílias e por conseguinte um maior número de crianças e jovens no agrupamento de escolas, pode ser possível abrir o secundário.

T.M.N.: Para inverter o despovoamento, que outras medidas pretende implementar?

A.O.: Outra medida importante seria alargar as áreas de reabilitação urbana a todas as freguesias do concelho e não só a algumas como acontece atualmente. Esta medida é importante, porque quando alguém pretende construir uma casa numa freguesia que está inserida numa área de reabilitação urbana, o IVA é de 6%, mas se estiver fora dessa área o imposto é de 23%. Para além do custo mais reduzido na construção, esta medida serve também de incentivo para a recuperação de muitas casas que estão ao abandono nas nossas vilas e aldeias. Esta medida destina-se por exemplo aos médicos e aos professores que lecionam em Vimioso. Em vez das viagens diárias para Bragança, há que criar condições para a fixação destes profissionais.

“Para além do custo mais reduzido na construção, o alargamento das áreas de reabilitação urbana serve também de incentivo para a recuperação de muitas casas que estão ao abandono nas nossas vilas e aldeias.”

T.M.N.: Qual é a realidade das aldeias do concelho de Vimioso?

A.O.: Há aldeias muito despovoadas e a população é maioritariamente idosa. Uma das medidas que gostaria de implementar é a criação de uma rede de transporte concelhia, para que uma ou duas vezes por semana, as pessoas das aldeias pudessem vir à sede de concelho, a Vimioso, tratar dos seus assuntos, como ir ao centro de saúde, à farmácia, às finanças, ao supermercado, etc..

T.M.N.: Já indicou medidas para o repovoamento, o investimento público, que outras prioridades define para o concelho de Vimioso?

A.O.: As acessibilidades. Refiro-me à construção da ligação Vimioso – Carção, que é sem dúvida uma acessibilidade estruturante para o concelho de Vimioso. Mas falta continuar a lutar por uma ligação digna à A4, por exemplo, com a retificação do troço de Argozelo até Outeiro. Contudo, este projeto não é autárquico é da responsabilidade do governo, pelo que compete à Câmara Municipal fazer chegar esta reivindicação ao Estado e às Infraestruturas de Portugal (IP). Outra acessibilidade importante é uma melhor ligação a Espanha, cuja estrada está há cerca de um ano interdita a veículos pesados, por causa de uma possível falha numa passagem hidráulica. A demora em reparar esta estrada municipal e o fecho ao trânsito de veículos pesados é inadmissível.

“A demora em reparar a estrada até Espanha, que está há cerca de um ano interdita a veículos pesados, por causa de uma possível falha numa passagem hidráulica é inadmissível.”

T.M.N.: Numa análise à sua equipa, há muitas pessoas que participam pela primeira vez como candidatos aos vários órgãos autárquicos. Este facto, por um lado revela coragem das pessoas e é salutar para a democracia, mas por outro denota tambêm inexperiência política. Qual é a valia dos seus candidatos?

A.O.: Quanto à inexperiência política vejo isso como uma mais-valia, pois esse saber adquire-se e não há ninguém que nasça com experiência política. Sobre a escolha da minha equipa, realço que há pessoas com experiência profissional na educação, é o caso do candidato Francisco Marques, que foi diretor de escolas de um dos maiores agrupamentos do país. A Sandra Pires, natural de Pinelo, tem larga experiência na área financeira. E há pessoas com um profundo conhecimento da realidade do concelho. O mais importante é reunir pessoas com vontade de trabalhar em prol do concelho de Vimioso, sem interesses e sem vícios. Um dos problemas do concelho de Vimioso é que são sempre as mesmas pessoas a fazer as mesmas coisas, não há inovação e portanto não há desenvolvimento.

“Reuni pessoas com vontade de trabalhar em prol do concelho de Vimioso, sem interesses e sem vícios.”

T.M.N.: Conseguiu renuir candidatos para todas as assembleias de freguesia no concelho de Vimioso?

A.O.: Sim, felizmente consegui reunir um conjunto de pessoas com competência em diferentes áreas profissionais. Destaco por exemplo, o candidato à freguesia de Argozelo, Francisco Lopes, com experiência em gestão e larga experiência política. Na freguesia de Angueira, o candidato é um anterior autarca, o Emílio. De um modo geral, encontrei pessoas que têm vontade de trabalhar pela sua freguesia e trazer novas ideias.

T.M.N.: Uma das críticas mais recorrentes que a população vimiosense faz aos candidatos e eleitos à Câmara Municipal de Vimioso é a não residência no concelho, mas sim na cidade de Bragança. Planeia residir no concelho de Vimioso?

A.O.: Essa crítica faz todo o sentido. Até aqui a minha vida profissional não me permitiu residir permanentemente no concelho, mas neste período de campanha eleitoral estou a morar na vila de Argozelo. E se for eleito, como eu espero, é em Argozelo que vou residir.

HA



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