Cidadania: MCTM apela pela sobrevivência do interior
O Movimento Cultural da Terra de Miranda (MCTM) apelou aos órgãos de soberania nacional, aos partidos e autarcas do planalto mirandês, para que olhem pela sobrevivência deste território que se encontra “em sobressalto cívico”.

“A última década foi marcada por um agravamento implacável da dinâmica destrutiva. O turismo, outrora uma esperança, entrou em declínio acelerado. Enquanto as dormidas turísticas no resto do país cresceram 14,5% desde 2019”, disse à Lusa o membro do Movimento Cultural da Terra de Miranda (MCTM), Graciano Paulo.
Segundo os membros que integram este movimento, o apelo “é dirigido ao Presidente da República, ao presidente da Assembleia da República, ao primeiro-ministro, aos partidos políticos e aos autarcas da Terra de Miranda”.
Graciano Paulo disse ainda que o Presidente da República que jurou fazer cumprir a Constituição, nunca, durante os seus quase dois mandatos, teve uma palavra de exigência para obrigar o Governo e a Assembleia da República a cumprir o que está na Constituição quanto à coesão territorial.
“Tudo isto acontece sob o olhar frio e indiferente do Estado Central. A Constituição é cristalina: a coesão territorial é um dever prioritário do Estado (artigo 81.º, alínea d) e um direito inalienável dos cidadãos. Mas o Estado centralista, num silêncio cúmplice, falha de forma reiterada, descarada e impune a sua obrigação constitucional”, vincou.
Segundo os membros do MCTM, “a Terra de Miranda está a ser abandonada à morte lenta e os seus habitantes são vítimas diretas deste incumprimento vergonhoso. Estamos perante um crime de omissão política e histórica, uma traição à própria essência”, disse.
Graciano Paulo aponta como exemplos os investimentos faraónicos que o Estado está a fazer com a construção de um novo aeroporto ou uma nova travessia no rio Tejo, sem que se olhe para o interior ou haja alguma compensação proporcional nos investimentos públicos nos territórios do interior.
“Mas, como o interior tem pouco peso para o universo eleitoral, é completamente abandonado. Mas é obrigatório cumprir a Constituição, em nome da coesão territorial”, frisou.
O MCTM lembrou que, em 2021, apresentou o Plano Estratégico para a Terra de Miranda, um documento que diz demonstrar o altíssimo potencial económico da região.
“No entanto, os municípios e o Estado português viraram as costas a esse trabalho. Preferiram a cegueira voluntária, o facilitismo do curto prazo, a ignorância arrogante e a incompetência política que hoje nos arrastam para a ruína”, denunciaram
Numa nota enviada à Lusa, são apresentadas várias preocupações, como o risco de extinção a raça bovina mirandesa (raça autóctones), símbolo vivo da região, que a qualquer momento pode ser dizimada, depois de quase duas décadas de alertas ignorados, o risco de extinção a língua Mirandesa, património único, inestimável e fator de identidade da Terra de Miranda.
Outros dos exemplos é o risco de extinção da Adega Cooperativa Ribadouro, estrutura considerada fundamental para a valorização da produção de vinho da Terra de Miranda e a salvaguarda de centenas de vinicultores dos três Concelhos (Miranda do Douro, Mogadouro e Vimioso).
Para esta situação, o MCTM garante que o Estado português tem ao seu alcance todos os instrumentos para concretizar a reforma profunda necessária e inverter “o caminho trágico que ele próprio ajudou a cavar”.
“O que falta não são recursos, mas vontade política”, sustenta o movimento.
Fonte: Lusa