Alcañices: Antropologia pretende contribuir para o desenvolvimento da raia
A 24 de junho, a localidade de Alcañices, em Espanha, foi o local do encontro “Antropologia na Raia”, uma jornada de trabalho que reuniu instituições e associações, espanholas e portuguesas, com o objetivo comum de produzir conhecimento científico para o desenvolvimento dos territórios raianos ou fronteiriços.
O encontro teve lugar na sala Toriles, do Ajuntamento de Alcañices, onde participaram representantes da Universidade de Salamanca, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Universidad de Zamora (UNED), Universidade do Norte do Texas (EUA), Museu Etnográfico de Castela e Leão (Zamora), Museu da Terra de Miranda (Miranda do Douro), Plataforma en defensa de la Arquitetura Tradicional de Aliste, FRAUGA, ALCM, Palombar, AEPGA, entre outras instituições.
Na abertura da jornada de trabalho, Arsenio Dacosta, professor de Antropologia Social, na Universidade de Salamanca desafiou os participantes indicar que temas gostariam de aprofundar. Entre os assuntos mencionados foram indicados o desenvolvimento rural; a cooperação transfronteiriça; a cultura; o património natural, cultural e industrial; as estratégias turísticas; o repovoamento; a imigração; o empreendedorismo rural; entre outros temas.
“Nesta jornada de trabalho queremos também escutar as gentes que vivem na raia e registar quais são os seus problemas e anseios. Atente-se por exemplo, que em Alcañices, há novas empresas e negócios que abriram com a chegada de pessoas e famílias de imigrantes. Que impacto está a ter a imigração no mundo rural?”, exemplificou.
Questionado sobre que contributo pode dar a a antropologia para o desenvolvimentos dos territórios raianos, o professor universitário explicou que a antropologia é a ciência que estuda o ser humano e a sua evolução, nas várias vertentes social, política, cultural, etc.
“O objeto de estudo da antropologia é integral, ou seja, considera várias pespetivas. Por exemplo, se pretendo estudar o tema do trabalho transfronteiriço na raia, vou investigar a proveniência dos trabalhadores, as razões para trabalhar noutro país, as diferenças socioeconómicas entre Espanha e Portugal e também que impacto têm as diferenças culturais na vida das pessoas”, indicou.

O promotor da iniciativa, Arsénio Dacosta, adiantou que os encontros “Antropologia na Raia” poderão ter continuidade no próximo ano, noutras localidades da fronteira como são Vimioso, Fermoselle, Picote, Sayago, Mogadouro, entre outras localidades.
“O objetivo fundamental deste encontro antropológico é conhecer em profundidade este território raiano, que está situado na fronteira mais antiga da Europa. Recorde-se que o Tratado de Alcañices foi assinado da 12 de setembro de 1297 e portanto esta fronteira tem 728 anos de história. Ainda assim, creio que ainda há muito a fazer para que haja uma maior proximidade e colaboração entre os dois povos, espanhóis e portugueses”, sublinhou.
Tratado de Alcañices
Tratou-se de um acordo de definição de fronteiras que pretendia resolver vários focos de conflito entre Portugal e Castela, evitando que pequenas disputas territoriais pudessem arrastar os dois países para uma guerra de dimensões superiores. O tratado foi assinado em 1297, entre o rei de Portugal D. Dinis e o rei de Castela Fernando IV. Tratou-se, portanto, de um acordo de cedência mútua de posições fronteiriças e de reconhecimento de uma linha de separação dos territórios dos dois países.

O encontro “Antropologia na Raia, em Alcanices, também contou com a particpação do Museu da Terra de Miranda, através da diretora, Celina Pinto, que considerou esta iniciativa muito pertinente para a zona raiana.
“A Antropologia pode dar um contributo muito importante e profícuo para o desenvolvimento destes territórios da fronteira luso-espanhola. Recentemente, os Museus da Terra de Miranda e o Museu Etnográfico de Castela e Leão em Zamora, realizaram, em conjunto, o projeto Internacional Termus – Territórios Musicais que foi um sucesso. Por isso, acredito que esta cooperação transfronteiriça, na área da antropologia, também será bem-sucedida”, disse.
Por sua vez, Xerardo Pereiro, professor de Antropologia, no antigo polo da UTAD, em Miranda do Douro, referiu que este encontro deve-se, simultaneamente, ao interesse pela investigação científica e à ligação afetiva a este território raiano.
«A UTAD é uma instituição comprometida com a região de Trás-os-Montes. O objetivo deste encontro “Antropologia na Raia” visa preparar a organização de uma universidade de verão, no próximo ano, dedicado aos problemas que existem nestes territórios transfronteiriços”, informou.
Segundo o docente universitário, este trabalho vai ser realizado em conjunto com as instituições locais e as populações, através de um método participativo, para pensar o presente e o futuro destes territórios, de modo a promover a cooperação e um desenvolvimento planificado.
“Nos territórios raianos, os problemas já estão sobejamente identificados como são a necessidade do repovoamento, o acolhimento e a integração de imigrantes, a modernização do mundo rural, o empreendedorismo e criação de trabalho, a fixação de jovens, o cuidado e o contributo das pessoas idosas”, indicou.
Sobre o contributo da Antropologia, Xerardo Pereiro, destacou a perspectiva humana. De acordo com o docente, a investigação antropológica permite analisar os problemas da perspectiva das pessoas, o que favorece a eficácia das políticas, com o devido planeamento e organização das ações.

HA