Ecologia: Encíclica Laudato si’ educa as novas gerações
O padre franciscano João Lourenço considera que o Cântico das Criaturas, criado por São Francisco de Assis e a encíclica Laudato si’, escrita pelo Papa Francisco, deveriam integrar a formação dos jovens.

“Este documento [carta encíclica Laudato si’] poderia constituir, em muitas partes do seu conteúdo, elementos fundamentais para a educação das novas gerações, como o Cântico do Irmão Sol”, afirmou o sacerdote, em entrevista ao programa ECCLESIA, transmitido na RTP2.
Segundo o biblista, tal ajudaria “a criar uma espiritualidade, uma vitalidade interior, um dinamismo novo, que não partisse só de não fazer mal à criação, mas de promover o bem da criação”.
O entrevistado assinala a necessidade de “um contexto verdadeiramente de formação, de base, em que as pessoas têm já princípios adquiridos”, “normativos nos seus comportamentos que ajudam a encarar a natureza com a sua beleza”, com a sua dimensão “transcendental”.
Em 2025, os Franciscanos celebram os 800 anos do Cântico das Criaturas (também conhecido como Cântico do Irmão Sol), uma obra poética que exalta os elementos da natureza como dádiva de Deus.
Para o padre João Lourenço, o poema, que é “o espelho da grandeza e da beleza de Deus refletido nas criaturas que São Francisco vai descobrir”, encontra hoje uma “grande atualidade, principalmente no âmbito e no espaço de uma crise ecológica” que o mundo vive.
Ao longo dos tempos, o Cântico das Criaturas tem sido objeto de muitas versões, o que mostra, de acordo com o padre João Lourenço, “que as pessoas têm a necessidade de amar, de contemplar a natureza a partir dela”.
O sacerdote defende a necessidade de uma “dinâmica teológica” que ajude a ler a natureza, lamentando que o que existe neste momento para esse efeito é “o utilitarismo, a ganância, o comodismo, o lucro, o proveito imediato”.
“Isto são critérios avassaladores, destruidores da própria natureza”, salientou.
Questionado sobre que justificação encontra para o alcance do Cântico das Criaturas, o padre João Lourenço responde com a “beleza do texto” e as dimensões “que confere à criação”, nomeando duas delas.
“Uma é a magnificência do Criador, a fonte. É importante que nós na vida tenhamos referências a fontes. Não é apenas a fonte da água, mas é a fonte onde nos inspiramos e que nos inspira na nossa vivência quotidiana. O outro é a dimensão da fraternidade. E aí São Francisco foi genial e foi único”, observa.
O entrevistado destaca o facto de São Francisco de Assis procurar a “fraternidade nos opostos”, entre o céu e a terra, e principalmente algo que até então ninguém tinha cantado: “a fraternidade dos opostos vida e morte”.
Num ano em que o Cântico das Criaturas comemora oito séculos, a encíclica Laudato si’, inspirada nele, celebra 10 anos, sendo este último um documento que, assinala o padre franciscano, “teve ecos na sociedade que já há muito tempo não se viam a partir de documentos eclesiásticos, mesmo pontifícios”.
“Os últimos papas têm publicado muitos textos sobre muitas temáticas, mas muitos deles são quase todos ad intra. São para dentro do organismo da Igreja. Eu diria, são quase umbilicais. Este documento é para fora”, nota.
O padre João Lourenço defende que a encíclica ecológica e social foi um contributo “muito prático” da Igreja à sociedade, uma vez que esta última está a viver momentos “de angústia sobre o sentido da criação”.
“Não é um documento apenas de receitas, é um documento também de constatações. E acima de tudo, o que é muito importante, de interpelações”, realça, acrescentando que se constitui um convite “aos crentes” e “não crentes a sentirem e a harmonizarem o dinamismo que existe na vida deles com aquilo que é a criação que os envolve”.
O sacerdote destaca o facto de o texto, publicado a 24 de maio de 2015, ter tido um “belíssimo acolhimento” particularmente em “organismos internacionais”, como na ONU, ressaltando que trouxe um novo olhar para a Amazónia.
“Se está tudo feito, não está tudo feito, está alguma coisa feita e estão ecos deixados. Mas falta muito, principalmente este esforço novo, que é exatamente de tornar uma formação ativa, não é apenas contemplativa, não é apenas respeitadora do que se encontra, é ativa, é promotora do que encontramos”, sublinhou.
Fonte: Ecclesia