Ambiente: Palombar quer desmitificar medo em relação aos animais selvagens
A associação Palombar apresentou o projeto artístico “Futuros Partilhados”, através do qual pretende desmistificar o medo proveniente das narrativas orais, sobre os animais selvagens que habitam o território transmontano.

“Muitas vezes ouvimos que são largados pelo ambientalista lobos, aves de rapina, ou até mesmo répteis para desequilibrar o meu meio ambiente e as povoações, o que não corresponde à realidade, sendo que estas narrativas carecem de alguma desconstrução através da várias artes e assim ir ao encontro das populações ”, disse Miguel Nóvoa, um dos membros da direção da Palombar que tem sede em Vimioso.
Para o promotores desta iniciativa, tudo isto “são boatos que nascem através do vizinho do lado e que se massificam, o que desequilibra as comunidades, sendo preciso reverter esta situação, porque vai aumentando o rumor de geração em geração e que se assume com o passar do tempo como uma verdade absoluta.”
Por este motivo, o projeto “Futuros Partilhados” da Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural pretende reinventar e construir narrativas sobre a natureza inspiradas na tradição oral do Nordeste Transmontano, onde os animais selvagens são os protagonistas, sem mitos ou falsidades.
“Este projeto inovador e multidisciplinar alia a arte à conservação da natureza e tem como objetivo principal recriar histórias que conectem as comunidades humanas e a vida selvagem, desconstruindo preconceitos sobre o ambientalismo, bem como mitos associados a várias espécies, enquanto promove uma compreensão profunda e não hierárquica das relações multiespécies e a proteção da biodiversidade”, explicou Miguel Nóvoa.
Este projeto-piloto é desenvolvido em parceria com a Câmara de Miranda do Douro, Santa Casa da Misericórdia e Agrupamento de Escolas local, com coordenação artística de Nuno Preto e Gonçalo Mota e conta ainda com uma equipa de artistas convidados de diferentes áreas que irão contribuir em momentos específicos do projeto.
“Em vez de comunicar de forma unidirecional e institucional, o projeto utiliza uma metodologia colaborativa na criação artística de conteúdos e performances, com foco no diálogo crítico e reflexivo com as comunidades locais, que serão envolvidas de forma ativa na perceção e reinvenção de histórias que têm como palco principal o território onde vivem”, disse
O projeto pretende, assim, capacitar jovens, empoderar comunidades e criar espaços de diálogo nessa região do interior do país marcada pelo êxodo e isolamento.
“Democratizar a arte e dar voz a quem representa o passado e o futuro e criar pontes para melhor conservar a rica biodiversidade da região, com destaque para a fauna do Parque Natural do Douro Internacional (PNDI), é outro dos objetivos”, defendeu Miguel Nóvoa.
A recriação destas narrativas, baseada numa rede colaborativa de artistas, cientistas e comunidades, será feita através de oficinas criativas multidisciplinares e irá materializar-se por meio da produção de publicações de áudio, vídeo e texto numa plataforma digital, criação teatral e cinema ambiental.
“O propósito é o de mostrar que a vida está assente em relações de benefícios mútuos, e que humanos e natureza podem e devem construir futuros partilhados, onde não há hierarquia, mas sim coexistência harmoniosa e sustentável”, vincou.
A iniciativa é financiada pelo programa PARTIS & ART FOR CHANGE da Fundação Calouste Gulbenkian, BPI e Fundação “la Caixa”, sendo que a fase piloto arrancou no concelho de Miranda do Douro e poderá estender-se até 2027 a todo o Nordeste Transmontano.

Fonte: Lusa