XIV Domingo do Tempo Comum
Deus não se impõe
Ez 2, 2-5 / Slm 122 (123), 1-4 / 2 Cor 12, 7-10 / Mc 6, 1-6
Regressar a casa, depois de um dia longo ou duma viagem, é das melhores sensações que existe. Quanto mais peregrinamos nesta terra, mais valor damos aos rostos, paisagens e cheiros familiares.
Jesus devia estar tão entusiasmado por poder anunciar o Reino na sua Nazaré natal, lugar onde cresceu, onde aprendeu a andar, a falar, a ler, a fazer amigos, a correr, a rir, a chorar. E, como nos relata São Marcos, todos se entusiasmam, num primeiro momento, com as palavras de Jesus. Contudo, rapidamente entra a dúvida. Esta é tão intensa que parece existir um certo desdém na pergunta «não é Ele o carpinteiro?». Por um lado, aqueles que ouviram Jesus na sinagoga da sua terra estavam admirados; por outro, parece ter sido sol de pouca dura, e é o ceticismo que domina.
É tão difícil admirar a santidade daquele que se senta ao nosso lado. Muitas vezes, quando detetamos alguma ação virtuosa, menosprezamos a própria ação do outro, atribuindo intenções menos claras, ou invocamos recordações de outros gestos menos edificantes para desvalorizar a virtude atual.
A nossa fé em Jesus será sempre posta em causa, do nosso lugar de trabalho ao nosso grupo de amigos, e até no seio da nossa família. Irão interrogar-nos quanto à honestidade do nosso coração, inteligência e prudência. Seremos tentados a viver doutra forma ou a sermos discretos para levantar menos ondas. Contudo, quando cedemos a esta pressão, tornamo-nos reféns do olhar do outro e limitamos o impacto do Reino na terra. Não podemos viver assim.
Hoje, ao regressarmos a casa, voltemos com um coração disponível para construir o Reino, livres, como Jesus, da necessidade de aplauso ou aceitação. Pouco importa se reconhecem o nosso valor ou não. O que é fundamental é reconhecer o que nos é pedido por Deus e atuar sempre de forma a anunciar a sua bondade e misericórdia.